Rotular a inclusão
Transformar as características dos alunos com deficiência em apelido revela a dificuldade da equipe gestora em se relacionar com eles
POR: Karina PadialAo receber a visita da supervisora ou de alguém da comunidade, a diretora convida a pessoa a conhecer o "aluninho autista". Uma professora pede a uma assistente que ajude o "down" a realizar uma tarefa em sala. Expressões como essas, vez ou outra, são ouvidas nas escolas, mostrando que alguns gestores e docentes ainda se referem de forma equivocada às crianças com deficiência.
O uso de rótulos que expõem as características pessoais, ao ser validado por um adulto, corre o risco de ser reproduzido pelos outros estudantes e trazer muitos problemas a quem tem qualquer tipo de necessidade educacional especial. "Tratar e nomear a criança pela sua deficiência é inadequado, pois ela pode desenvolver um sentimento de não pertencimento ao grupo e uma sensação de incapacidade", afirma Maria de Fátima Lukjanenko, especialista em relações humanas no ambiente escolar e secretária municipal de Educação de Itatiba, a 84 quilômetros de São Paulo. A tendência é que o estudante, ao ser estigmatizado, incorpore o juízo de valor que os outros fazem dele e passe a agir de acordo com suas limitações ou com o que se espera dele, deixando de desenvolver suas potencialidades. O uso do diminutivo, diferentemente do que se pensa, não ameniza a fala discriminatória.
Formas de tratamento como as citadas no início deste texto, assim como o emprego de outras expressões - como crianças especiais -, expõem a dificuldade de os educadores focarem a atenção na pessoa. O alerta é feito por Daniela Alonso, psicopedagoga especialista em inclusão e selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10. "Anunciar publicamente a deficiência do estudante sugere que ele é incapaz de acompanhar a turma regular e é uma maneira de a escola se eximir da responsabilidade de ensiná-lo, quando deveria se comprometer em buscar formas diferentes e eficazes de fazer com que todos aprendam e deem o melhor de si", destaca Jane Haddad, psicopedagoga e mestre em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).
Para evitar os rótulos e combatê-los, é preciso buscar esclarecimento em relação às necessidades desses alunos e ao modo como eles aprendem. Tão importante quanto isso é conhecer cada um, identificando, entre outras coisas, as possibilidades e a maneira como o estudante se relaciona com os colegas e com os professores. Na EMEB Helena Zanfelici da Silva, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, as discussões sobre inclusão são rotina nos encontros pedagógicos e ainda há a preocupação de levar o tema para as reuniões de formação dos funcionários. "Dividir as informações com eles é fundamental para construir a cultura do respeito às diferenças em toda a escola", diz a diretora, Maria do Carmo Tessaroto.
Ilustração: Sergio Magno