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Os avanços e desafios das mulheres na Educação Infantil

Professor Evandro Tortora reflete como a luta feminista colaborou com conquistas na etapa e como tema envolve da educação dos pequenos a valorização docente

POR:
Evandro Tortora
Blocos de construção multicoloridos em forma de escada
Crédito: Getty Image

Sem demora, gostaria de dedicar este texto as minhas colegas de profissão que depois desses anos trabalhando junto delas, contribuíram muito para minha formação como professor de crianças.

Ao pensar em escrever um texto em que trato da importância da mulher para a Educação Infantil, me peguei pensando sobre o meu lugar de fala sobre esse assunto. De forma alguma a mulher precisa de um homem para falar por ela e, por acreditar fortemente neste posicionamento, minha ideia é mostrar meu apoio, admiração e reconhecimento pelo trabalho docente feito com as crianças e reforçar que devemos comemorar as conquistas tidas até então.

Ainda há muito o que se discutir, especificamente na Educação Infantil e quero abordar alguns desafios que temos pela frente. As mães que precisam matricular seus filhos em uma creche, por exemplo, ainda têm dificuldades em encontrar vagas em instituições públicas que atendam crianças de zero a três anos de idade. Em 2021, ainda não temos vagas suficientes para quem as deseja.

Também temos de falar das professoras, estas muitas vezes ainda vistas como “tias” que cuidam das crianças, ainda perdura a ideia de que exercem seu papel quase como um sacerdócio.

E os desafios relacionados as crianças? Muitas discussões equivocadas de gênero acabam privando-as de ter experiências importantes para seu desenvolvimento e reforçam estereótipos que prejudicam meninos e meninas. Como podemos perceber, ainda há muito a ser conquistado!

Profissão Educadora: as mulheres na Educação Infantil

Para quem é útil: Professores e gestores de Educação Infantil
Qual o objetivo: Oferecer um panorama da atuação das mulheres na Educação Infantil e refletir, por meio da história de algumas educadoras, como está o cenário atual nesta etapa de ensino.

Um pouco de história: como chegamos onde chegamos?

Há pouco mais de um século, a profissão docente era de caráter estritamente masculino. A professora Andréa Tereza Brito Ferreira, descreve essa característica do magistério em seu artigo “A mulher e o magistério: razões da supremacia feminina”.

Ela lembra que temos um histórico de colonização marcado pelo ensino ofertado pelos jesuítas, os quais tinham por objetivo ofertar uma Educação religiosa. Esse histórico traz um ideal do magistério como um “dom”, “missão divina” ou “sacerdócio”.  Algo que ainda hoje é muito forte para muitos! Hoje defendemos outra concepção, a qual relaciona o magistério como uma atividade profissional que exige formação inicial e continuada.

Porém, voltando às questões históricas, a ideia de que existiam determinadas tarefas “naturais” ao sexo biológico, influenciou a entrada das mulheres nos cuidados que seriam oferecidos às crianças em instituições criadas para atender os pequenos. Além disso, ao entender que a Educação de crianças seria uma extensão da formação recebida pelas famílias, colocou à mulher na função de cuidar dos pequenos dadas as suas “funções maternais”, tidas como intrínsecas ao gênero feminino.

Com o passar do tempo, o mercado de trabalho foi se alterando e se passou a exigir formação específica par o trabalho com as crianças. Porém, ainda assim, o salário das professoras era muito baixo, o que fez com homens buscassem outras oportunidades de trabalho e as mulheres (as quais apenas complementariam a renda familiar) poderiam permanecer na profissão.

Além disso, as poucas oportunidades de carreiras advindas do processo de industrialização fizeram com que a docência se tornasse ainda mais viável às mulheres. Para saber mais sobre esse assunto, há um artigo de fácil leitura sobre a feminização da profissão docente no blog “A Pedra”, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que pode ser lido se para se aprofundar no assunto. Recomendo inclusive, passear pelas referências do artigo! ??

Dificuldades de hoje e sempre das mães, professoras e meninas

As creches e pré-escolas já vinham sendo discutidas como meio de apoiar o desenvolvimento das crianças há mais tempo no contexto europeu. A discussão demorou para chegar por aqui e ganhou destaque em grande parte pela luta das mulheres em meio aos movimentos feministas.

Graças as reivindicações de mulheres que buscavam uma carreira profissional e independência financeira, a Educação Infantil foi caminhando para que as crianças pudessem ser cuidadas em espaços institucionais pensados para elas. Já avançamos nesse assunto, porém, muitas mães ainda não encontram vagas para seus filhos.

Quando eu trabalhava com os bebês, lembro-me até hoje da luta das mães por uma vaga na  minha turma. Havia (e ainda há) listas de espera e quando elas recebiam um telefonema comunicando-as que foram contempladas com uma vaga, era quase como se o bebê tivesse passado no vestibular de tanta alegria que sentiam.

Com relação às professoras, passamos por um processo histórico de feminização da profissão docente. Reconhecemos a importância da profissionalização docente para atuação com as crianças, porém ainda persistem os baixos salários em algumas prefeituras e na iniciativa privada. Além disso, falta valorização do trabalho da professora como profissional e a diferenciação daquele exercido pela mãe ou tia.

Nem de menino, nem de menina: Brincadeiras para todos

Para quem é útil: Crianças pequenas
Qual o objetivo: Propor jogos e brincadeiras que permitam às crianças maior liberdade de escolha sobre brinquedos e atividades, independentemente do gênero.
Campos de experiência da BNCC: EI03EO03, EI03EO05, EI03CG02

Já em relação às crianças, juntos temos caminhado nas discussões que envolvem a distinção dada à educação de meninos e meninas. Ainda é muito presente a ideia de que meninos brincam de carrinho, futebol e jogos de lógica, enquanto as meninas ficam com as bonecas, casinha e comidinha, o que reforça estereótipos de gênero.

Este ano, ao me apresentar às famílias, algumas delas me perguntaram qual era a minha posição sobre a chamada “ideologia de gênero” que, a meu ver, é uma expressão descabida, carregada de valores que em nada ajudam nosso trabalho. Porém, reconhecendo que se trata de um tema delicado e que merece atenção, busco conhecer qual o discurso das famílias sobre essa questão e reforçar que meus princípios sempre vão na direção de combate a qualquer tipo de preconceito.

Refletindo sobre a célebre frase de John Dewey: “A escola não é uma preparação para a vida. A escola é vida”, fica claro que esse tipo de valor chega dentro das nossas práticas com as crianças. Então nosso papel institucional é de “educar” e precisamos continuar envolvendo crianças e famílias nas nossas ações educativas. Afinal, trazer os familiares para esse diálogo é primordial para que nossas ações reflitam nos diálogos entre crianças e adultos dentro de suas casas.

Como visto, temos um histórico de lutas e conquistas a serem celebradas. Para além de parabenizar as mulheres pelo seu dia, reconheço que ainda há muito a ser conquistado para uma posição mais justa na sociedade que ainda é estruturalmente machista.

Um abraço carinhoso em especial às professoras que sempre me acolheram tão bem nesse ambiente majoritariamente ocupado por vocês! Meu carinho, admiração e reconhecimento pelas lutas de vocês. Este que vos fala sempre será um aliado na busca pelos seus direitos.

Evandro

Evandro Tortora é professor de Educação Infantil há 7 anos na Prefeitura Municipal de Campinas, licenciado em Pedagogia e Matemática e doutor em Educação para Ciência pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Bauru. Além da docência na Educação Infantil, tem experiência com pesquisas na área da Educação Infantil e Educação Matemática, bem como desenvolve ações de formação continuada para professoras e professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental.

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