Sala de recursos: múltipla e acessível
O local deve ser preparado para receber alunos com diferentes necessidades educacionais especiais e permitir interação entre eles
POR: Daniele PechiA heterogeneidade tão presente em toda sala de aula também se aplica aos estudantes com deficiência. Cada um deles possui potencialidades e necessidades específicas de aprendizagem e precisa contar com o Atendimento Educacional Especializado (AEE) no contraturno, em uma sala de recursos que permita a eles se desenvolverem plenamente.
A da EMEB Helena Zanfelici da Silva, em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, recebe quatro alunos com deficiência intelectual no período da tarde. A professora Maria Antonia Gazinhato é responsável por colaborar com o desenvolvimento da autonomia dos estudantes. "Não se trata de uma sala de recuperação. É um espaço em que trabalhamos habilidades que possam ajudar no dia a dia da escola, contribuindo para a aprendizagem. Para isso, é muito importante que a criança ou o jovem faça suas próprias escolhas e se sinta seguro para dar opiniões", explica.
Além do acervo pedagógico, as adequações arquitetônicas e a aquisição de móveis são parte importante do processo de construção de um sistema de Educação inclusivo. "O mobiliário deve ser preparado para receber todos e oferecer condições favoráveis para a troca de informações e a interação dos estudantes que utilizam o espaço, considerando a diversidade e as variadas formas de comunicação, de expressão e as condições física e intelectual deles", afirma Luiz Henrique de Paula Conceição, coordenador do programa de formação em Educação inclusiva do Instituto Rodrigo Mendes, em São Paulo. A sala de recursos, portanto, não pode estar em um canto improvisado e deve ser adaptada ou complementada de acordo com os alunos que a escola recebe. Não precisa também ser necessariamente no térreo, afinal a acessibilidade deve estar em todos os espaços.
Apoio para investir
Para garantir essas características e permitir o convívio entre todos os alunos da instituição, os gestores precisam de recursos. Uma maneira de consegui-los é por meio da apresentação das demandas no Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE Escola), que disponibiliza verbas por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE). Os programas do Ministério da Educação (MEC) disponíveis são: Escola Acessível, de implantação de salas de recursos multifuncionais, Transporte Escolar Acessível, Formação de Professores em Educação Especial, Livro Acessível e Prolibras.
Há pouco mais de três anos, a diretora Silvana Rodrigues Aragão, da EMEF José Dantas Sobrinho, em Maracanaú, região metropolitana de Fortaleza, conseguiu verba suficiente para tornar a instituição inclusiva. Além da consultoria de engenheiros que mapearam todas as alterações estruturais que deveriam ser feitas, a escola recebeu duas professoras para o atendimento especializado, três cuidadores para os estudantes que não possuem autonomia de locomoção e intérpretes de libras (língua brasileira de sinais) para os três turnos. "Hoje, temos 15 alunos incluídos, 13 deles estudam aqui e outros dois veem de outras instituições apenas para o AEE", conta Silvana.
Rampas, pisos táteis e portas adaptadas garantem a circulação por todos os espaços. A sala de recursos da instituição conta com muitos instrumentos de tecnologia assistiva, tais como computadores com teclado colmeia, acionadores, planos inclinados e materiais pedagógicos que contemplam as diversas necessidades educacionais especiais (NEE).
Mas, para que a instituição seja inclusiva de fato, não basta infraestrutura. É necessário oferecer a preparação adequada aos professores, tanto aos que trabalham em salas regulares como aos que atenderão na sala de recursos. Segundo o último Censo Escolar, só 6% dos mais de 2 milhões de docentes da Educação Básica têm formação continuada em Educação inclusiva. "Um coordenador pedagógico precisa, antes de tudo, encorajar os educadores a tentar desenvolver estratégias para trabalhar com alunos com NEE e reafirmar os saberes que eles possuem", afirma Maria da Paz de Castro Pereira, coordenadora de área de inclusão da Escola da Vila, em São Paulo. "O contato entre os profissionais que estão na sala regular e na de recursos deve ser permanente, pois eles precisam fazer um planejamento conjunto e o acompanhamento das evoluções das aprendizagens", explica.
Ilustração: Bruno Algarve