Matéria de Capa: Conheça professores que complementam a renda | Salário

Se colocar na ponta da caneta, estou pagando para trabalhar

Conheça a história de Ana Alice que trabalha como agente de saúde para complementar a renda de professora

POR:
Pedro Annunciato e Tory Oliveira
Crédito: Weimer Carvalho/Nova Escola

Ana Alice Oliveira de Freitas, 58 anos, professora de Educação de Jovens e Adultos (EJA) na EM Alexandre Pereira Lima, em Senador Canedo (GO) e agente de saúde em Goiânia (GO)
RENDIMENTOS: R$ 1.600 como professora, R$ 1.200 como agente de saúde, R$ 3.500 de aposentadoria da Polícia Civil

Faço jornada dupla de segunda a sexta-feira. No período da tarde, sou agente de saúde da prefeitura de Goiânia e à noite, professora na Educação de Jovens e Adultos (EJA), em Senador Canedo. Ingressei na Educação há quatro anos, depois de trabalhar por 28 anos na Polícia Civil. A vida me levou por diversos caminhos, mas sempre fui apaixonada por essa área e, depois que me aposentei, pude me dedicar a ela. Como agente de saúde, trabalho durante a semana, do meio-dia às 18 horas. Percorro a pé o bairro onde eu moro, na periferia, e visito de oito a dez famílias por dia. A gente faz a ponte dos moradores com o posto de saúde. Fazemos o acompanhamento de crianças pequenas, de idosos, de pessoas acamadas que não têm condição de se dirigir até a unidade básica de saúde, e tentamos atender às necessidades de cada um.

Depois, pego o carro e vou direto para a escola, onde criei projetos que estimulam a leitura na biblioteca. São alunos que estão em fase de alfabetização, e que exigem um tratamento especial, para que não desistam da escola. Não vejo minha rotina como algo pesado. Acho que se tivéssemos mais valorização, mais condição de trabalho, ficaríamos menos cansados. Você tem que se desdobrar para garantir uma xerox, um material pedagógico qualquer… Nosso salário não é justo. Tenho a impressão que se eu colocar na ponta do lápis o que gasto com transporte e material, eu estou pagando para trabalhar. Então, é melhor nem colocar. Na minha opinião, tinha que ser assim: do mesmo jeito que juiz, promotor, tem auxílio-moradia, a gente poderia ter um auxílio pedagógico.