Você sabe o que compõe o clima escolar?
A maneira pela qual os indivíduos percebem coletivamente o clima da escola traz significativas influências sobre o comportamento dos grupos
POR: Adriano MoroOs estudos sobre o clima escolar na Educação Básica são vistos como importantes nacional e internacionalmente, principalmente, porque o clima escolar seria capaz de interferir na melhoria das relações sociais, com as famílias e com a comunidade, auxiliar no processo de inclusão dos alunos, aumento do rendimento acadêmico, diminuição do abandono escolar e prevenção de situações de bullying, além de contribuir para uma menor rotatividade dos professores.
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Diversas pesquisas pontuam que a maneira pela qual os indivíduos percebem e experimentam coletivamente o clima da escola traz significativas influências sobre o comportamento dos grupos, sugerindo uma associação, principalmente, à qualidade da aprendizagem e das relações interpessoais na escola. Mas, afinal, o que é clima escolar e como podemos conceituá-lo?
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A palavra “clima”, como bem sabemos, tem diversos significados. O conceito original remete aos fenômenos naturais, como frio e calor. No campo das Ciências Sociais, refere-se à forma como as pessoas se relacionam entre si e às características de um ambiente social particular. Não raro, ao adentrarmos um local, temos uma percepção do clima que paira por ali, que pode ser harmonioso, alegre, tenso, etc. Tal percepção orienta nosso comportamento e interfere diretamente em nosso bem-estar. O ambiente escolar não é diferente: possui seu clima próprio, que é percebido por todos os que lá convivem.
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As primeiras pesquisas sobre clima escolar, na década de 1950, consistiram na transposição para o meio educacional de estudos já desenvolvidos no meio industrial e militar, em torno da problemática do “clima organizacional”. À época, os americanos Andrew W. Halpin e Don B. Croft sistematizaram um instrumento de medida chamado Organizational Climate Descriptive Questionnaire (OCDQ), o qual foi organizado e direcionado para a análise do ambiente escolar, na perspectiva do professor em relação ao comportamento de seus gestores.
Anos mais tarde, na década de 1970, o francês Finlayson, prosseguindo com as investigações, reconheceu a necessidade de incluir a percepção dos estudantes, e não somente de professores e equipe gestora. Desde então, diversas pesquisas têm sido estruturadas para avaliar o clima da escola. No entanto, passadas décadas de estudo, ainda não há consenso entre os pesquisadores do tema, em diferentes países, a respeito de um conceito único.
Em 2007, o National School Climate Council, juntamente com o National Center for Learning and Citizenship, Education Commission of the States, nos Estados Unidos, definiram o conceito de clima escolar baseando-se nas percepções e padrões de experiências das pessoas sobre a vida escolar, refletindo as normas, metas, valores, relações interpessoais, práticas de ensino e aprendizagem e estruturas organizacionais. Este tem sido, desde então, o principal ponto de partida, por meio do qual o clima escolar vem sendo mensurado.
Embora a relevância do clima para as instituições escolares seja reconhecida internacionalmente, ainda não contávamos no Brasil com instrumentos de medida devidamente validados e adaptados à nossa realidade. Com o objetivo de construir o primeiro conjunto de instrumentos para avaliação do clima das escolas brasileiras e estabeler um conceito norteador para as pesquisas em nosso país, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM), da Unicamp/Unesp, do qual faço parte, realizou, em 2016, uma ampla revisão da literatura nacional e internacional sobre avaliações do clima escolar.
Verificamos que além do conceito, as dimensões avaliativas e o foco das investigações também são bem diversos. As pesquisas analisadas centralizam suas investigações em aspectos específicos da vida escolar e, nesse sentido, elegem dimensões também específicas para a investigação. Em consequência disto, os estudos focam em diferentes climas, ainda que voltados para a escola, como por exemplo: o clima social, em que são abordadas questões referentes às interações entre os atores educativos; o clima acadêmico, incluindo o estudo das atitudes, valores e expectativas dos indivíduos da instituição sobre a educação; clima disciplinar, que diz respeito a organização e condução das aula, e o clima organizacional, no qual são estudados aspectos relativos às interações entre a gestão e os professores.
Além disso, são raros os instrumentos de medida que mensuram as percepções de todos os principais atores escolares (alunos, professores e gestores). Por vezes, as pesquisas analisam as percepções exclusivamente dos gestores, outras, dos professores e gestores, e outras ainda sobre as percepções dos alunos. Este é um aspecto importante pois, se estamos interessados em avaliar o clima da escola, de modo a contemplar os diferentes aspectos do cotidiano escolar, é imprescindível que possamos mensurar a percepção de todos que fazem parte do processo educativo.
De modo geral, constatamos que a literatura permite afirmar que o clima da escola compreende a junção das percepções dos alunos, professores, gestores, pais e funcionários em relação ao universo escolar, tanto sobre a instituição de ensino como um todo, quanto sobre a sala de aula em específico. Isso inclui desde a organização administrativa e educacional até as relações entre os que convivem naquele espaço. Isso posto, após muita pesquisa e reflexão, o GEPEM estabeleceu, também em 2016, o conceito que passou a balizar os nossos estudos no tema, definindo que o clima é constituído por avaliações subjetivas e refere-se à atmosfera psicossocial de uma escola, sendo que cada uma possui o seu clima próprio. Ele influencia na dinâmica escolar e, por sua vez, é influenciado por ela. Deste modo, interfere na qualidade de vida e na qualidade do processo de ensino e de aprendizagem.
A partir desse conceito, elaboramos três instrumentos de medidas (disponíveis no site da biblioteca digital da Unicamp), que envolvem oito dimensões, e são capazes de avaliar o clima escolar na perspectiva dos alunos, professores e gestores da Educação Básica. Nos próximos artigos, falarei sobre eles.
*Adriano Moro é doutor em Educação pela Unicamp e mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Ele integra o Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral (Gepem), da Unicamp/Unesp e atua no departamento de pesquisas da Fundação Carlos Chagas (FCC).
Para saber mais:
HALPIN, A. W.; CROFT, D. B. Organizational climate of schools. Chicago: Midwest Administration Center, University of Chicago, 1968.
FINLAYSON, D. S. Comment évaluer le “climat? de l’école. In: BEAUDOT, A. Sociologie de L’école. Paris: Dunot, 1981. p. 121-135.
NATIONAL SCHOOL CLIMATE COUNCIL. The School Climate Challenge: Narrowing the gap between school climate research and school climate policy, practice guidelines and teacher education policy. 2007.
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