Crie sua conta e acesse o conteúdo completo. Cadastrar gratuitamente

Conheça os professores brasileiros que concorrem ao “Nobel da Educação” de 2019

Global Teacher Prize reconhece as contribuições de maior impacto educacional nas escolas e comunidades

POR:
Laís Semis
Débora Garofalo e Jayse Antonio são finalistas do Teacher Prize   Foto: Divulgação

O Global Teacher Prize,  maior premiação de Educação do mundo e conhecida como “Nobel da Educação”, divulgou a lista dos 50 finalistas da edição 2019. Na lista estão dois professores de escolas públicas brasileiras: Débora Garofalo, professora da EMEF Almirante Ary Parreiras, em São Paulo, e Jayse Antonio da Ferreira, da EREM Frei Orlando, em Itambé (PE). Esta é a primeira vez que uma mulher brasileira é finalista do Global Teacher Prize.

A proposta do prêmio é reconhecer o professor que realizou a maior contribuição à sua profissão e promover a troca de ideias entre educadores do mundo inteiro. O foco do Teacher Prize são professores e gestores que cumprem carga horária mínima de 10 horas semanais e  que tenham trabalhado com alunos com idades entre 5 e 18 anos (o equivalente à Educação Básica no Brasil). O projeto vencedor recebe US$ 1 milhão (equivalente atualmente a R$ 3,9 milhões), que é pago em parcelas como compromisso de que o docente permaneça em sala de aula nos anos cinco seguintes à premiação e continue contribuindo em sua profissão.

 

Conheça os professores e projetos brasileiros finalistas

A professora Débora Garofalo e seu trabalho com alunos do Ensino Fundamental na construções de robótica com sucata   Foto: Acervo pessoal 

DÉBORA GAROFALO

Formada em Letras e Pedagogia e mestranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Débora Garofalo divide seus dias entre a sala de aula e o compartilhamento de práticas de tecnologia que aplica no bairro Cidade Leonor, zona sul de São Paulo. Além das trocas com a rede Conectando Saberes, da qual a professora também faz parte, semanalmente ela divide suas experiências em sua coluna no site de NOVA ESCOLA. Confira a publicação mais recente da professora aqui.

LEIA MAIS   A hora e a vez das ferramentas digitais na escola

Grande parte do trabalho desenvolvido por ela como orientadora de informática educacional com alunos de todos os anos do Ensino Fundamental se baseia em usar a tecnologia para trabalhar temas sociais. Um dos principais projetos desenvolvidos dentro de suas aulas foi a robótica com sucata, que trouxe o debate da sustentabilidade para as turmas. “Fizemos um grande trabalho de coleta de recicláveis na comunidade com o que encontramos na rua. Tiramos mais de uma tonelada de lixo reciclável e eletrônico das ruas”, conta Débora. “Parte do material, principalmente o eletrônico, usamos em sala de aula. O que não é utilizado é encaminhado para o descarte correto”, diz. O que ela e os alunos coletam como lixo transforma-se em objetos de robótica. Depois que as crianças enjoam dos materiais, eles desmontam o robô para aproveitar as peças. E o ciclo do que é reaproveitado e o que é encaminhado para descarte continua.

Não é a primeira premiação à qual a professora paulista concorre. Neste ano, ela também foi finalista do Prêmio Claudia, que reconhece as mulheres que estão fazendo a diferença em áreas diversas de atuação, e vencedora do Prêmio Professores do Brasil. “Ao longo da carreira, fui muito criticada e muitas vezes quis jogar a toalha”, relembra. “Mas o que me move é saber que a Educação pode ser transformadora para as pessoas”. Débora espera que o reconhecimento por ser finalista do Global Teacher Prize possa deixar a mensagem e o legado de que é possível usar tecnologia nas escolas públicas, fomentando a prática de outros professores e estimulando mais os alunos no aprendizado.

O professor Jayse Antonio e alunos com obras do projeto "Eu sou uma obra de arte: etnias do Mundo"   Foto: Acervo pessoal

JAYSE ANTONIO

Formado em Educação Artística pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Jayse Antonio leciona no interior de Pernambuco, em um município de 36 mil habitantes em que a maior parte de seus alunos é formada por filhos de trabalhadores do corte de cana e empregados do comércio local. Dois projetos embasaram a indicação de Jayse para o Teacher Prize: “Eu sou uma obra de Arte: etnias do Mundo” e “Vamos enCURTAr essa história?”. O primeiro explorou a diversidade étnica e o preconceito dos próprios alunos em se identificarem como negros ou pardos. Como resultado, a aceitação da turma sobre sua origem cresceu muito e o bullying diminuiu.

O outro projeto também mirou na autoestima e nos preconceitos regionais ao buscar talentos literários e audiovisuais dos estudantes. A partir da escrita de adaptações literárias e contos autorais, os alunos encenaram e gravaram curtas-metragens. Todo o material foi produzido pelos próprios alunos – montagens próprias ou oriundas de parcerias com lojas da cidade, com o empréstimo de roupas para figurino. Para o professor, o mérito do projeto foi colocar a criatividade acima dos recursos materiais. “Apesar de estarmos em uma situação precária de recursos para desenvolver trabalho com a tecnologia, colocamos a criatividade como prioridade e ela superou o recurso material”, acredita. “Usamos um abajur para fazer a iluminação, um tecido que sobrou de uma festa de 15 anos para fazer o fundo cromakey (usado para gravações em televisão e em estúdios de cinema) e um celular como câmera”. Uma premissa do seu trabalho é sempre valorizar a potencialidade de seus alunos.

“Nós nos esforçamos sempre para fazer um bom trabalho, mas não achei que faria parte de um grupo tão seleto. É uma sensação incrível”, define Jayse Antonio. Filho de pais analfabetos, Jayse foi o primeiro da família a chegar ao Ensino Superior. Ele se reconhece nos alunos e tenta, através de sua trajetória, incentivá-los para que possam avançar com os estudos. “Se não fosse a Educação, provavelmente, eu estaria trabalhando com cana”. Além da sala de aula, Jayse lidera na Rede Conectando Saberes o núcleo da sua região. A rede, que é apoiada pela Fundação Lemann, mantenedora de NOVA ESCOLA, conecta professores de todo o Brasil para trocar experiências e debater a  construção de uma Educação pública de qualidade.

LEIA MAIS   Como a aula de Arte aumentou a autoestima e diminuiu preconceitos

Apesar da emoção de ser finalista de um prêmio internacional com mais de 40 mil inscritos, ele acredita que o maior benefício do reconhecimento é a possibilidade de inspirar o trabalho de outros professores e ajudar na valorização da carreira docente. “Os alunos não sonham em ser professores por conta das dificuldades da carreira. A visibilidade de uma premiação como essa pode ajudar a mudar a imagem dos professores na mídia”, diz. O professor também vê outro valor em ser finalista: é a primeira vez que o Nordeste está representado no Global Teacher Prize. “Somos uma escola pública do Nordeste sem muitos recursos. Essa é uma oportunidade de mostrar que o que faz a diferença na Educação é a vontade de inovar”. Conheça mais sobre o trabalho de Jayse aqui.

 

Edições anteriores

A primeira edição do prêmio foi em 2015 e este é o terceiro ano em que professores brasileiros são indicados. Em 2017, Wemerson Nogueira e Valter Menezes, ambos vencedores do Prêmio Educador Nota 10, estiveram entre os 50 finalistas. Em 2018, foi a vez de Rubens Ferronato e Diego Mahfouz Faria Lima. Tanto Wemerson quanto Diego chegaram a ir para a fase seguinte da premiação, que elege os 10 finalistas.

O projeto de Wemerson tratava de uma pesquisa sobre as consequências do desastre da mineradora Samarco para as comunidades ao redor da EEEFM Antônio dos Santos Neves, em Boa Esperança (ES). No município de Santo Antônio do Rio Tracajá (AM), Valter Menezes estudou com a sua turma maneiras de tratar a água e produziu, como Wemerson, filtros que foram distribuídos para a comunidade utilizar.

Em 2018, foi a vez do reconhecimento do trabalho de Diego como diretor na EM Darcy Ribeiro, em São José do Rio Preto (SP). Em 2013, ele quase zerou os índices de suspensão e evasão da escola que atingia 60 suspensões por semana e uma evasão anual de 200 alunos, em 2013. Já o trabalho de Rubens consistiu na idealização de um material didático que auxilia os alunos com deficiência visual na compreensão dos conceitos de Matemática, permitindo ensinar até 108 conceitos de Matemática Estatística. O material é utilizado em mais de 200 escolas em todo o Brasil.