Campos de Experiência na prática: como trabalhar “traços, sons, cores e formas” na Educação Infantil
Terceiro campo da BNCC instiga o uso de expressões artísticas para trabalhar olhar, coordenação motora e percepção dos pequenos
POR: Lucas SantanaDesde o primeiro rascunho até sua homologação, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) da Educação Infantil tem percorrido um longo caminho. Ainda muito recente, a BNCC está em fase de implementação nas redes públicas. Nas formações, é normal que surjam dúvidas à aplicação do que muitas professoras consideram “diferente”, como é o caso dos 5 Campos de Experiência.
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Os Campos de Experiência despertam a reflexão de professores e coordenadores sobre quais são as experiências fundamentais para que a criança aprenda e se desenvolva integralmente. NOVA ESCOLA traz uma série dedicada aos 5 Campos de Experiência, com atividades práticas para explorar cada um – e que podem ser complementadas com curso sobre o tema e planos de atividade produzidos pelo nosso Time de Autores.
CURSOS Grátis: Os Campos de Experiência na Educação Infantil
Já exploramos os campos "O eu, o outro e o nós" e "Corpos, gestos e movimentos". Desta vez, fomos buscar experiências e atividades pensadas e realizadas com base no Campo “Traços, sons, cores e formas”.
PLANOS DE AULA Veja planos de aula que incluem Campos de Experiência
CAMPO DE EXPERIÊNCIA: TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS
Conviver com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais (pintura, modelagem, colagem, fotografia etc.), a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências, elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfigurem, permanentemente, a cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências artísticas.
Trecho extraído do documento Base Nacional Comum Curricular
As artes e suas expressões podem ser aliadas das professoras em todos os momentos da vida de seus alunos. O Campo de Experiência “Traços, sons, cores e formas” implica essa possibilidade para a Educação Infantil. “Nesse campo, o foco são o convívio e a interação das crianças com diferentes materiais, instrumentos e manifestações expressivas. Elas são convidadas a conhecer e interagir com sons, cantos, cores, traços, luzes, cenários, imagens, gestos, movimentos, materiais e recursos tecnológicos”, explica o educador e autor Wagner Priante, especialista em Arte-Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).
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Esse contato pode ajudar a criança a desenvolver outras características. Para a especialista pedagógica Rebeca Veras, do SAS Plataforma de Educação, o contato de bebês e crianças com esses recursos expressivos gera impactos muito importantes para o desenvolvimento infantil. “As crianças são levadas a desenvolverem o senso estético por meio de situações que gerem momentos de apreciação, desenvolvimento da sensibilidade, criatividade e expressão”, aponta.
Somado aos demais Campos de Experiência, os educadores podem se debruçar sobre “Traços, sons, cores e formas” de forma a gerar experiências que despertem a curiosidade dos alunos. Uma chance para dar a largada para a descoberta da cultura regional e nacional. “Precisamos promover situações em que as crianças possam conhecer e se apropriar da cultura de seu grupo social, o que contribui para o desenvolvimento de sua identidade e autonomia, que também se relaciona com o campo ‘O eu, o outro e o nós’, por exemplo”, avalia Wagner.
Reunimos a seguir algumas atividades que professoras desenvolveram com seus alunos com base nos Campos de Experiência, em especial o campo “Traços, sons, cores e formas”. Você pode utilizá-las na sua sala ou se inspirar para criar novas propostas, que incluam também os outros campos – ampliando ainda mais o escopo de desenvolvimento da criança.
A BANDA DAS CRIANÇAS
IDADE: Bebês (0 a 1 ano e 6 meses)
A turminha do berçário tem experimentado com muito entusiasmo esses momentos de protagonismo e em um deles, montamos uma bandinha com diversos instrumentos musicais. Tinha pandeiro, maracas, chocalhos, sinos, tambores, entre outros. Esses objetos sempre são oferecidos aos bebês para que eles possam explorar não apenas o som, mas as formas, cores e texturas.
Em um dos momentos dessa prática, os bebês ficam sentados em roda. Eles seguram os instrumentos e juntos cantamos uma música que já é do repertório da turma. Nós orientamos os bebês com gestos e expressões e acompanhamos as reações deles. Estimulamos cada criança e usar seu instrumento toda vez que chamamos seu nome. Percebemos que eles aguardam com atenção até ouvirem o som de seu nome e entendem que é sua vez de tocar – observando também a vez do outro. Ao ouvirem o comando para todos tocarem juntos, a banda se consolida.
Os bebês percebem como nos manifestamos através do ritmo da música, da coreografia e interagem conosco, demonstrando entendimento sobre “o eu, o outro e o nós”. É incrivelmente emocionante identificar as potencialidades de crianças tão pequenas e essas conquistas diárias nos dão o sentimento de realização com o desenvolvimento da turminha.
Cleonice Espirito Santo e Auxiliares, Creche Emília Leite de Figueiredo – Carapicuíba (SP)
OBJETIVOS DE APRENDIZADO TRABALHADOS
- Explorar sons produzidos com o próprio corpo e com objetos do ambiente (EI01TS01);
- Explorar diferentes fontes sonoras e materiais para acompanhar brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias (EI01TS03).
APRENDIZADOS
A unidade está inserida em uma comunidade carente, da região metropolitana de São Paulo e temos como intenção, trazer facilidades para o acesso à arte e cultura. Com isso sempre procuramos provocar a curiosidade e inserir essa discussão sobre as várias formas de manifestações artísticas existentes, principalmente no Brasil através de um planejamento que seja voltado também para a brincadeira e a interação a partir dessa temática.
Os campos de experiências da BNCC, somaram a nossa intenção, visto que nos orientam quanto a necessidade de “ampliar o universo das experiências”.
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PARQUE SONORO
IDADE: Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses)
No CEI Criança Feliz elaboramos uma visita ao Parque Sonoro, local onde há diversos objetos que produzem sons: pandeiros, flautas, tambores. Há também objetos feitos com materiais reestruturados como tampas de panelas, canecas de alumínio, galões de água, conchas e colheres de diferentes formatos e tamanhos. Enfim, tudo que possa produzir sons variados.
As crianças gostam muito porque podem explorar os instrumentos disponíveis. Elas exploram a variedade de sons e se mostram encatandas com as formas e sons produzidos por cada objeto. Algumas crianças preferem brincar com dois instrumentos ao mesmo tempo, como tocar uma flauta e bater num tambor, por exemplo, para explorar essa combinação.
No Parque Sonoro há objetos do cotidiano bem conhecidos, como tampas de panela, colheres e canecas. Em um primeiro momento, as crianças ficam com receio de brincar com esses objetos porque talvez em casa não seja possível. É nesse momento que entra a minha participação de incentivar e mostrar que é possível brincar com esses utensílios.
Virgínia Reis de Souza. Centro de Educação Infantil Criança Feliz, São Paulo (SP)
OBJETIVOS DE APRENDIZADO TRABALHADOS
- Incentivar a formação do hábito de apreciação musical ainda na infância (EI01TS01);
- Oportunizar a diversão às crianças através de objetos sonoros (EI02TS02);
- Contribuir para o desenvolvimento da criatividade (EI03TS03).
APRENDIZADOS
Nossa turma é muito ativa e alegre, e esses momentos de exploração dos diversos instrumentos disponíveis proporciona para bebês e crianças um desafio. Faz com que eles agucem suas percepções, explorem o seu imaginário e criem sons variados, sempre de um modo lúdico leve e criativo, favorecendo assim o processo de desenvolvimento integral do bebê/criança.
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DANÇA COM PANOS
IDADE: Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses)
Nesta atividade utilizamos grande quantidade de tecidos, de várias cores e formas, retalhos velhos de roupas e alguns TNT recortados para atender a demanda da sala. A ideia é que todas as crianças consigam ter em mãos um "paninho" para brincar. Oferecemos a cada criança um pedaço de tecido e elas vão usar o material para interagir por meio do som da música, dançando de acordo com o ritmo.
Algumas das músicas que utilizamos fazem parte do cotidiano das crianças pequenas, de seu meio cultural. Elas imitam os movimentos dos adultos e também criam seus próprios movimentos, com bastante entusiasmo e alegria.
Kharen Moretti Alves da Silva e colegas de sala. Creche Olímpia Maria de Jesus Carvalho, Osasco (SP)
OBJETIVOS DE APRENDIZADO TRABALHADOS
- Expressar-se livremente por meio de desenho, pintura, colagem, dobradura e escultura, criando produções bidimensionais e tridimensionais (EI03TS02);
- Reconhecer as qualidades do som (intensidade, duração, altura e timbre), utilizando-as em suas produções sonoras e ao ouvir músicas e sons (EI03TS03);
- Utilizar sons produzidos por materiais, objetos e instrumentos musicais durante brincadeiras de faz de conta, encenações, criações musicais, festas (EI03TS01).
APRENDIZADOS
Podemos observar que as crianças pequenas, ao mesmo tempo em que escutam a música, conseguem inserir um toque pessoal com os "paninhos", aprimorando o conhecimento musical e ampliando seus movimentos corporais. Elas aprendem a se expressar através dos sons e movimentos e desenvolvem fala e escuta. Trabalham suas perspectivas e a desenvolvem a criatividade.
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