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Meditação nas escolas – é sério que dá para fazer?

Com instruções simples e um componente lúdico, a prática do mindfulness pode ser um componente interessante em sala de aula

POR:
Daniela Degani
Tornar a prática da meditação da atenção plena (mindfulness) mais divertida pode ser uma boa maneira de engajar os alunos  Crédito: Getty Images

O governo da Inglaterra decidiu introduzir a meditação mindfulness – ou meditação da atenção plena, como também é conhecida –  como mais uma disciplina na grade curricular em 370 escolas do país com o objetivo de melhorar a saúde mental na escola.

Embora venha sendo usado em inglês pela mídia e especialistas, o termo pode soar pouco familiar para muitos brasileiros. Mindfulness é a potencialidade humana que todos nós temos de estar mais presentes, inteiros e conscientes do que nos acontece, tanto externa quanto internamente. Ao tomarmos consciência de situações e acontecimentos que podem nos impactar e também daquilo que sentimos –  emoções, sentimentos e pensamentos –, podemos decidir como responder, com mais sabedoria, a cada situação que se apresenta e a cada pensamento que surge na mente.

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Estar mais presente, atento e consciente é uma habilidade que pode ser treinada e fortalecida. Há milênios, contemplativos de várias tradições religiosas e filosóficas vêm, geração após geração, valendo-se da meditação como caminho para, dentre outras coisas, aumentar a capacidade de foco, lidar com as emoções de maneira saudável e cultivar um mundo interno mais tranquilo.

A recente descoberta da neuroplasticidade, que é a capacidade do sistema nervoso de modificar sua estrutura em resposta aos estímulos que recebe, deu o respaldo científico que faltava para que a prática fosse adotada mais amplamente no Ocidente. As evidências produzidas por estudos de mapeamento cerebral usando ressonância magnética, somadas às pesquisas quantitativas, fizeram com que a meditação começasse a ganhar novos espaços, sendo adotada no ambiente clínico e médico, militar, empresarial e, nas últimas duas décadas, também educacional.

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Os efeitos da meditação em crianças e adolescentes também estão sendo pesquisados, com resultados ainda preliminares, mas bastante encorajadores. Um estudo realizado em 2012 com 780 alunos e 47 professores em Oakland, na Califórnia (EUA), comparou grupos de alunos que praticaram mindfulness com estudantes que não tiveram essa prática. Os resultados mostram melhoras em atenção, controle emocional, participação e respeito nos grupos que meditaram na escola.

Além disso, os professores notaram mudanças expressivas em seus alunos:

- 83% percebem aumento da capacidade de foco

- 89% notam melhor equilíbrio emocional

- 76% reportam mais compaixão nas atitudes

- 79% vêm melhoria na participação dos alunos.

 

Depois deste estudo, muitos outros vieram, com resultados semelhantes. Ainda que haja evidências de sobra a respeito de sua valia, fica a pergunta: mas dá mesmo para meditar em sala de aula? Em outras palavras: é realista esperar que os alunos se envolvam com uma atividade mais estática e introspectiva?

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Eu tinha todas estas dúvidas. Mesmo depois de praticar a meditação em casa com meus filhos e constatar, de perto, os efeitos positivos em crianças, uma questão rondava minha mente: mas em sala de aula, seria viável? Nos Estados Unidos, onde o mindfulness é mais difundido, há programas em escolas para incentivar essa prática. Mas seria factível aqui no Brasil? Haveria espaço para a meditação? E mais importante ainda: os alunos teriam interesse? 

Hoje, após levar a escolas e centros comunitários o programa de mindfulness para crianças e adolescentes, com grande alegria posso afirmar: sim, os alunos se interessam! Nas escolas nas quais ensino o programa, mais de 90% dos alunos afirmam ter gostado das aulas de mindfulness e 95% dizem que a prática os ajudou em vários aspectos.

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Claro que para obter resultados como estes temos que, primeiramente, nos preparar e criar, aos poucos, intimidade com a meditação. Quanto mais a meditação fizer sentido para nós, educadores, mais vai fazer sentido para nossos alunos. Eu acredito que nós ensinamos quem somos, e isso é particularmente verdade quando se trata da meditação. A maior aula de mindfulness é dada através do exemplo, quando nos tornamos educadores mais inteiros, presentes, atentos, atenciosos e amorosos. São todas qualidades mais fáceis de dizer do que de fazer, mas a prática contemplativa é um grande suporte para fazer florescer em nós essas qualidades.

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Uma vez tendo estabelecido uma prática pessoal de meditação, passamos para a etapa seguinte: como levar atividades de atenção plena para nossos estudantes em sala de aula? Susan Kaiser Greenland, uma das pioneiras do mindfulness com crianças, afirma que a meditação com crianças deve ser simples, breve e divertida (veja alguns exemplos de atividades). Atividades curtas com instruções simples e componente lúdico são a chave do sucesso com os pequenos. Para os maiores, o divertido dá lugar ao interessante, instigante, sempre relacionando o conteúdo e práticas com situações da vida deles.

 

Daniela Degani é idealizadora da MindKids, cujo propósito é apoiar alunos e professores a cultivarem atenção, equilíbrio emocional e compaixão nas salas de aula através das práticas de meditação/mindfulness. Para isso, usa metodologias validadas internacionalmente e no Brasil.

Referências Bibliográficas

Mindful Schools - pesquisas acadêmicas 

Um dos maiores experimentos em saúde mental é lançado nas escolas (One of the largest mental health trials launches in schools)

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