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O que motiva os jovens a se esforçarem na escola?

A Economia Comportamental é oportunidade para compreender o papel dos estudantes como sujeitos de seu desenvolvimento escolar

POR:
Raquel Guimarães
A Economia Comportamental tem demonstrado as dificuldades que os indivíduos têm na tomada de decisões que envolvem investimentos no futuro versus o consumo ou os gastos no presente   Foto: Nadine Shabaana for Unsplash

No ano passado, Richard Thaler, professor da Universidade de Chicago, nos EUA, recebeu o prêmio Nobel de Economia por sua contribuição para a chamada Economia Comportamental. Esse ramo da Economia, cuja característica marcante é o diálogo com estudos da Psicologia e da Neurociência, questiona os pressupostos dos economistas clássicos, que defendem que os indivíduos fazem escolhas corretas e racionais, pesando custos e benefícios no curto e no longo prazo. E qual a relação disso com Educação, que é o que nos concerne aqui?

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Por meio de experimentos sociais, a Economia Comportamental tem demonstrado as dificuldades que os indivíduos têm na tomada de decisões que envolvem investimentos no futuro versus o consumo ou os gastos no presente, em especial os jovens. Em seu best-seller “Nudge - O Empurrão para a Escolha Certa, Thaler e seu co-autor, Cass Sunstein, revelaram o poder de pequenas ações no ambiente que podem facilitar a tomada de decisões que sejam melhores para os indivíduos, sem forçá-los a agirem de uma certa forma, minimizando os vieses comportamentais. Em Educação, não é difícil concordar com a assertiva de que os jovens, em sua maioria, têm dificuldades em estabelecer os custos imediatos versus os benefícios de longo prazo dos investimentos em conhecimento.

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Para que os jovens possam experimentar os retornos da educação no longo prazo, é importante que façam um esforço contínuo em tarefas que, em geral, têm pouco retorno imediato, como prestar atenção nas aulas, realizar as tarefas de casa, estudar para as provas. Evidências da neurociência apontam que as funções cerebrais, que ajudam a focar no futuro e a controlar os impulsos, não estão maduras até que o indivíduo tenha ao redor de 25 anos. Assim, ainda que o investimento em educação seja rentável no longo prazo, esses retornos podem não motivar suficientemente os estudantes para investir seu esforço na escola. Desse modo, crianças e adolescentes são mais suscetíveis que os adultos às barreiras comportamentais, que os fazem perder oportunidades educacionais.

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No estudos “Economia Comportamental da Educação: Progressos e Possibilidades”, publicado em 2014 por Lavecchia e colegas, e “O comportamentalista vai à escola: potencializando a Economia Comportamental para melhorar o Desempenho Educacional”, publicado em 2018 por Levitt e colegas,  os pesquisadores destacam que os estudantes, em geral, focam muito no presente e apresentam dificuldades em planejar para o longo prazo.

Nesse caso, políticas públicas e programas de recompensas imediatas (como bolsas de estudo, prêmios em dinheiro, premiações não-financeiras) podem auxiliar os estudantes a ponderar com mais ênfase o futuro em relação ao presente. Um ponto interessante trazido pelos autores é o caso dos incentivos não-financeiros, que, para além de menor custo em relação a outras políticas, operam afetando o comportamento dos estudantes por meio de preocupações com a alta imagem, performance relativa e status. Os autores mostraram ainda que, no caso de testes padronizados, tanto o tamanho do incentivo, quanto o tempo até a entrega da recompensa importam para que os estudantes se dediquem ao máximo.

Em um experimento envolvendo 5.700 escolas de ensino fundamental e médio em Chicago, Levitt e colegas demonstraram que incentivos entregues imediatamente, sejam os financeiros ou simbólicos (como troféus), aumentaram a performance dos estudantes em testes padronizados. Para estudantes do ensino médio, os autores encontraram que um incentivo de 20 dólares foi efetivo, ao passo que um de 10 dólares, não.

Outra evidência encontrada na literatura de Economia Comportamental é a de que os estudantes se apoiam muito em rotinas e no pensamento automático. Não se nega aqui que a rotina tenha um papel importante na vida do jovem estudante – por exemplo, melhorando sua frequência à escola. Todavia, a pré-disposição dos jovens a automaticamente tomar decisões com base em rotinas pode resultar em comportamentos distantes do ideal, especialmente no que diz respeito ao aproveitamento de oportunidades. Um exemplo claro desse tipo de comportamento é a transição do ensino médio para o ensino superior, em que o jovem precisa alterar sua agenda para, por exemplo, pesquisar universidades e se candidatar aos processos de seleção para bolsas de estudos. Se o estudante, contudo, apresenta dificuldades em modificar sua rotina, suas escolhas para o futuro podem estar restritas.

Estudos experimentais têm revelado a potencialidade do uso de mensagens de texto (SMS) para, por exemplo, aumentar a probabilidade de transição dos estudantes para o ensino superior. Em um estudo publicado em 2014, “Empurrão nas férias: mensagens de texto personalizadas e mentoria por pares aumentam a entrada na universidade entre concluintes do ensino médio de baixa renda?”, Castelman e Page descrevem um aumento de sete pontos percentuais na chance de matrícula dos estudantes que receberam  mensagens e lembretes sobre as datas-limite para a candidatura às universidades e sobre os procedimentos requeridos.

A tendência dos jovens a focar em interações sociais e nas identidades negativas também traz impactos negativos sobre os resultados educacionais. Se é óbvio para alguns de nós, que já fomos jovens, que nos importamos sobre em que medida nosso comportamento se desvia do nosso grupo social, então nossas notas, frequência à escola e esforço irão refletir não somente nossas origens familiares e fatores escolares, mas também os benefícios sociais, isto é, em que medida nosso esforço escolar seria consistente com o comportamento de um grupo social. As interações sociais que ocorrem diariamente entre os jovens, dentro e fora da escola, podem ser uma prioridade para muitos estudantes, de tal forma que as decisões educacionais deles com foco nas consequências de longo prazo podem ser comprometidas. Atreladas ao grupo social, estão as múltiplas identidades do jovem, com base no gênero, raça/cor, sexualidade e outros. Infelizmente, algumas identidades estão associadas a atitudes, como “capaz” ou “incapaz”, “bagunceiro” ou “caprichoso”. Desse modo, auxiliar os estudantes a focar em identidades positivas pode auxiliar na superação dessa barreira.

Obviamente, muitas dessas barreiras comportamentais podem ser mitigadas com o envolvimento dos pais e da comunidade escolar. Todavia, com os avanços da Economia Comportamental, abre-se uma janela de oportunidades para o estudo do papel dos estudantes como sujeitos de seu desenvolvimento escolar. Precisamos compreender o que motiva os estudantes a exercerem esforço, sendo essa uma condição relevante para a acumulação de Capital Humano. Não se trata de relegar o papel das origens familiares e dos fatores escolares, mas sim de compreender como o estudante, imerso nesse contexto, pode estar escolhendo seu futuro com base em opções que não são as melhores.

Os pesquisadores em educação e formuladores de política têm se debruçado de forma extensiva sobre o impacto de fatores externos sobre a educação, como a qualidade do professor, currículo, origens sociais, fatores escolares, dentre outros. Agora temos a oportunidade de aprender como os Nudges (ou os empurrões) podem ajudar nossos estudantes a atingir resultados educacionais promissores.

Raquel Guimarães é professora e pesquisadora de Economia e Demografia da Educação na Universidade Federal do Paraná (UFPR). É membro do comitê técnico do Iede e da Comissão Assessora de Especialistas para Avaliação de Políticas Educacionais do Inep.

Para saber mais:

THALER, R.; SUNSTEIN, C. Nudge. O Empurrão Para A Escolha Certa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

LAVECCHIA, A. M.; LIU, H.; OREOPOULOS, P. Behavioral Economics of Education: Progress and Possibilities. Cambrigde: National Bureau of Economic Research, out. 2014.

LEVITT, S. D. et al. The Behavioralist Goes to School: Leveraging Behavioral Economics to Improve Educational Performance. American Economic Journal: Economic Policy, v. 8, n. 4, p. 183–219, nov. 2016.

CASTLEMAN, B. L.; PAGE, L. C. Summer nudging: Can personalized text messages and peer mentor outreach increase college going among low-income high school graduates? Journal of Economic Behavior & Organization, v. 115, p. 144–160, jul. 2015.

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