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What they are saying about the Olympics

Atenção da imprensa internacional é ótima oportunidade para abordar o gênero notícia

POR:
Rodrigo Ratier, Paula Peres e Carla de Franco
 
Foto: Buda Mendes/Getty Images

Durante os Jogos Olímpicos, os olhos, os microfones e os bloquinhos de nota da imprensa internacional estarão voltados para o Brasil. O comitê organizador das competições trabalha com a expectativa de 20 mil jornalistas credenciados, boa parte estrangeiros. Como muito conteúdo vai ser produzido em inglês ou espanhol, está aí uma ótima oportunidade de trabalhar a língua estrangeira em uma situação real de uso, nas notícias sobre as Olimpíadas.

A ideia é abordar as notícias como gênero, o que significa familiarizar a moçada com a função e as características discursivas desse tipo de produção. "Nessa proposta de trabalho, o melhor é preparar uma sequência de leituras. Isso facilita a tarefa da turma de se acostumar com o estilo do texto e se apropriar de sua análise", comenta Celina Fernandes, consultora de NOVA ESCOLA para Língua Estrangeira e orientadora educacional do Colégio Equipe, em São Paulo.

Opções não faltam. O próprio site da Rio 2016 é um bom lugar para buscar textos sobre as Olimpíadas em inglês ou espanhol. Foi o caminho escolhido por Celina para elaborar o passo a passo desta matéria, baseada na notícia Forget football... Brazil goes mad for hockey at Rio 2016 Olympic test event. A versão comentada é da reportagem em inglês, mas o trabalho pode ser em espanhol.

 

1. Avalie o que a turma sabe (mesmo) de inglês

A profusão de reportagens disponíveis levanta uma pergunta típica dos nossos tempos de enxurrada de informações: qual texto escolher? A resposta começa com um olhar para a sala de aula. Sandra Durazzo, diretora da Target Idiomas, sugere um procedimento simples. "Com um texto em mãos, reflita: o que os alunos vão conseguir reconhecer nesta reportagem, seja porque faz parte do vocabulário que eles já têm, seja porque aparecem palavras cognatas, que possuem grafia parecida com o português?" Se o nível da turma for suficiente para interagir com o texto, a escolha é adequada. isso não significa que a garotada precisa entender 100% da notícia logo de cara. É necessário que os alunos se sintam desafiados. "O professor deve analisar se os estudantes vão conseguir inferir o que não sabem a partir do grau de conhecimento que têm da língua", completa Sandra. É sempre possível, ainda, repertoriar a turma com a leitura de um conjunto de reportagens sobre o assunto escolhido (como nos trechos selecionados) antes de iniciar o trabalho de interpretação.

 

2. Saiba se a moçada conhece o assunto

Fotos Rio 2016/ Alexandre Loureiro

Outro fator que deve ser levado em conta antes da escolha e no momento da leitura é o conteúdo da notícia. Textos sobre esportes ou tecnologia podem contribuir nesse aspecto. Além de serem temas familiares aos adolescentes, eles costumam apresentar palavras cujo significado em português é semelhante ou idêntico ao inglês. "Nesses casos, as dificuldades dos alunos ficarão restritas à língua e serão menores quanto ao tema", diz Celina. Em geral, reportagens sobre as Olimpíadas falam de atletas, resultados de jogos, fazem referências a eventos anteriores e à história dos Jogos Olímpicos. É um assunto que não costuma trazer problema. De todo modo, é sempre bom fazer uma sondagem para confirmar se sua percepção está correta. A opção por um esporte pouco popular - como o caso do hóquei, selecionado por Celina - torna essa etapa indispensável. "Na notícia que escolhi, o texto falava mais do evento-teste e da disputa do campeonato do que propriamente das regras do esporte. Por isso, considerei válido manter a seleção", justifica.

 

3. Identifique palavras-chave 

Ao ler em língua estrangeira, há gente que acredita ser necessário atribuir sentido a todas as palavras para compreender um texto. Colabore para desconstruir essa ideia equivocada. "Muitas vezes, não conseguimos entender todas as palavras nem quando lemos em português", comenta Celina. "É fundamental que o professor faça esse alerta à turma e mostre que se pode tentar inferir o sentido de um texto por meio de seu contexto." A identificação de palavras-chave é ponto central nesse procedimento. No exemplo da notícia de Celina, isso pode ser feito já na manchete. Pergunte aos alunos o que eles conseguem entender do título da notícia (abaixo). Se a turma não conseguir captá-lo por inteiro - o que é esperado -, estimule a leitura de palavras-chave: football, Brazil, hockey e Olympic. Indague: "o que uma reportagem com esse título vai apresentar?". Leia o subtítulo e questione quem ganhou os troféus do evento-teste. Se os alunos recorrerem às imagens para responder - estratégia de inferência bastante válida -, pergunte sobre a palavra hosts. Depois da pesquisa no dicionário, indague: "Quem são os anfitriões do evento? E quem ganhou os campeonatos?".

 

4. Guie a classe com uma leitura conjunta

Ao compartilhar a leitura do texto com a turma, você transmite segurança aos alunos, retirando deles a pressão da pronúncia correta em voz alta e ajudando-os a permanecer no foco da atividade: a busca de informações e dos sentidos da reportagem. Durante a leitura conjunta, é fundamental elaborar perguntas que guiem o entendimento dos alunos. "Além de pedir a identificação de informações, você pode questionar interpretações e demandar comparações de opiniões sobre o que trata o texto", diz Eva Barros, professora de Língua Estrangeira da Escola Santi, em São Paulo. Para aprofundar a interpretação, uma sugestão é repetir esse procedimento parágrafo por parágrafo. No exemplo de Celina, vale uma orientação especial para a parte da notícia que aborda o voluntariado. Peça para a turma identificar por que o período está entre aspas, quem está dizendo aquilo e o que essa pessoa é. Sua intervenção auxiliará a garotada a perceber a inserção das chamadas "fontes", personagens com alguma conexão com o assunto tratado que são convocados para dar um testemunho, emitir uma opinião ou fornecer uma explicação.

 

5. Reflita sobre o gênero

Na última etapa, a ideia é jogar luz sobre as marcas discursivas do gênero notícia. A turma deve perceber como elas influem na organização do assunto abordado, na quantidade de informações sobre cada tópico e, de uma forma mais ampla, no entendimento do texto como um todo. No caso das notícias, é importante destacar a chamada "pirâmide invertida", analogia jornalística para indicar que a informação principal (a "base" da pirâmide) ocupa mais espaço que os dados secundários (a "ponta") e vem antes na ordenação do texto (por isso é "invertida"). Com os sentidos gerais e específicos do texto já bem debatidos, leve os adolescentes a perceber essa estrutura: qual a informação principal? Onde ela está presente? Os alunos devem concluir que o desenrolar do evento-teste é o primordial. Por isso, ele aparece nos primeiros parágrafos (o "abre") e também no título. Prossiga explorando as demais informações do mesmo modo. os resultados no quarto parágrafo e a fala do voluntário no meio do texto sinalizam a opção do autor de focalizar o evento.

Fotos Rio 2016/ Alexandre Loureiro