Este plano propõe a análise e o reconhecimento por parte dos estudantes dos possíveis espaços disponíveis na escola enquanto locais para se movimentar por meio do brincar. Dessa forma, os estudantes vão analisar as brincadeiras e suas características concomitante à descoberta dos tempos e espaços a serem explorados para o brincar.
As brincadeiras do contexto comunitário fazem parte do repertório cultural das crianças e são transmitidas por gerações. Também são conhecidas como brincadeiras populares ou de rua e fazem parte do repertório das crianças e da lembrança dos adultos. Elas são importantes para a manutenção de características de uma determinada região, comunidade ou grupo de pessoas, e apresentam algumas diferenças em cada localidade onde estão inseridas.
As brincadeiras realizadas na escola, geralmente, surgiram na cultura popular e apresentam características gerais das brincadeiras, como não possuírem regras fixas, de maneira que estas podem ser criadas ou modificadas pelos praticantes. Essas práticas também são adaptadas conforme a realidade das escolas e de seus espaços, materiais, e, principalmente, da importância dada ao momento do brincar pela equipe escolar. Infelizmente, os tempos e espaços destinados ao brincar são reduzidos e insuficientes no período em que a criança está na escola, muitas vezes, pautados pelo discurso de que nesses momentos as crianças se machucam, fazem barulho ou dão trabalho. Infelizmente, existem muitas escolas que não valorizam a importância do brincar, cerceando a socialização, a ampliação do repertório cultural, a autonomia e o desenvolvimento integral dos estudantes.
Os materiais alternativos para a realização de brincadeiras
Os estudantes na escola podem utilizar os mais variados materiais para compor suas brincadeiras: objetos e materiais apropriados, oferecidos pela escola, materiais alternativos (o que também favorece no desenvolvimento da criatividade), brinquedos levados pela criança para a escola. Independente da forma ou do material utilizado, salientamos a importância da valorização dos tempos e espaços destinados ao brincar dentro da escola, como garantia de direito dos estudantes, previsto na legislação brasileira.
As habilidades motoras e as capacidades físicas presentes no brincar
Além da dimensão cultural e social que o brincar possibilita, ele também contribui para a aquisição de habilidades motoras básicas, favorecendo o desenvolvimento integral do estudante em amplo aspecto. As habilidades motoras, também chamadas de habilidades fundamentais, são os principais alicerces para o desenvolvimento das habilidades esportivas específicas e dos movimentos mais complexos, que serão utilizados por toda a vida, como, por exemplo, chutar, lançar, rolar, andar, correr, saltar, escalar, desviar, equilibra-se e girar (GALLAHUE; OZMUN, 2003).
Além das habilidades motoras, as capacidades físicas também são trabalhadas nas brincadeiras, sendo qualidades próprias de cada indivíduo, que podem ser aprimoradas, integrando o desenvolvimento motor e as habilidades motoras. De acordo com Barbanti (2003), as capacidades físicas são atributos treináveis de uma pessoa para movimentar-se, com potencial a ser explorado e aprimorado para a realização de diversos movimentos, com resistência, força, flexibilidade, agilidade e velocidade, entre outros.
Os tempos e espaços escolares para brincar
A escola é uma instituição cuja finalidade privilegiou durante muito tempo a dimensão conceitual dos conhecimentos. Assim, toda outra forma de conhecimento, como os caracterizados pela dimensão procedimental, foram considerados menos importantes durante um bom tempo na história da educação. A sala de aula ficou representada como um espaço da estrutura física da escola onde essa aprendizagem se concretizasse. Hoje sabemos que, para além da sala de aula, os demais espaços e tempos escolares podem ser reconhecidos como construtores de momentos de aprendizagens. Todos momentos e espaços permeiam situações interessantes que podem ser transformadas em aprendizagens significativas para os estudantes levarem para a vida conhecimentos importantes. O pátio, o refeitório, os banheiros, a sala de informática, a biblioteca, os espaços abertos, como a quadra ou até mesmo os corredores, são espaços para aprendizagem e os estudantes aprendem a movimentar-se de forma conscientes neles, saber, por exemplo, que no corredor não devemos correr ou apostar corrida para evitar acidentes e, inclusive, analisar espaços e momentos oportunos para brincar etc.
Dessa forma, o papel do(a) professor(a) nesse processo é essencial para dar sentido e significado ao conhecimento, possibilitando os estudantes estudarem na teoria e na prática sobre o brincar com atividades motivadoras dirigidas, e, assim, entenderem e descobrirem momentos e espaços da escola onde poderão se envolver nas brincadeiras.
Para a realização das brincadeiras praticadas na escola, devem ser observados os espaços, os momentos, as ações e as características dessas práticas, propondo mudanças e intervenções tanto no espaço onde as brincadeiras são realizadas, quanto na organização delas enquanto manifestações culturais, possibilitando a participação de todos e as adaptações necessárias. Ainda, sugira aos estudantes identificar e recorrer à garantia dos direitos, como o direito ao brincar, previsto pela legislação educacional brasileira desde a primeiríssima infância, propondo como eixos norteadores das práticas educativas as interações e a brincadeira.
De acordo com Beckemkamp et al. (2011, p. 1), as brincadeiras que predominam durante o recreio dos escolares, são atividades simples, sem muitas regras e que não necessitem de materiais ou grandes espaços. A tradicional brincadeira de pega-pega ocupou lugar de destaque entre as preferidas, durante o recreio escolar”. Também os autores comentam que, durante o recreio, meninas e meninos têm suas preferências na escolha dos companheiros para as atividades, ou seja, as meninas, em sua maioria, preferem brincar com outras meninas, assim como os meninos preferem brincar com outros meninos. Isso ocorre talvez pelo fato de muitas atividades e brincadeiras estarem estereotipadas como sendo brincadeiras exclusivas de meninos ou de meninas.
Os autores ainda salientam que as “aulas de Educação Física devem proporcionar ao aluno atividades que permitam o seu desenvolvimento de forma integral, promovendo o enriquecimento motor da criança, seu desenvolvimento cognitivo e a socialização entre os estudantes” (2011, p. 1). Todavia, mais importante a ser levado em conta no planejamento das aulas, é levar aos estudantes atividades prazerosas, em que possam obter sucesso durante a prática, e que, infelizmente, muitas vezes, não são praticadas durante as aulas de Educação Física, nos demais momentos livres da vida escolar.
Dessa maneira, com um maior enriquecimento de seu repertório cultural, os estudantes teriam mais atividades a sua disposição durante os espaços e tempos na escola, ou nos momentos de intervalo e recreio. “Ideias, como proporcionar materiais aos estudantes e estratégias de intervenção durante o recreio dos escolares seriam ações que poderiam enriquecer as atividades desenvolvidas durante este período” (BECKEMKAMP et al., 2011, p. 1).
Para colaborar com essa reflexão e dar subsídios para as aulas, sugerimos que assista ao vídeo a seguir, que é uma reportagem do Jornal da Gazeta sobre o recreio monitorado. Escolas de São Paulo adotam o chamado recreio monitorado - um roteiro de atividade proposto para o que seria o tempo livre das crianças. Para uns, é uma forma de aumentar os momentos de aprendizado. Para outros, o método sufoca a criatividade infantil. No cardápio, as antigas brincadeiras de corda, corre-cotia e amarelinha.
Sugerimos, nesta sequência de aulas, que os estudantes identifiquem, no contexto escolar, as brincadeiras que podem ser praticadas na escola, observando o espaço, as ações e características dessas práticas, propondo mudanças e intervenções tanto no espaço onde as brincadeiras são realizadas, quanto na organização delas enquanto manifestações culturais, possibilitando a participação de todos e as adaptações necessárias. Para saber mais, indicamos o vídeo “Caramba, carambola, o brincar tá na escola”:
O recreio é um momento mágico, onde o brincar se manifesta quase que espontaneamente, porém não o único. Assim, é importante que os estudantes reconheçam outros tempos e espaços em que as brincadeiras possam também se manifestar. Mobilize os estudantes a reconhecerem esses outros espaços e momentos.
Bibliografia
BARBANTI, V. J. Dicionário de Educação Física e Esporte. 2. ed. São Paulo: Manole, 2003.
BECKEMKAMP, D.; TORNQUIST, L.; BURGOS, M. S. Brincadeiras praticadas no recreio escolar e nas horas de lazer.EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, ano 16, nº 156, maio de 2011. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/>. Acesso em: 19 out. 2021.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Editora Phorte, 2003.
Aula
Materiais sugeridos
Folhas de cartolinas (uma para cada grupo).
Materiais alternativos (potes com tampas, panelas, garrafas pet, rolo de papel higiênico, barbantes, utensílios domésticos em desuso etc.).
Brinquedos de montar, empilhar.
Aqui trazemos algumas sugestões de materiais. De acordo com a sua realidade, utilize materiais similares, alternativos ou adaptados para a prática.
Conversa inicial
Inicie a conversa apresentando aos estudantes os objetivos desta aula e comentando que irão refletir sobre o brincar na escola. Elabore previamente algumas perguntas que levem os estudantes a fazerem a reflexão sobre o uso e a apropriação da escola como um ambiente de convívio social. Investigue quais brincadeiras podem ser realizadas na escola, como, por exemplo: Em quais momentos vocês brincam na escola? Onde brincam e com quem? Quais materiais ou brinquedos utilizam? Quais brincadeiras realizam? Quais movimentos e características necessitam para praticar estas brincadeiras?
Fique atento se a comunicação oral é efetiva para todos os estudantes ou se é necessário utilizar suporte visual e outros, tanto para a compreensão das perguntas disparadoras, quanto para permitir que os estudantes, mesmo os mais tímidos, não fluentes ou não oralizados em português, possam participar ativamente da conversa, estimulando e valorizando o pertencimento de todos.
Questione os estudantes sobre a hora do recreio, o que gostam de fazer e como se sentem nesse momento. Deixe que falem voluntariamente.
Por meio de jogos simbólicos e combinados com a turma, como, por exemplo, algum objeto (um urso de pelúcia, um mascotinho da turma, um chapéu, colar divertido) que quem estiver com ele na mão tem a vez de falar, pode-se usar como estratégia para que os estudantes falem e sejam ouvidos com clareza. Esse recurso permitirá aos estudantes que falem e sejam ouvidos por todos. Perceba quem possui restrições, seja por medo, alguma barreira na comunicação ou impedimento, e faça intervenções necessárias, dando dicas e incentivando os estudantes a se expressarem da maneira que for conveniente para eles. Também incentive-os a colaborar com os colegas.
Ouça atentamente os estudantes, pois, a partir da fala deles, você irá nortear as suas próximas ações pedagógicas nesta sequência didática. Faça apontamentos e anotações das respostas e dos comentários dos estudantes em seu caderno, que serão retomados mais tarde.
Comente com os estudantes que irão realizar nesta aula algumas propostas de brincadeiras e também irão recriar as próprias brincadeiras, que poderão ser utilizadas nos momentos de brincar livre na escola.