A geometria na tela de Van Gogh
Ao analisar a imagem que mostra o quarto do pintor holandês, a turma vai perceber como ele usou a profundidade e a perspectiva em sua obra
POR: Paulo AraújoJunto com a edição nº 173 (junho de 2004) de NOVA ESCOLA você recebeu a reprodução da tela O Quarto de Van Gogh em Arles, do pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890). A pintura, na qual o artista retrata o seu lugar de descanso, tem detalhes inquietantes: o chão parece inclinado, quadros estão distantes da parede e móveis dispostos fora de lugar.
Será que houve algum erro? Absolutamente! Depois da luz que é o elemento tido pelo próprio pintor como o grande personagem da tela , são as linhas geométricas que formam o cenário do quarto e a noção de perspectiva que fazem dessa uma das obras de arte mais famosas de todos os tempos.
Que tal usar o cartaz para falar sobre a relação entre arte e geometria? Afinal, os "defeitos" do desenho têm significado e isso instigará a curiosidade da garotada. As sugestões abaixo, para 3ª e 4ª séries, foram elaboradas por Kátia Smole, do Mathema Grupo de Estudo e Pesquisa em Matemática, de São Paulo, e aplicadas a pedido da reportagem pela professora Fernanda Felippe, do Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, de Campinas (SP).
Primeiro contato
Atenta, Kathleen Barretti, 9 anos,
analisa o quarto de Van Gogh
antes de redesenhá-lo sob
diferentes ângulos.
Foto: Daniel Aratangy
Apresente a obra à garotada. Deixe que os alunos teçam comentários e depois faça alguns questionamentos. Quais as formas geométricas mais evidentes? Qual a cor predominante? O que podemos dizer sobre a ambientação do quarto? O que parece fora do lugar?
Em seguida, pergunte à turma em que posição. De frente? De uma das laterais? De um canto? , o mestre holandês ficou para desenhar esta cena. "De frente, porque a ponta da cama está maior do que a cabeceira", opinaram alguns alunos de 3ª série da professora Fernanda.
Novos pontos de vista
Fale sobre a posição dos objetos e instigue a curiosidade da criançada. Como ficaria a tela se Van Gogh tivesse optado por desenhá-la de cima, da janela ou de lado? Ouça as respostas, distribua folhas de papel ofício para grupos de quatro alunos e incentive-os a redesenhar o quadro sob o ponto de vista de quem ocupasse essas supostas posições.
Concluída a tarefa, organize uma exposição dos trabalhos e promova uma análise das diferentes representações. Quais as características que marcam mais cada ângulo retratado? Surgiu algum detalhe do quarto que não está desenhado na tela original? Por quê?
Um outro cenário
Proponha um novo desafio à turma: desenhar um canto da sala de aula a partir de ângulos variados. Fernanda escolheu um espaço em que se viam uma porta, uma cadeira e um cesto. Explique o conceito de profundidade por meio de exemplos simples.
"A porta e a parede estão localizadas mais ao fundo, enquanto a cadeira e o cesto estão mais à frente", sugere a professora. Essa tarefa certamente será mais fácil do que a anterior, já que os alunos estão dentro do cenário. Ela explica que, por causa disso, dificilmente as crianças vão imaginar que os objetos são figuras coladas na parede.
Noção de profundidade
Concluídas as atividades, exiba novamente o cartaz. Peça que os alunos concentrem o olhar nas cadeiras e façam comparações. Elas são do mesmo tamanho? Ressalte o paralelismo das pernas e a forma como Van Gogh optou por desenhá-las. Faça o mesmo com a cama. Ajude a turma a perceber que a maneira como foi retratada nos dá a impressão de que a cabeceira é menor do que o pé. Fale também do chão. Será que a largura do quarto em frente à cama é a mesma que atrás dela?
Quando os alunos constatarem que as medidas são diferentes, fale sobre a noção de profundidade. Conte que é exatamente o fato de o pintor ter retratado de tamanho maior o que está próximo e menor o que está distante o que faz o espectador se sentir dentro do quarto.
Quem olha a tela enxerga o quarto sob a mesma perspectiva do pintor. Explique que Van Gogh, para executar esse "truque", valeu-se de um elemento chamado perspectiva. Para concluir, incentive as crianças a pesquisar num dicionário os significados desse termo.
Sucesso só veio após a morte
Considerado um dos maiores expoentes do pós-impressionismo, o holandês Vincent Van Gogh não teve o seu trabalho reconhecido pela crítica nem fez sucesso junto ao público enquanto vivo. Durante sua curta vida morreu aos 37 anos ele vendeu apenas uma tela. No entanto, o uso abstrato da cor e da forma que exibia em seus quadros teve uma influência decisiva sobre toda a arte do século 20.
Na juventude, foi sustentado pelo irmão Theodorus, com quem trocou cerca de 750 cartas, verdadeiros retratos sentimentais da alma do artista. Van Gogh sofria de instabilidade mental. Em 1890, depois de muitas tentativas de levar uma vida normal, trabalhou com um tio numa loja de obras de arte e em seguinda tentou ser evangelizador em minas de carvão na Bélgica.
Depois, o mestre mudou-se para o sul da França. Lá, no ambiente que retratou na tela O Quarto de Van Gogh em Arles, ele cortou a própria orelha esquerda em meio a uma alucinação. Suicidou-se com um tiro no peito 19 meses depois.
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CONTATOS
Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, R. Baronesa Geraldo de Resende, 330, 13075-270, Campinas, SP, www.liceu.com.br, liceu@liceu.com.br , tel. (19) 3744-6800
Mathema, Grupo de Estudo e Pesquisa em Matemática, R. Andaquara, 164, 04673-120, São Paulo, tel. (11) 5521-8626, internet: www.mathema.com.br
BIBLIOGRAFIA
O Que Faz de um Van Gogh um Van Gogh? Richard Mühlberger, 48 págs., Ed. Cosac & Naify, tel. (11) 3257-8164, 31,60 reais
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