Qual é a melhor forma de organizar as carteiras na sala de aula?
Veja quatro formatos possíveis de organização e quais interações são favorecidas em cada um deles
POR: Pedro Annunciato, Laís SemisImagine uma situação em que você, educador, está na posição de quem aprende. Pode ser em um congresso, curso ou formação – até mesmo aquelas reuniões da secretaria. O que você prefere: passar todo o tempo sentado em intermináveis fileiras ou assumir uma postura mais participativa, com discussões em grupos ou círculos? “Os professores gostam de sair da ‘pedagogia da nuca’ – em que todos se vêem de costas – e interagir com os colegas. Mas quando você pergunta se fazem isso nas suas salas, pouquíssimos fazem”, comenta Célia Senna, formadora de professores da consultoria INovAÇÃO.
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A discussão sobre qual seria a melhor maneira de organizar os alunos na sala de aula acompanha a evolução da Pedagogia nas últimas décadas. O modelo tradicional, de fileiras individuais justapostas em linhas paralelas, tem sido posto em xeque por limitar o ensino à aula expositiva e não favorecer a interação entre alunos e entre estes e os professores. “No Brasil, em redes nas quais as concepções construtivistas entraram com mais força, a transformação da organização mais convencional em grupos ou círculos tornou-se a regra”, conta Cláudia Dalcorso, sócia-fundadora da Elos Educacional.
Afinal, existe formato ideal? “Na verdade, isso depende da intencionalidade pedagógica, isto é, dos objetivos que o docente espera que os alunos alcancem”, explica Marília Novaes, formadora de gestores da Comunidade Educativa Cedac. Segundo ela, não se trata de adotar um e abandonar o outro para garantir melhor aprendizado. “A sala pode e deve mudar conforme a necessidade do momento”, defende.
O ponto central na escolha do formato deve contemplar o desenvolvimento de habilidades de colaboração e troca entre os colegas – o que nem sempre é fácil para quem está habituado à estrutura tradicional de sala de aula. Para compreender melhor as propostas e implicações de cada forma de organização, listamos as vantagens que oferecem no processo de ensino-aprendizagem.
Fileiras individuais ou U (meia-lua)
Os dois formatos permitem que o educador trabalhe aulas expositivas, apresentações em vídeo, filmes e situações em que é necessário o apoio da lousa. O esquema tradicional, porém, tem seus críticos. “Colocamos os alunos durante cinco horas olhando um para a nuca do outro e queremos que se sintam estimulados?”, questiona Célia Senna. Para a especialista, a meia-lua ou U sai na frente. “Quando o aluno vê a sala como um todo, consegue interagir mais com os colegas, o que é muito favorável para a aprendizagem”.
Esse formato proporciona contato visual entre todos os presentes e favorece o debate coletivo, além de manter a possibilidade de foco no professor e na lousa – que não precisa ser demonizada. Há momentos em que a lousa é a opção mais eficiente para apoiar uma explicação ou registrar as questões de uma discussão.
Já Cláudia Dalcorso acredita que há alguma utilidade nas fileiras, especialmente em ambientes espaciais mais limitados. “Em certos momentos, a aula tem um foco central, que pode ser uma exposição oral, um vídeo, o trecho de um filme, e a sala não possui espaço suficiente para acomodar todos os alunos e as mesas em formato de meia-lua”.
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Outro ponto que pode pesar na escolha tem muito mais a ver com a postura do professor e como ele se conecta à sala de aula. “É preciso considerar que o professor, às vezes, se sente mais confortável ao explicar um conteúdo para a sala em fileiras. Não precisamos descartar o modelo a priori, nem nos amarrarmos a ele”, pondera Marília Novaes, da Cedac.
Duplas ou trios
Esse formato é recomendado para uma interação mais direta entre os alunos. “É uma composição muito utilizada em atividades de produção de texto e de alfabetização, em que se podem construir duplas produtivas”, explica Claudia. O professor pode, por exemplo, propor uma atividade de escrita juntando um aluno com escrita ortográfica (isto é, que já domina a norma padrão da língua e é capaz de construções mais complexas) e outro que ainda não alcançou o mesmo nível, mas é criativo e pode ajudar na elaboração da história. Também pode unir um aluno alfabético e outro silábico para que troquem conhecimentos, ou ainda estudantes com saberes diferentes de matemática para resolver um problema que exige vários procedimentos.
Célia Senna atenta, no entanto, que na composição ideal, os integrantes das duplas não se sentam um ao lado da outro, mas um de frente para o outro. O modelo favorece a interação e discussão entre os dois colegas. “Pode parecer só um detalhe, mas dirigir o olhar e a discussão dessa maneira são favorecidos”, diz.
Grupos (quatro ou mais alunos)
Os grupos formados por um número maior de alunos são indicados nos casos em que é preciso levantar hipóteses, investigar diferentes itens e pluralizar o olhar sobre o objeto de aprendizagem. Aumentam-se as informações e olhares sobre o processo – com a possibilidade de desenvolver outras habilidades e competências que não são possíveis no trabalho individual. “Trabalhar em grupo – independentemente de você ser chefe ou funcionário – é algo que encaramos ao longo de toda a vida”, diz Célia. “As dinâmicas de sala em que há trabalho em equipe favorecem esse desenvolvimento”.
Habilidades como negociação, argumentação, responsabilidade compartilhada, divisão e delegação de tarefas são desenvolvidas à medida que as crianças se veem diante dos desafios do trabalho em equipe. Quando a formação de grupos é pontual, ou seja, acontece algumas vezes, é mais difícil desenvolver tais habilidades do que quando se cria uma dinâmica de equipe. “O grupo começa a se autogerir”, explica a especialista. “Mas o professor deve observar essa dinâmica para intervir nos grupos em que um aluno, por exemplo, não está colaborando. Isso ajuda tanto esse indivíduo quanto o grupo a se desenvolver”.
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Para a formadora, a dinâmica de organização da sala vai ganhando agilidade à medida que os estudantes vão se familiarizando com a proposta. Idem para comportamento. “Os problemas de comportamento não são maiores do que quando os alunos estão enfileirados”, defende Célia. De acordo com ela, a agitação é maior na formação ocasional de grupos, do que quando estão acostumados a trabalhar com esse formato. “A questão de ter o ‘controle’ da turma também não desenvolve a autonomia dos estudantes”.
E onde deve ficar a mesa do professor?
No modelo tradicional, a mesa do professor geralmente está localizada à esquerda da lousa, para não atrapalhar a visibilidade. Saindo do modelo de fileiras, a mesa do professor pode ficar em qualquer lugar da sala, já que ele irá circular entre as equipes. Idem no semicírculo: a mesa fica fora da roda. Isso implica em maior mobilidade para o docente, que mantém os alunos em seu raio de visão, o que estimula o contato.
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