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Clima escolar: por que e como avaliar

A avaliação permite que cada indivíduo expresse suas impressões, vivências e sentimentos sobre a instituição de ensino

POR:
Adriano Moro
Foto mostra mão de pessoa respondendo questionário em uma mesa de madeira com um copo de café ao fundo
Foto: Getty Images

Muitos são os desafios da Educação em nosso país, sobretudo quando pensamos em uma perspectiva macro, como sistema educacional. Mas, hoje, proponho considerarmos o cerne da Educação formal: a escola e o clima propício às diferentes aprendizagens. Como nós queremos que nossa escola seja?

A escola é nossa, e todos nós enquanto comunidade escolar queremos que ela seja cada vez melhor, que possua um clima escolar positivo visando a uma Educação de qualidade. Para tanto, é fundamental que a escola queira de fato se conhecer e reconhecer todos os aspectos que a avaliação do clima escolar propõe. Mas, esse processo só ocorre se, de fato, a instituição estiver aberta a tais investigações e comprometida com uma possível reforma do clima e melhoria da qualidade da Educação, em sua unidade.

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A escola é o espaço privilegiado em que as relações de âmbito público se efetivam. É o lugar em que podemos nos instituir enquanto seres humanos, numa vida em sociedade, no exercício do diálogo como ferramenta de troca, compartilhamento e compreensão de ideias; na coordenação de perspectivas, reconhecendo e validando a importância dos que convivem conosco. Tais concepções nos ajudam a conviver e a estudar juntos. Essa concepção de escola pautou a construção dos instrumentos que avaliam o clima escolar, contemplando a complexidade e a riqueza do ambiente educacional.

Uma avaliação sobre o clima escolar permite que cada indivíduo expresse suas impressões, vivências e sentimentos sobre a instituição de ensino. O conjunto das percepções de todos os indivíduos, na escola, fornece uma fotografia do ambiente socioeducativo, possibilitando um reconhecimento do que está acontecendo, tanto dos pontos fortes como dos vulneráveis. Isso favorece a hierarquização das prioridades e das áreas para as quais os esforços de melhoria, planos de ação e intervenções devem ser direcionados.

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A avaliação do clima escolar pode ser feita a partir de questionários, que contemplam oito dimensões que interagem entre si. São elas: 1. As relações com o ensino e com a aprendizagem; 2. As relações sociais e os conflitos, na escola; 3. As regras, as sanções e a segurança, na escola; 4. As situações de intimidação entre alunos; 5. A família, a escola e a comunidade; 6. A infraestrutura e a rede física da escola; 7. As relações com o trabalho; 8. A gestão e a participação. As duas últimas são aplicadas somente a professores e gestores.

Apesar das oito dimensões estarem ligadas entre si e possibilitarem uma avaliação abrangente do clima escolar, cada uma delas pode ser analisada separadamente, o que nos possibilita mensurar aspectos específicos que compõem o clima. Por exemplo: a escola pode ter interesse em verificar especificamente como estão as percepções de seus atores sobre o clima relacional, analisando as dimensões 2, 3 e 4 citadas acima.  Ou então, pode demandar uma investigação sobre o clima organizacional, no sentido de mensurar as percepções dos professores e gestores com relação as dimensões 7 e 8. É importante destacar que intervenções pontuais visam a melhorias específicas, mas para se tratar do clima escolar como um todo, é necessário considerar as oito dimensões.

O diagnóstico do clima escolar, por meio das percepções dos atores escolares (alunos, professores e gestores), fornece informações fundamentais para que a instituição promova uma reflexão conjunta com toda sua comunidade e, a partir daí proponha planos de ações e intervenções no sentido de promover um melhor ambiente socioeducativo. Enfatizamos, contudo, a importância da parceria da escola com universidades, instituições de formação e o auxílio de especialistas, sobretudo de um olhar especializado de um pesquisador que estude os aspectos quanto à qualidade do ambiente sociomoral, justamente para que haja uma interpretação compartilhada sobre a realidade da escola.

De outro modo, a escola pode perceber como positiva uma determinada dimensão, justamente por estar vinculada ao seu cotidiano, não sendo capaz de perceber como problemáticas algumas questões. Por exemplo: ao avaliarmos a dimensão relacionada ao ensino e à aprendizagem, os instrumentos de medida podem captar as percepções de alunos e professores classificadas como positivas quanto às práticas pedagógicas que ocorrem em sala de aula, mesmo que tais práticas possam estar pautadas na ideia de transmissão e reprodução do conteúdo, sem planejamento ou elaboração de propostas e atividades interdisciplinares, diversificadas e desafiadoras. Tais resultados podem ser coerentes na medida em que os professores e alunos da instituição avaliada não conhecem outras possibilidades de trabalho. 

Alguns critérios, descritos no Manual de Orientação para a Aplicação dos Questionários que avaliam o Clima Escolar, devem ser considerados para que a instituição possa realizar sua avaliação:

  • A finalidade do uso pelas unidades escolares é a de orientar o planejamento de intervenções, visando à melhoria da qualidade do clima, assim como mensurar sua eficácia;
  • A participação de uma escola deve ser sempre voluntária, jamais imposta. Essa forma de parti­cipação também é válida para os respondentes. Em caso de pesquisa, recomenda-se que, antes de iniciarem o preenchimento do questionário, os respondentes preencham um Termo de Consentimento e/ou Assentimento Livre e Esclarecido, o qual deve ser redigido conforme os objetivos do aplicador e/ou pesquisador (neste caso em conformidade com os requisitos legais da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP, sobre pesquisas que envolvem seres humanos).
  • Com exceção da realização de pesquisa em que as escolas não são identificadas, os resulta­dos jamais devem ser divulgados, no sentido de comparar ou ranquear as instituições escolares.
  • Cada escola tem seu próprio clima. A avaliação indicará o que vai bem e o que pode ser me­lhorado nessa determinada instituição ao serem analisadas as respostas aos itens. Nesse sentido, não existe “clima de um conjunto de escolas” de uma região, não sendo válido considerar como clima a média das avaliações do clima de cada escola.

Considera-se que a busca por uma Educação de qualidade é o objetivo de todas as instituições de ensino. Nessa perspectiva, os resultados devem servir para levantar informações das especificidades da escola, já que os questionários propiciam o conhecimento das diferentes percepções dos atores da instituição de ensino. Essas informações são fundamentais para que a escola possa se conhecer, sob as diferentes e compartilhadas perspectivas, de modo a implementar ações de melhoria, com base em evidências, levando em conta o que já fazem bem e o que precisa ser melhorado.

Adriano Moro é doutor em Educação pela Unicamp e mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Ele é pesquisador do Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas (FCC) e integra o Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral (Gepem), da Unicamp/Unesp.

Para saber mais:

MORO, A; VINHA, T. P.; MORAIS, A. Avaliação do clima escolar: construção e validação de instrumentos de medida. Cadernos de pesquisa (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS. IMPRESSO), v. 49, p. 312 - 334, 2019.

 VINHA, T. P.; MORAIS, A.; MORO, A. Manual de orientação para a aplicação dos questionários que avaliam o clima escolar. Campinas: FE/Unicamp, 2017. v. 1. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=79559&opt=1