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Autismo: conheça o modelo DIR/Floortime usado no desenvolvimento de crianças com autismo

A estratégia tem como base o desenvolvimento funcional da criança para formar alicerces para competências sociais, emocionais e intelectuais

POR:
Beatriz Vichessi
No método DIR®/Floortime™, é importante que o terapeuta ou professor siga a brincadeira da criança para criar a interação  Crédito: Getty Images

O afeto e os relacionamentos têm um papel fundamental no desenvolvimento da aprendizagem. Ao unir essa preocupação com a saúde mental, os pesquisadores norte-americanos Stanley Greenspan e Serena Wieder criaram um método terapêutico que ajuda crianças com autismo a se desenvolver – olhando para as competências sociais, emocionais e intelectuais.

Criado no final da década de 1980, o método DIR®/Floortime™ foi patenteado pelos pesquisadores e aplicado em diversas escolas e instituições nos Estados Unidos e na Europa. Maria Clara Pacífico, a Caia, psicóloga clínica certificada em Floortime® e colaboradora do Programa de Transtornos do Espectro Autista (PROTEA) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq - USP), e Deborah Rolim, fonoaudióloga, especialista em linguagem e também colaboradora do PROTEA, explicam mais sobre essa opção para o desenvolvimento de crianças com autismo.

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O que é o DIR®? E Floortime

Developmental, Individual Difference, Relationship-based Model (as iniciais das palavras em inglês, significam, em português: "Desenvolvimento funcional emocional”; “Diferenças Individuais” e “Relacionamento") é um modelo terapêutico com base no desenvolvimento nas diferenças individuais e nas relações interpessoais de crianças com alguma alteração no desenvolvimento da sociabilidade, dentre elas, o autismo. A ideia é ajudá-las a utilizar suas capacidades levando em conta a etapa do desenvolvimento em que se encontram e como processam as informações que recebem do entorno. Em outras palavras, o objetivo é a formação de alicerces para as competências sociais, emocionais e intelectuais, em vez de focar em habilidades isoladas. O modelo DIR® entende a criança como um ser único e, na sua individualidade, busca construir as bases para que ela possa pensar, se comunicar e se relacionar, apesar das suas limitações. A abordagem Floortime™ faz parte do modelo DIR® como a principal estratégia para sistematizar a brincadeira com a criança e proporcionar sua progressão sobre as etapas do desenvolvimento. É uma abordagem que pode ser utilizada por profissionais de várias áreas (psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos e terapeutas ocupacionais) e familiares capacitados. A participação da família é importante devido à relação emocional e ao fato de passarem a maior parte do tempo com a criança. No Floortime (tempo de chão), a família e/ou terapeuta segue os interesses da criança ao mesmo tempo em que a desafia a alcançar maior domínio das capacidades sociais, emocionais e intelectuais.

 

Quais as bases do trabalho com Floortime?

Existem algumas habilidades fundamentais para o desenvolvimento da criança e é nisso em que a estratégia Floortime™ se baseia para atingir as seis fases do desenvolvimento que contribuem para o crescimento emocional e intelectual:

1ª Fase - Auto Regulação e Atenção Compartilhada-Interesses pelo Mundo

2 ª Fase - Engajamento e Relacionamento

3 ª Fase - Comunicação recíproca intencional

4 ª Fase - Resolução de problemas de comunicação complexos

5 ª Fase - Criação e Elaboração de símbolos/ideias

6 ª Fase - Construção de pontes entre os símbolos/ideias

 

Qual é o espaço para a afetividade no modelo DIR®?

No processo de aquisição de novas competências, o afeto e as emoções têm papel fundamental, estimulando a intenção comunicativa e o desenvolvimento das habilidades cognitivas que permitem o acesso a ideias simbólicas e lógicas.

 

Na perspectiva do Floortime, o professor/terapeuta aceita os comportamentos disruptivos da criança com autismo? 

Sim, mas isso não quer dizer que a criança fique limitada a eles, pelo contrário. A ideia é ir além, transformando esses comportamentos, sentimentos e a conduta em algo potente para promover as habilidades fundamentais. 

 

Na prática, como acontece o tratamento terapêutico? 

Durante 20 ou 30 minutos, o terapeuta/professor interage com a criança através de brincadeiras para promover o desenvolvimento ou a aquisição das habilidades já citadas. É o tempo de chão (floortime) propriamente dito. Nesse intervalo, a liderança é da criança: o terapeuta/professor segue os interesses e as motivações dela. Essa interação é essencial, estimula a comunicação entre paciente e terapeuta (mesmo que a criança ainda não seja verbal) e ajuda a manter a relação entre os dois. Um exemplo de ação durante a sessão: frente a uma criança que deseja brincar com carrinhos, o terapeuta começa a brincar também com carrinhos, oferece a oportunidade de uma competição, provoca uma batida entre o carrinho dele e o da criança, promovendo assim uma interação. Com essa prática, o objetivo é seguir a liderança, conquistar a  confiança da criança e incluir rotinas motivadoras relacionadas ao interesse dela. Tais estratégias interativas favorecem o desenvolvimento, cada vez mais complexo, das habilidades sociais, de comunicação e de brincadeira lúdica.

 

O que o terapeuta planeja para as sessões com a criança? 

Cada sessão tem como norte a liderança da criança – as ações do profissional partem dos interesses dela. Por isso, é pré-requisito ter um repertório, ainda que pequeno, algumas habilidades para que possa participar de um tratamento DIR®/Floortime™. 

 

Se a criança não está brincando com nada e só fica olhando pela janela, é possível fazer algo com a estratégia Floortime™? 

Sim. O terapeuta pode comentar com ela o que está observando, imitar pássaros ou cachorros que estão do lado de fora e assim por diante, na tentativa de se conectar à criança e iniciar uma interação. 

 

Somente crianças podem se beneficiar do Floortime™? 

Não. Embora o centro do trabalho seja originalmente o brincar, é possível usar os conceitos do Floortime™ com jovens e também adultos, fazendo uso de jogos e conversas. 

 

Quais as orientações para pais e professores a fim de ajudar no desenvolvimento da criança atendida na perspectiva DIR®?

Pais e professores devem, primeiramente, aprender a observar antes de agir. Não devem antecipar os desejos e necessidades da criança e procurar se juntar a ela nas atividades de seu interesse. Também é valioso aprenderem a valorizar mais o processo que o produto final, entender as etapas do desenvolvimento infantil e a importância de fortalecer e embasar cada uma delas. 

 

 

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