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Documentar atividades para avaliar a distância: veja como fazer

Em novos tempos, em que tudo muda, é necessário rever a forma de avaliar os alunos também

POR:
Selene Coletti
Foto: Getty Image

Avaliar é um processo contínuo, necessário e de extrema importância para poder definir novos encaminhamentos e planejar novas situações de aprendizagens que permitam a evolução de todos: professores e alunos.

Dentro do contexto “normal” de ensino e aprendizagem a avaliação ganha contornos, muitas vezes, pouco nítidos. Se pensarmos no “novo normal” que se desenha a nossa frente, avaliar pode se tornar algo mais difícil do que já vem sendo discutido há tanto tempo.

Entretanto, é preciso revisar esse formato diante do ensino remoto devido as diferentes condições em que ele se concretiza para cada realidade.

Por onde começar?
Revisitando a teoria sobre documentação pedagógica na Educação Infantil com o olhar na atual situação que vivenciamos, pude perceber o quanto ela dialoga com esse cenário e o quanto podemos transpô-la para as diferentes etapas da Educação Básica, como os Anos Iniciais do Fundamental 1.

Gunilla Dahlberg, autora de um dos capítulos de “As cem linguagens da criança” (volume 2), escreve que a documentação pedagógica é “o processo de tornar o trabalho pedagógico (ou outro) visível ao diálogo, interpretação, contestação e transformação”. Tornar nosso trabalho visível diante do quadro do distanciamento social é algo imprescindível para podermos valorizá-lo e compreender as novas demandas, revendo nossa forma de trabalho.

Documentar implica, num primeiro momento, recolher as impressões, as nossas observações, as de nossos alunos e suas famílias. Implica em buscar as produções da turma, nossos registros pessoais, escritos, fotográficos ou por meio das gravações audiovisuais.

Como avaliar as aprendizagens no Fundamental 1

A avaliação, antes da pandemia, já era um assunto bastante discutido. Veja nessa edição de NOVA ESCOLA BOX estratégias de avaliação para um eventual retorno às aulas presenciais.

Para que num segundo momento possamos organizar tais “documentos” na forma de portfólios (virtuais ou não). Você pode organizar o seu percurso na forma de padlet, ferramenta que já conversamos por aqui.

Tenho visto, em minha cidade, equipes escolares utilizando-se dessa ferramenta para registrar o percurso formativo e as propostas e devolutivas dos alunos na pandemia. Acesse aqui e inspire-se. São excelentes trabalhos!

Depois dessa organização é iniciada a interpretação e narração do nosso percurso de ensino e aprendizagem e o dos nossos alunos, transformando, inovando e criando novas situações de aprendizagens, construindo novas estratégias, permitindo que todos aprendam, mesmo nesse contexto tão volátil que temos diante de nós.

Frente a esse panorama, avaliar não é somente recolher o material proposto nas plataformas de atividades e atribuir uma “nota”.

A teoria e mesmo a prática nos mostra que a nota não significa aprendizagem. Agora mais do que nunca necessitamos rever essa forma de “atribuir notas”. Qual aprendizagem nossos alunos tiveram? E nós, como professores, o que aprendemos para o nosso ofício de ensinar?

Organizando nosso material
Nesse movimento de análise e interpretação, precisamos organizar todas as produções, de nossos alunos e nossas. Se ainda não iniciamos, temos tempo para fazer isso, reescrevendo nosso percurso.

Como avaliar os alunos a distância?

Quer entender melhor como usar o padlet na documentação e avaliação dos alunos a distância? A professora Renata Capovilla explica o passo a passo da ferremanta e como fazer a avaliação na prática.

Em uma de nossas primeiras conversas na coluna, falamos da necessidade de registrar o que vínhamos produzindo, escrevendo sobre nossas novas descobertas, reinvenções, sobre o uso da tecnologia, nosso relacionamento com os alunos. Se você abraçou a ideia, deve ter muito material e está cada vez mais se aprimorando dentro desse “novo normal”, que é trabalhar remotamente e descobrindo novos jeitos de chegar até seu aluno.

Se ainda não foi tocado por essa ideia, ainda tem tempo. É possível (re) organizar seu material, o que o seu aluno produziu e começar a registrar as principais descobertas e as aprendizagens construídas.

Lógico que você pode envolver seus alunos nesse processo, solicitando que escrevam o que estão aprendendo, as suas facilidades e dificuldades. Pode ir mais além, envolvendo as famílias. Nesses novos tempos o que puderam aprender? Como estão contribuindo? Quais as dificuldades que ainda enfrentam?

Ouvi-los e também ouvir-se enquanto orquestra esse processo permitirá fazer uma avaliação mais real e que dará muitos subsídios para estabelecer novos critérios, novas estratégias e novas propostas.

Este ano é atípico, portanto, necessita rever muitos aspectos. É certo que poderemos esbarrar em pontos que também precisam ser revistos pela escola como um todo e até pelo sistema de ensino. Refletir e discutir sobre a avaliação a partir do olhar da documentação pedagógica é um “start” que poderá desencadear mudanças futuras. Quem sabe outro efeito colateral positivo da pandemia?

O pedagogo italiano Loris Malaguzzi escreveu que “o que não se vê, não existe”, portanto precisamos ser vistos e permitir que nossos alunos sejam vistos por nós, por eles próprios e pelo sistema de ensino. É por meio do documentar e registrar que conseguiremos enxergar o processo que estamos vivenciando, deixando nítidas nossas conquistas e desafios que ainda temos pela frente.

Você deve estar pensando que são muitas as demandas para dedicar tempo a esse movimento de documentação e registro. Certamente não é um trabalho fácil, porém é necessário. Escolha uma área para começar. Abra-se para este novo olhar, mesmo sabendo que o inesperado e o imprevisível esperam por você.

Você estará iniciando um novo momento, reiventando-se mais uma vez, construindo um registro vivo (em todos os sentidos) da sua prática no atual contexto e das aprendizagens de sua turma e, quem sabe, levando esta nova prática junto de você quando voltar para a escola.

Vamos, então, ver o que existe nessa atual caminhada?!

Até a próxima,

Selene

Selene Coletti é professora há 39 anos na rede pública. Atua na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos tendo trabalhado do 1º ao 5º ano. Recebeu, em 2016, da Fundação Victor Civita, o Prêmio Educador Nota 10 com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada do município. Atualmente é formadora da Educação Infantil, na Prefeitura de Itatiba.