Use jogos de alfabetização para desenvolver habilidades matemáticas
Entenda os benefícios de aliar os conhecimentos e conheça três sugestões de atividades
POR: Selene ColettiSe você é professor alfabetizador, é provável que em sua sala tenha um bingo de letras ou de nomes, jogo da memória com letras e nomes, dominó de nomes, entre outros. Esses materiais podem ser utilizados não somente para desenvolver habilidades de leitura e escrita, mas também as de Matemática.
Muitas vezes, durante o ciclo de alfabetização, o espaço do componente é restrito. Para o desenvolvimento de um conhecimento matemático significativo, a Base Nacional Comum Curricular propõe uma retomada das “vivências cotidianas das crianças com números, formas e espaço, e também as experiências desenvolvidas na Educação Infantil”, isto é, atividades que não se restrinjam a aprender as quatro operações. Para tal, usar jogos é um caminho interessante.
Explore o potencial do nome próprio na alfabetização
Se você não tem o hábito de usar jogos na alfabetização, conheça no Nova Escola Box o banco de ideias para usar nomes próprios no desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita e Matemática.
Para planejar esse trabalho, compartilho três sugestões de como usar essas atividades para desenvolver tanto a alfabetização quanto a Matemática. Confira:
1. Bingo de letras
Este jogo é comum tanto na Educação Infantil quanto no 1º ano do Fundamental. Ele permite que a criança conheça as letras e reconheça os sons delas. Com questionamentos simples você também consegue desenvolver noções de quantidade de uma forma contextualizada.
Para trabalhar a contagem de uma forma prazerosa, antes de iniciar o sorteio das letras, solicite que as crianças peguem o tanto de marcadores necessários para cobrir todas as letras do nome - ou da cartela, caso seja de letras aleatórias.
Explore as quantidades com as crianças e faça questionamentos para que elas reflitam e comparem, por exemplo, quem tem mais letras e aquele que tem menos. Conforme for acontecendo o jogo, pergunte quantas eles já preencheram e quantas faltam.
Combine uma quantidade de partidas com a turma e pergunte como registrar os resultados. Certamente vai aparecer a tabela como um formato – se não surgir, também pode apresentar para eles. Dessa forma, eles também entram em contato com a forma de fazer a leitura dessas informações.
Depois de jogar, problematize algumas situações observadas. Por exemplo:
- Na cartela que Ana está usando tem oito letras, ela já marcou três, quantas ainda precisariam ser marcadas para completar a cartela?
- Na cartela do João faltam três letras para completar. Era possível ganhar com uma única letra sendo sorteada?
É fundamental que os alunos expliquem suas ideias justificando suas respostas. Dessa forma, entenderá como estão pensando. Para quem está trabalhando de forma remota, é possível enviar o bingo para ser jogado com a família e solicitar que façam esses registros para compartilhar com toda a turma.
Na semana passada, pedi que os alunos jogassem o bingo de letras utilizando os nomes das mães e avós. Eles tinham que jogar três partidas, ou mais, e registrar na folha que enviei.
Ao compartilhar os registros, perguntei a quantidade de partidas jogadas, quem ganhou e quantas rodadas o segundo colocado precisava ganhar para empatar com o primeiro. Nesse momento, observei o que cada aluno compreendeu do que jogou e o quanto cada um já sabia ou que ainda precisa saber. Dessa forma, posso redirecionar meu olhar e planejamento.
2. Memória de nomes e letras
O jogo da memória de letras e nomes da turma traz uma ótima oportunidade para entender as ideias de dobro e metade. Propus que as crianças jogassem em casa com a família e pedi que registrassem a quantidade de cartas que cada um possuía ao final do jogo e a quantidade de pares.
Um dos registros veio assim:
O jogo enviado possuía 22 cartas. Logicamente o registro não estava correto, mas trouxe uma riqueza de questionamentos. Comecei perguntando quantas cartas as duas tinham. Com isso, percebi que as crianças não conseguiam contar até chegar no número, pois tinham que contar e recontar nos dedos dez mais dez. Trouxe a reta numérica para ajudá-los e conseguiram perceber que faltavam duas cartas no registro.
Na sequência, explorei o que entendiam por par. Como estava difícil para que entendessem, desenhei os pares formados com as 22 cartas. A turma chegou à conclusão que a quantidade anotada estava errada e que seriam cinco pares para cada uma.
No dia seguinte, perguntei quantas cartas seriam necessárias para formar os sete pares da Renata e os quatro da Sílvia. Pedi que desenhassem os pares e me respondessem. Concluíram que eram catorze e oito cartas, respectivamente. Questionei quantas cartas dariam no total.
Calcularam na reta numérica e viram que dariam 22 cartas, ou seja, o total de cartas do jogo. Perguntei o que era necessário fazer para que o registro da colega ficasse correto. Depois de alguns questionamentos concluíram que a quantidade de cartas estava errada. Vejam quantas habilidades matemáticas foram trabalhadas!
Curso: Jogos matemáticos para melhorar a aprendizagem no Fundamental 1
Entenda o que deve ser considerado na escolha de um jogo e como ele pode ser um recurso eficiente e potencializador de aprendizagens previstas na BNCC.
3. Jogo de percurso de letras
O jogo de percurso de letras consiste num trajeto com cerca de 30 casas nas quais estão as 26 letras do alfabeto e ações a serem realizadas como “vá para a casa que tenha a inicial do seu nome” ou “fale uma palavra começada com a letra do seu nome”. Neste jogo avança-se, utilizando um marcador, o tanto de casas que foi obtido ao lançar o dado.
Permite explorar o reconhecimento da grafia e do som das letras. Também te dá indícios se os alunos conseguem conservar quantidades. Isto é, perceba se, ao jogar o dado, precisam contar todas as vezes ou se reconhecem a quantidade de marcas do dado e sabem andar no percurso. Enquanto jogam, problematize situações do percurso. Por exemplo, se um aluno está na casa L, quanto precisa tirar no dado para passar na frente de quem está na casa Q.
A diferença está nos questionamentos que você faz para os alunos para que eles reflitam, coloquem em prática e desenvolvam noções matemáticas. Que tal levar esse olhar matemático para os jogos de alfabetização da escrita? Quem sabe você não descobre a matemática em outras áreas do conhecimento também? Nos conte nos comentários sua experiência!
Um abraço e até a próxima,
Selene
Selene Coletti é professora há 40 anos na rede pública. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.
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