Gestão escolar: ações para garantir a aprendizagem na idade certa
Para evitar a retenção e a distorção idade-série, um dos caminhos é desenvolver um trabalho individualizado e com foco nas necessidades dos estudantes
POR: Paula SalasCada aluno tem um tempo e uma forma de aprender. Uma das dificuldades enfrentadas pelas escolas é gerir as especificidades e necessidades de turmas heterogêneas. No entanto, construir planos de aprendizagem específicos é um dos pontos-chave para os estudantes terem uma trajetória de sucesso.
"É importante individualizar o aluno. Ele tem um nome, uma história e sabe o que aprendeu e o que não aprendeu", enfatiza Elizabeth Gonçalves Martes, diretora da Escola Estadual Prof. Suetonio Bittencourt Júnior, em Santos (SP).
Podemos considerar que um dos indicadores do sucesso das redes nesse quesito é a taxa de distorção idade-série, divulgada no Censo Escolar. Ela calcula a porcentagem de alunos que cursam determinada série fora da idade esperada. Para configurar distorção, o estudante precisa estar, pelo menos, dois anos atrasado.
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Esse descompasso, além de apontar que os alunos estão com dificuldade de seguir a trajetória escolar esperada, traz outras consequências a longo prazo. "Produz dois grandes problemas: a dificuldade de gerir uma sala de aula com alunos com idades muito diferentes e o abandono escolar", diz Ernesto Faria, diretor-fundador do Instituto Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).
Segundo ele, a reversão do quadro não é tão simples. "A distorção é um sintoma. É uma taxa muito difícil de mexer no curto prazo, porque se o aluno tem uma reprovação no Fundamental 1, ele vai continuar atrasado", explica. Por isso, é preciso monitorar essa taxa a longo prazo e, em paralelo, ter ações focadas no acompanhamento da aprendizagem, além de rever as estratégias avaliativas. "Tem de repensar a cultura da reprovação", afirma o especialista.
Como estamos hoje nos dados de distorção idade-série
O Censo Escolar 2020, divulgado em abril de 2021 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), aponta uma média geral no Ensino Fundamental de 17,8% nas escolas públicas. Isso quer dizer que, a cada 100 alunos, aproximadamente 17 deles estavam com atraso escolar.
Dentro dos ciclos, o mais preocupante é o cenário dos Anos Finais, com uma taxa de 25,7%, enquanto nos Anos Iniciais essa porcentagem é de 11,1%. Na Educação Básica, o Ensino Médio registra a maior proporção, com 28,9% dos alunos. Para saber mais sobre os dados, na plataforma do QEdu é possível conhecer o histórico do índice de 2006 até 2020, por rede de ensino, tipo de escola, etapa e Estado.
No Panorama da distorção idade-série no Brasil, publicado em 2018 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), as recomendações para reverter o cenário incluem a construção de uma rede de proteção e de apoio à aprendizagem. As ações envolvem iniciativas da rede e de cada equipe gestora e docente.
Para começar, sugerem-se diagnósticos para avaliar a dimensão do problema. A partir dessas informações, caberia às escolas fazer uma análise das necessidades de cada aluno e construir um currículo que permita a aprendizagem de todos e respeite o processo e tempo de aprendizagem de cada um.
Corrigir as defasagens para garantir o avanço
Esse trabalho pode ser observado na prática da Escola Estadual Pedro II, em Belo Horizonte (MG). Lá, desde que os estudantes entram no 6º ano, é realizado um trabalho para detectar as dificuldades com o objetivo de atuar em cima das defasagens e avançar nas habilidades previstas.
"A maior parte dos alunos vem dentro da idade esperada, mas muitos têm fragilidades na aprendizagem que buscamos corrigir [para evitar a retenção no 9º ano e uma possível distorção]", explica Flávia Araújo, diretora da escola.
Para começar, eles buscam compreender o histórico do aluno. O estudante também realiza diversas avaliações diagnósticas. A partir dos resultados, a equipe docente identifica as dificuldades e faz o planejamento com base nessas informações para garantir as aprendizagens em defasagem e o avanço de todos.
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Assim como a Pedro II, a Suetonio Bittencourt Júnior também constrói um plano de aprendizagem para cada aluno a partir de sua chegada. A gestão identifica o perfil do estudante e realiza um diagnóstico. “A partir disso, começa o trabalho pedagógico, que é constantemente acompanhado para entender as habilidades em defasagem, o que eles conseguem fazer e qual o retorno das atividades", explica a diretora Elizabeth.
Esse trabalho de monitorar a aprendizagem dos alunos e construir o plano de estudos é contínuo. "Eu preciso ter esse acompanhamento o tempo todo. O que não quer dizer voltar atrás, mas garantir que o conhecimento esteja enraizado para poder avançar", ressalta a diretora da escola paulista.
Trabalho em conjunto
A atuação da Suetonio Bittencourt Júnior pode ser dividida em três frentes: acompanhamento da aprendizagem, alinhamentos entre toda a equipe e a individualização.
Este último é um dos pontos-chave do trabalho: ter um olhar próximo das necessidades de cada aluno. Quando o estudante entra na escola, ele conhece todos os educadores e escolhe um professor-tutor, que será responsável por acompanhar o seu desenvolvimento.
Além dos componentes curriculares, o aluno tem aulas de nivelamento, focadas em suas defasagens, e momentos de tutoria, em que o educador o auxilia na orientação de estudos. "O tutor vai considerar o acadêmico e o emocional", conta Elizabeth.
Durante todo esse processo, há reuniões constantes entre a gestão da escola e a equipe docente. Nos encontros da equipe, eles analisam, discutem e criam estratégias para cada estudante.
"A partir dos alinhamentos, fazemos o acompanhamento para garantir que o aluno alcance o sucesso que é seu por direito", afirma a educadora. Com esses momentos de trocas, os professores de todos os componentes têm visibilidade do que está sendo trabalhado em cada frente. Dessa forma, todos conseguem estar em sintonia e colaborar para o avanço do estudante.
Além do envolvimento do jovem e da equipe escolar, é fundamental incluir as famílias no processo. "Não fazemos milagre. Precisamos nos aproximar dos pais e responsáveis e entender os motivos da defasagem e o que já foi feito para traçar uma estratégia diferente. É uma parceria entre família, aluno e escola", afirma Flávia.
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