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A Geometria presente na arte dos povos indígenas

Confira sugestões para aliar a Matemática, por meio da Geometria, às comemorações do Dia dos Povos Indígenas

POR:
Selene Coletti
Indígena guarani com pintura facial. Foto: Getty Images

A chegada de abril traz reflexões sobre os povos indígenas. É certo que muito vem sendo desconstruído quando se fala nos povos originários. Por exemplo: pintar o rosto imitando indígenas ou mesmo construir cocares similares são pontos a serem (re)pensados por todos os profissionais da Educação.

Dessa maneira, é importante levar para a sala momentos nos quais as turmas possam conhecer a cultura indígena a fim de respeitar as suas diferentes manifestações. Conforme as especificidades de cada turma, vamos aprofundando os temas. Já trouxemos neste espaço uma conversa sobre as relações étnico-raciais e abordamos um pouco os povos indígenas.

Porém vamos agora direcionar nosso olhar para um dos aspectos da cultura dos povos originários, a partir da Matemática, que é a Geometria presente na arte dos povos indígenas.

Retomando um pouco

Vale relembrar que, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), “a Geometria envolve o estudo de um amplo conjunto de conceitos e procedimentos necessários para resolver problemas do mundo físico e de diferentes áreas do conhecimento” (p. 269). Essa unidade temática propõe o estudo da “posição e deslocamento no espaço, formas e relações entre elementos de figuras planas e espaciais”, o que possibilita o desenvolvimento do pensamento geométrico dos alunos.

O documento ainda destaca a importância de se “considerar o aspecto funcional que deve estar presente no estudo da Geometria: as transformações geométricas, sobretudo as simetrias” (p. 269).

A arte indígena está carregada de possibilidades para trabalhar a Geometria em sala de aula, principalmente no que se refere às formas, relações entre os elementos das figuras e simetria. A partir disso, entra em cena o trabalho com os padrões, que ganhará maior significado.

Começando sempre com uma boa conversa

Uma boa roda de conversa é sempre um excelente início. Começar com uma leitura em voz alta, então, melhor ainda.

Na nossa escola, temos o livro Viagem ao mundo indígena, da Coleção Pawana, de Luís Donisete Benzi Grupioni. A obra reúne histórias sobre a vida cotidiana dos indígenas de diferentes etnias e permite uma aproximação do leitor com a cultura indígena. 

Um dos textos, intitulado “A arte de pintar”, conta como a pintura corporal, técnica desenvolvida entre as mulheres Xikrin, no sul do Pará, faz parte da rotina de suas vidas.

Jogo para explorar os grafismos na arte dos povos indígenas

A partir dessa leitura, é possível explorar os grafismos presentes nas pinturas corporais indígenas. Os grafismos são linhas que compõem padrões geométricos e simétricos usados tanto na pintura corporal quanto na cerâmica e na cestaria. São inspirados na natureza, aparecendo em diferentes linhas (retas, paralelas, curvas, perpendiculares) e formando diferentes desenhos e formas (triângulos, retângulos, quadrados etc.).

Cada grupo possui o seu próprio grafismo. Você poderá explorá-los apresentando algumas imagens para que a turma perceba a variedade e seus significados. Trago alguns exemplos que podem ser usados na forma de um jogo da memória.

Jogo da memória com grafismos indígenas

Este jogo da memória utiliza artes inspiradas em grafismos indígenas de uma série de povos originários brasileiros. O material é gratuito e pode ser usado na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Fundamental. Deixe o ensino da Geometria ainda mais dinâmico!

ACESSE O MATERIAL

Proponho explorar as cartas para que possam familiarizar-se com os grafismos identificando as formas que aparecem. Como há mais de um tipo de etnia, é possível comparar as semelhanças e diferenças entre elas. Depois, é hora de perceber os grafismos que aparecem nas imagens das cerâmicas e das cestarias.

Após a exploração, é hora de jogar. Organize a turma em grupos, leia as regras do jogo (ou solicite que leiam e explorem o que entenderam) e observe as dificuldades encontradas. Se for um 1º ano do Fundamental, provavelmente um dos desafios será organizar as peças em linhas e colunas, para facilitar a localização dos pares. Observe como jogam e, depois, leve algumas problematizações referentes às cartas ou mesmo às jogadas para os alunos, como, por exemplo:

  • Ao final do jogo, Pedro tinha 12 pares e seu colega, dez. Quantas cartas os dois tinham ao final? Como você fez para descobrir isso?
  • João tinha 18 pares de cartas e seu colega tinha 14 cartas. Quantas cartas João tinha a mais (ou a menos) que seu colega?
  • Ana estava jogando com Luís. Ela tinha dez pares, enquanto Luís tinha 14. Quantos pares Ana precisa ter para passar à frente de Luís?

O importante nessas problematizações é a socialização das ideias de como cada um as resolveu. Este momento é bastante rico para que todos aprendam novas formas de resolver problemas para além daquilo que cada aluno fez.

Criando grafismos indígenas

Além da exploração das cartas para que a turma possa se familiarizar com as diferentes pinturas indígenas, disponibilize vídeos sobre artes indígenas ou proponha que pesquisem sobre elas. Abaixo, deixo duas sugestões:

Grafismos Mbyá-Guarani

 

Grafismo Indígena: Asurini do Xingu

 

Lembre-se sempre de explorar os diferentes tipos de linha que aparecem nas manifestações estudadas. Depois de a turma estar bem familiarizada com eles, proponha que cada um crie uma pintura para si.

Para isso, peça que contornem a própria mão em uma folha de sulfite e escolham os motivos que queiram representar para si. Observe enquanto realizam a proposta e questione os tipos de linha e figuras utilizadas. Depois, organize uma exposição com os trabalhos, que certamente ficarão lindos!

Reproduzindo e criando padrões

Como mencionei anteriormente, é possível trabalhar os padrões geométricos. Você poderá propor inicialmente que a turma – dividida em duplas – dê continuidade ao padrão geométrico indígena iniciado por você. Em seguida, será a vez de as duplas criarem os padrões para trocarem entre si. Uma dupla cria e a outra dá continuidade. Neste link, você encontra algumas inspirações para planejar esse trabalho.

Planeje um momento para que as duplas possam explicar como pensaram a continuidade do padrão recebido. Leve também as anotações que você realizou enquanto observava e/ou intervinha durante o trabalho da turma.

Trançado indígena

A cestaria indígena é outra arte que pode ser explorada nas aulas de Matemática, a partir da “imitação” do trançado, utilizando papéis de cores diferentes, o que permite trabalhar as sequências e o ordenamento do próprio trançar.

Eu costumava apresentar o trançado e deixar que as crianças o manuseassem para construírem um próprio. Para trabalhar as medidas, disponibilizava papéis coloridos para medirem, recortarem e montarem o trançado.

Também deixava, no momento da atividade diversificada, um trançado já iniciado para, depois, os alunos construírem os seus a partir do modelo disponibilizado, conforme é possível ver na foto abaixo. Você pode dar o passo a passo por escrito. Anote as dificuldades e facilidades dos alunos para planejar as próximas atividades. Por fim, organize uma mostra dos trabalhos.

Exemplo de atividade com trançado indígena. Foto: Acervo da autora

Como você pode ver, sua turma encontrará novos significados para a cultura indígena e uma forma diferente para trabalhar o Dia dos Povos Indígenas, além, é claro, de levar a Matemática para sala de aula com mais significado.

Vamos investir nessas ideias?

Um abraço e até a próxima!

Selene

Selene Coletti é professora na rede pública há 40 anos. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por dez anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto Mapas do Tesouro que São um Tesouro, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio Gestão para o Sucesso Escolar, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.

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