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Rio: quando a guerra entra na escola

POR:
Douglas Gavras, Pedro Annunciato e Rafael Castro

"Os tiros estavam fazendo todo mundo ficar com medo." Foi o que escreveu um aluno no mural de uma escola da Rocinha. Na Penha, em uma creche, a hora da merenda foi interrompida por um tiroteio na vizinhança. Em Acari, uma adolescente de 13 anos morreu de bala perdida durante a aula de Educação Física.

Em 2017, o terror invadiu as escolas públicas do Rio de Janeiro. Centenas de vezes. Desde o início do ano letivo, em 2 de fevereiro, 439 das 1.537 unidades da rede municipal fecharam ao menos uma vez por causa da violência, segundo dados da prefeitura (veja outros números abaixo).

Os indicadores também mostram como a violência expulsa os estudantes das suas escolas. Uma delas, no complexo de favelas da Maré, onde houve episódios de intenso tiroteio, perdeu 152 alunos - quase um terço do total de 623 que estudavam na instituição até 2016.

E não é só. "Quanto mais novo o aluno, maiores são os efeitos psicológicos perversos da violência, como a falta de concentração e a dificuldade em absorver informações", diz Bárbara Barbosa, pesquisadora da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV).

"Já é possível comparar efeitos relacionados ao entorno com a situação de países em guerra", avalia Rebeca Otero, coordenadora de Educação da Unesco. Os números mostram que o Rio não está no nível de países como a Nigéria, onde o grupo terrorista Boko Haram fechou 1.500 escolas, e a Síria, em que 63% das crianças e jovens abandonaram as salas de aula em 2015, em meio ao conflito. Porém, as consequências para o aprendizado dos alunos são as mesmas.

Imagens: RAFAEL NUNES; Gráficos: RAFAEL CASTRO e GETTY IMAGES