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Relações de confiança ajudam a promover inovação nas escolas

Estudo mostra que quanto maior a confiança entre os educadores, mais chances a escola tem de apresentar um ambiente propício para a inovação

POR:
Charles Kirschbaum
Foto: Getty Images

As inovações propostas por novas políticas educacionais dependem do conjunto de relações e da confiança entre os professores nas escolas para que tenham sucesso? A resposta é claramente “sim!”. Quanto maior o grau de confiança, e quanto maior for a densidade de relações entre os professores de uma escola, maiores as chances da escola desenvolver um ambiente receptivo à inovação.

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Antes de argumentar por que a rede de relações e a confiança está relacionada ao ambiente inovador, gostaria de abordar as hipóteses opostas (ainda que politicamente incorretas). A primeira hipótese alternativa levaria à conclusão contrária: se os professores forem demasiadamente unidos, apresentarem muitas relações e demonstrarem confiança mútua, eles poderão desenvolver alta resistência às mudanças. Uma segunda hipótese possível nos levaria a concluir que as relações entre os professores são irrelevantes para as inovações: é interessante que os professores desenvolvam boas relações, mas isso não está, necessariamente, associado às inovações. Estas duas hipóteses alternativas têm como pressuposto que as políticas educacionais agem principalmente sobre indivíduos. A partir desta perspectiva, indivíduos isolados recebem novas instruções e as implementam de forma dedicada.

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Em contraste, devemos levar em consideração dois fatos centrais documentados pela sociologia da educação. Cito aqui os estudos How schools do policy: Policy enactments in secondary schools, de Meg Maguire, Stephen J. Ball e Annete Braun (2012) e Teachers' responses to Success for All: How beliefs, experiences, and adaptations shape implementation, de Amanda Datnow e Marisa Castellano (2000). O primeiro diz que as políticas não são implementadas de forma mecânica pelos profissionais das unidades escolares. E o segundo que é através da interpretação e tradução das diretrizes no contexto da escola que as políticas educacionais se concretizam. Este fato diz respeito ao papel das relações interpessoais no aprendizado dos professores. Por meio de interações com colegas, os professores buscam conjuntamente interpretar e estabelecer quais são as expectativas ligadas às novas diretrizes e adquirir conhecimentos que possam ser úteis na implementação de novas práticas.

Além disso, é principalmente através de relações de confiança que o conhecimento tácito (difícil de ser explicitado) é transmitido. Para tanto, os professores necessitam confiar uns nos outros. Pode-se entender confiança como a percepção individual de que é possível depender dos colegas e mesmo em situações difíceis é possível ser honesto um com o outro. Em ambientes onde não há confiança mútua, os professores não se consultam mutuamente em relação às novas políticas, o que leva à imobilidade.

No estudo “Social networks, trust, and innovation. How social relationships support trust and innovative climates in Dutch Schools”, realizado por Moolenaar e Sleegers com 724 educadores em 51 escolas na Holanda, foi evidenciado que quanto maior a confiança e mais densa for a rede de relações entre os educadores, maior a chance da escola apresentar um ambiente propício para a inovação.

A mensuração de propensão à inovação foi baseada no questionário desenvolvido pelo “Consortium on Chicago School Research”. A amostra abarcou 96,8 % dos professores de uma rede educacional da Holanda (o distrito continha 775 educadores e 53 escolas). 72,9% dos respondentes eram mulheres e todos os respondentes estavam trabalhando ao menos 6 meses na unidade escolar onde se situavam. De forma análoga, as equipes de trabalho estavam constituídas a pelo menos 6 meses.

As relações entre os educadores em cada escola foram mapeadas através de várias perguntas, incluindo quem cada educador procurava para conversar sobre trabalho. A densidade da rede de cada escola representa todas as relações observadas após a coleta dos dados sobre as possíveis relações que podem existir em uma escola. Além da densidade, os autores também verificaram se as redes de relações eram muito centralizadas. Ou seja, uma rede de relações muito centralizada se aproxima de uma estrela, onde muitos professores estão conectados a poucos professores centrais. O grau de confiança entre os professores foi mensurado através de vários itens, incluindo a pergunta “eu confio em meus colegas”.

Os autores descobriram que em escolas onde a rede de relações era mais densa e havia maior confiança, havia também uma propensão maior para o surgimento de um ambiente onde os professores estavam dispostos a testar inovações. Em contraste, se a rede de professores era mais centralizada, havia menor chance de surgir um ambiente propenso à inovação.

Esses achados nos levam às seguintes conclusões práticas para formuladores de políticas e gestores:

  • As redes de relações entre professores são importantes para a implementação de novas políticas educacionais;
  • É importante para formuladores de políticas públicas entenderem as diversas configurações de rede que influenciam e são influenciadas pelas políticas educacionais;
  • Os diretores e coordenadores pedagógicos podem alcançar maior sucesso promovendo as relações entre os professores e fomentando a troca de conhecimento entre eles do que se limitando a cumprir o papel de guardião das políticas da secretaria escolar.

 

 

Charles Kirschbaum é professor do Insper, pesquisador associado do CEM-Cebrap e membro do comitê técnico do Iede. Atualmente, realiza pesquisa em escolas públicas com ênfase nas redes sociais internas na escola