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Como o teatro de fantoches levou à união e inclusão de alunos

Uma encenação com efeitos sonoros fez com que crianças trabalhassem juntas em escola de São Paulo

POR:
Flavia Nogueira
Crianças assistem a um teatro de fantoches em escola de São Paulo
Foto: Instituto Rodrigo Mendes

O teatro de fantoches é uma ferramenta muito visual e muito simples para engajar os alunos. O que muitos não sabem é que, com algumas adaptações, é possível usar esta ferramenta também para a inclusão.

Essa foi a proposta na EMEF Carlos Francisco Gaspar em São Paulo (SP): a criação de um Teatro de Fantoches com Painel Sonoro (saiba mais sobre o projeto aqui)  para estimular a inclusão em todos os alunos de uma sala onde dois estudantes têm deficiência: uma aluna tem uma deficiência que limita seus movimentos e comunicação e outro aluno tem deficiência intelectual.

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E essa proposta faz parte do projeto Materiais Pedagógicos Acessíveis, lançado pelo Instituto Rodrigo Mendes (IRM) no portal Diversa, que consiste em uma série de recursos desenvolvidos por educadores para auxiliar o processo de ensino-aprendizagem em turmas compostas por estudantes com e sem deficiência.

O projeto Teatro de Fantoches com Painel Sonoro foi desenvolvido pela professora da Sala de Leitura Elisângela Caldas Lima e pela coordenadora pedagógica Maria José de Santana Souza. O início foi no ano de 2018, com a turma do 4º ano do Ensino Fundamental da EMEF Carlos Francisco Gaspar, que contava com alunos muito participativos. Alguns deles apresentavam dificuldades, mas todos se ajudavam.

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Elisângela conta que a ideia do projeto nasceu do fato de ela, como professora da sala de leitura, trabalhar diretamente com a literatura. Por isso, eles partiram do livro Menina Bonita do Laço de Fita, de Ana Maria Machado.

“Nós pensamos no teatro por conta da literatura, que era onde eu estava mais envolvida e também com a contação de histórias. O painel sonoro é por conta da acessibilidade, como nós temos muitos alunos com algum tipo de deficiência, seja motora ou intelectual, o painel sonoro seria acessível a todos. O painel entra nas histórias, ele tem os botões com desenhos, em relevo, então é fácil para as crianças manipularem também”, explica Elisângela.

O que é – o Teatro de fantoches com Painel Sonoro visa favorecer a oralidade e a construção de diferentes narrativas, contemplando a diversidade e o respeito às diferenças entre os alunos de várias disciplinas do 3º, 4º e 5º ano do Ensino Fundamental.
Como funciona –  o material pedagógico acessível pode ser usado por várias disciplinas. No caso da EMEF Carlos Francisco Gaspar, foram envolvidas as disciplinas de Língua Portuguesa, História e Ciências. Para fabricar a frente do teatro de fantoches e a caixa de som, serão necessárias placas de MDF e materiais como 1 arduíno uno, 1 módulo MP3 DF Player entre outros materiais (saiba mais aqui).  Segundo a professora Elisângela, depois de montados o teatro e o painel sonoro, enquanto um grupo de crianças conta a história com os fantoches, outra criança vai manipulando o painel com os sons já gravados.

Para todos

Elisângela conta que a aluna com deficiência que limita os movimentos já reagia às histórias contadas e, com a adição de sons, as atividades ficaram ainda mais lúdicas.

“É diferente de quando você tem uma interferência e, como o painel tem o som da bruxa, os sons dos animais, de chuva, então conseguimos que ela participe mais dentro da história. Ela sorria e demonstrava que aquilo, para ela, fazia sentido. A aluna não fala, não tem outros meios de comunicação. E o outro aluno tem uma deficiência intelectual, mais leve. Ele pode manipular o painel, é bem simples”, explica.

A professora afirma que, depois de pronto, o material ficou acessível para todos os alunos

“Quando o material ficou pronto, todos os alunos participaram, eles montaram teatrinho, cada um fez uma parte e o material acabou não ficando exclusivamente para os dois alunos. Ele inclusive fica na sala de recursos da escola (Sala de Recursos Multifuncionais), que é onde crianças com algum tipo de deficiência fazem atividades. Todos conseguem utilizar”, explicou.

Para Virgínia Gonçalves de Oliveira, professora-mestra e especialista em políticas públicas e Educação Especial, o material pedagógico tem vários aspectos que podem ser destacados.

“Tem mais do que um professor envolvido, vários professores pensando na melhor forma de adaptar o material: o quanto mais ele pode ser acessível, o que pode ser pensado como perspectiva para aquele material, tinha a professora que lia, a professora que ficou pensando como ia usar o próprio teatro, como ia fazer os bonecos, como ia usar aquela caixa de som”, diz.

Criança brinca com painel sonoro de madeira e teclas azuis em relevo
O painel de som tem teclas em relevo Foto: Instituto Rodrigo Mendes

“No caso das crianças, acho que a percepção do outro, das dificuldades do outro, das necessidades do outro, de quais formas a gente pode fazer para que todo mundo possa aprender mais e melhor”, opina.

Para a educadora, quando todas as crianças reagiram dizendo que o aprendizado ficou mais divertido e que elas nunca tinham imaginado que poderiam existir outras formas de entender melhor o texto, aí é que se entende o conceito da inclusão.

“É você pensar que, de verdade, (o material) produz movimento em todos e torna uma proposta, no caso da Educação, mais qualificada para que todos possam aprender”, afirma.

Segundo a professora Elisângela, o material continua em uso na EMEF Carlos Francisco Gaspar e continua mobilizando os alunos.

“Deixamos um (painel sonoro) na sala de leitura e outro na Sala de Recursos Multifuncionais, todos os professores podem usar. O painel que ficou comigo em sala de aula deu um problema, a escola tem o projeto de robótica, a criançada quer consertar. Comentei que estava com um problema de interferência no som, os meninos já falaram ‘pode deixar, a gente arruma’.  E está com eles agora. Ele está sendo utilizado de todas as maneiras”, afirmou.

 

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