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O que se sabe sobre a tragédia na creche de Janaúba-MG

Vigia ateou fogo em crianças e nele mesmo. Foram confirmadas onze mortes

POR:
Caroline Monteiro
Foto: ALEX DE JESUS/AFP/Getty Images

Atualizada em 9 de outubro às 10:32

Na manhã de quinta, 5 de outubro, o Corpo de Bombeiros de Janaúba, cidade no norte de Minas Gerais, foi acionado para controlar um incêndio no Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente. Rapidamente, a história foi ganhando contornos trágicos: um funcionário teria ateado fogo em crianças e educadores, deixando alguns mortos e vários feridos. A notícia chocou a todos, mas teve impacto particularmente forte no meio da Educação.

Como o caso é recente, há muitas versões conflitantes e boatos. NOVA ESCOLA está em contato com pessoas envolvidas na investigação e traz abaixo o que já há confirmado sobre essa tragédia no interior mineiro.

Obs.: Atualizaremos esta reportagem, incluindo outras respostas, assim que as investigações avançarem e levantarem novos fatos.

O que aconteceu?

A versão da PM — que toma como base testemunhas do caso — é que um vigilante noturno da creche chegou de manhã para conversar com a diretora. Quando a diretora abriu o portão, o homem de 50 anos jogou gasolina e ateou fogo nas pessoas próximas (em sua maioria crianças) e nele mesmo. O vigia foi internado em estado grave, mas não resistiu e morreu.

O Corpo de Bombeiros recebeu a chamada às 9h40. As vítimas foram levadas de imediato para os hospitais locais e helicópteros da Polícia Militar também ajudaram o resgate. À tarde, as autoridades transferiam as vítimas mais graves para o hospital João 23, em Belo Horizonte, unidade referência em atendimento a queimaduras, e para a Santa Casa de Montes Claros. 

Há quantas vítimas?

Já foram registradas 11 mortes. Até a noite de quinta, cinco crianças morreram vítimas do fogo, além do agressor e de uma professora, Heley Abreu. Na tarde de sexta, foram confirmadas as mortes de mais duas alunas que haviam sido transferidos para um hospital em Montes Claros. No sábado e na manhã desta segunda, outros dois alunos faleceram. Ainda há crianças e adultos internados em estado grave. De acordo com o Corpo de Bombeiros, 40 pessoas chegaram a ser internadas, algumas em estado de choque. No sábado, em Janaúba, 18 crianças receberam alta.

A professora Heley teve 90% do corpo queimado. Testemunhas afirmam que ela ficou gravemente ferida pois tentou impedir o vigia de continuar a ação e socorreu dezenas de crianças que estavam na sala do incêndio. A professora foi resgatada com vida, mas morreu no hospital, na noite de quinta-feira. 

Qual a suspeita de motivação do vigia?

Em coletiva de imprensa dada nesta sexta, o prefeito de Janaúba esclareceu que o funcionário estava de férias há três meses, quando retornou às suas funções na segunda-feira. Ele fazia o turno da noite, em regime de 12 horas por 36. O vigia deveria ter trabalhado na noite de quarta, mas não apareceu na escola. Na manhã de quinta, chegou à creche dizendo que iria dar um atestado médico à diretora e que tinha picolés para distribuir às crianças.

O prefeito afirmou que era impossível prever as ações do vigia, porque ele nunca tinha demonstrado nenhum comportamento suspeito e nem tinha contato com as crianças. O delegado Ricardo Nunes Henriques disse que o vigia sofria com delírios de perseguição. Ele já havia denunciado que sua mãe o envenenava, mas, depois de investigar, o Ministério Público concluiu que não passava de inventação e sugeriu que fosse encaminhado ao Centro de Atenção Psicossocial (Caps). No entanto, o funcionário nunca procurou tratamento, segundo as autoridades.

Apesar do registro de possíveis problemas psicológicos, os investigadores não veem ligação entre uma atitude e outra. "O ato dele foi preparado, premeditado. No momento da ação, ele tinha plenamente o caráter dele. Tinha plena consciência do ato que estava comentendo. Ele se preparou para fazer aquilo. Ele não estava surtado. Infelizmente é a mente humana, mas não seria possível evitar esse fato”, disse o delegado.

Foram encontrados galões de combustível na casa do funcionário da escola e, segundo a polícia, eles foram comprados três dias antes. A data do ataque coincide com o aniversário de três anos de morte do pai do vigia. As investigações também apuraram que o homem era "obcecado por crianças", segundo nota oficial do órgão.

O comportamento foi caracterizado como obsessão porque, de acordo com a policial Nathalia Rajão, o agressor escrevia textos que falava sobre crianças, tinha fotos e dissertava sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. "Não encontramos nada obsceno ou pejorativo."

O que as autoridades disseram?

Em reunião, a Promotoria de Justiça pediu o remanejamento das crianças sobreviventes para outra creche municipal.

A Prefeitura de Janaúba decretou luto de sete dias pela tragédia na creche. A nota oficial informa que a "Administração Municipal manifesta profunda preocupação com o lamentável episódio e direcionou todos os seus esforços para atender os envolvidos e amenizar, de alguma forma, a dor que acomete a todos. Foram mobilizados todos os hospitais, equipes de saúde, Prefeituras da região da Serra Geral e de outros Municípios, Policia Militar, Civil e equipes do Governo de Minas Gerais. Estamos tomando todas as medidas que nos cabem para prestar o melhor atendimento às vítimas e tentar atenuar as consequências do lastimável evento".

Em sua página no Facebook, a prefeitura pede doações de sangue, de roupas e de insumos para os hospitais que atendem às vítimas.

O Governador de Minas Gerias, Fernando Pimentel, decretou três dias de luto oficial no Estado e afirmou nas redes sociais que já está em Janaúba.

O presidente Michel Temer também lamentou e se manifestou no Twitter:

É possível ajudar?

Sim. Foi criada uma conta em nome da creche para receber doações. Quem quiser colaborar, pode fazer depósitos ou transferências:

Favorecido: SOS Creche Gente Inocente
Banco do Brasil
Agência: 0935-0
Conta corrente: 600-9
CNPJ: 15.462.027/0001-73

Atenção: esta é a única conta oficial para doações. Na internet, já surgem dados falsos como tentativa de golpe.

Em Belo Horizonte, o Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas) está recebendo doações para os familiares das crianças que estão internadas no Hospital João 23. Os voluntários podem doar água mineral, alimentos, lanche, material de limpeza e de higiene pessoal e roupas de cama. As doações poderão ser encaminhadas para a sede do Servas na Av. Cristóvão Colombo, 683, Funcionários, Belo Horizonte-MG. 

A Arquidiocese da capital mineira também aceita ajuda e lançou a campanha "Todos por Janaúba". Os donativos podem ser entregues na rua Além Paraíba, 208, Lagoinha. Mais informações nos telefones (31) 3422-7141 ou (31) 3422-6122.

Em Janaúba, a Secretaria Municipal de Promoção Social, na rua Américo Soares, 760, Centro, também recebe doações.

As secretarias municipais estão focadas em atender com equipes de psicólogs e assistentes sociais às famílias das vítimas e também os funcionários, professores e outros alunos da creche que vivem o trauma de perto. 

Onde encontrar mais informações?

NOVA ESCOLA selecionou as principais reportagens sobre o assunto:

"'Ele não estava surtado', diz delegado sobre vigia que matou crianças queimadas em Janaúba", do Estado de Minas.

"A professora que mesmo em chamas tentava salvar as crianças de Janaúba", do Huffpost Brasil.

"Crianças mortas em incêndio em MG: Como encarar atos de insanidade?", do Blog do Sakamoto.

"'O homem correu atrás de nós cheio de fogo'; veja relatos de sobreviventes da tragédia em Janaúba", do G1 Grande Minas.

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