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Clima escolar: como fortalecer os vínculos e mediar os conflitos

Entenda como a gestão pode cuidar do ambiente escolar e superar os desafios percebidos na retomada presencial

POR:
Carol Firmino
Crédito: Getty Images

Com a retomada presencial, os desafios são diversos. Eles vão desde cuidar da recuperação e do avanço na aprendizagem até garantir os protocolos de biossegurança. Outra demanda urgente é pensar a convivência, fortalecer os vínculos e traçar estratégias em prol de um bom clima escolar – entenda o que está envolvido na análise do ambiente escolar.

Em Bagé (RS), Janice Oliveira da Fonseca, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Kalil Abdala Kalil notou, na volta presencial, os estudantes mais introspectivos: “É como se o ambiente escolar fosse desconhecido para eles. Com certeza, nos causou estranheza esse comportamento das crianças. Pensamos que o afastamento [resultou em] uma ruptura nos laços aluno-escola”, diz.

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De acordo com Adriana Ramos, pós-doutora em Educação e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é fundamental pensar no fortalecimento da cultura do diálogo. “É a partir do gestor que esse modelo se institucionaliza. É importante quando há uma liderança que articula as conversas, dá condições para elas acontecerem e determina um momento para olhar para a escola”, explica. 

A figura do gestor escolar nesse trabalho é central. “O gestor é responsável por reunir a equipe para debater o que está bom e discutir formas de melhorar o que for necessário”, descreve a Janice. Também é necessário ter uma atenção especial para quem mais precisa e pensar em estratégias de acolhimento e busca ativa dos alunos que estão afastados da escola. 

Os conflitos da retomada

Em seu desafio de fortalecer os vínculos na EMEF Kalil Abdala Kalil, a gestão escolar organizou uma boa recepção de educadores, funcionários e estudantes. “Deixamos os professores à vontade para que continuassem o contato com seus alunos via WhatsApp. Pedimos que priorizassem atividades lúdicas em sala e momentos de conversas com a turma para que eles voltassem a se sentir pertencentes ao ambiente escolar”, explica Janice. A indicação resultou em propostas de projetos que envolviam toda a comunidade escolar, como brincadeiras e jogos para refletir o respeito aos animais; desafios matemáticos e de língua espanhola e momentos de danças tradicionais. Todos com participação ativa dos alunos na elaboração. O objetivo era fortalecer a conexão entre todos.

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Adriana, que acompanha escolas públicas e particulares, conta que os professores têm relatado turmas mais imaturas, com atitudes inadequadas, provocações e as famosas “lutinhas”. “O atraso no desenvolvimento socioemocional gera indisciplina e [tem resultado em] queixas das famílias. Os responsáveis questionam por que todos os dias há confusão”, relata a especialista. Para ela, é fundamental incluir pais e responsáveis na reflexão de estratégias para melhorar o clima escolar. Isso possibilita que entendam (e apoiem) o trabalho que está sendo realizado pela escola. 

Na Escola Estadual Dr. Augusto Mariani, em Andradina (SP), o problema é outro. A gestão escolar enfrenta a resistência de alguns alunos em relação ao uso obrigatório de máscara. Marcia Campos, vice-diretora na instituição, conta que tem apostado na conscientização contínua para diminuir o problema. A escola, que ainda não voltou 100% presencial e está atuando em esquema de rodízio das turmas, fixou cartazes por todo o espaço físico com informações sobre o assunto e realiza palestras e rodas de conversa.  

Diálogo, paciência e resiliência

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Adriana aponta algumas estratégias que podem funcionar: fazer acordos e combinados com os alunos, propor momentos de autoavaliação e reflexão, e as sanções por reciprocidade – que não buscam impedir que o estudante participe de determinadas atividades, mas permitem que ele faça parte desde que mantenha o comportamento adequado. 

Para resolver situações pontuais e comportamentos específicos, Janice sugere um caminho que não exponha o aluno em frente à sala: “Neste caso, o olho no olho, a conversa individual, sempre funcionou mais do que no grupo. Pela experiência de anos enfrentando indisciplina, constatei que chamar atenção em sala não surtia efeito, mas que, ao conversar sobre as atitudes que tiveram [fora de sala], os estudantes mudavam [o comportamento]”, afirma..


Convide as famílias a discutir assuntos importantes

O desafio de manter o bom clima escolar requer um trabalho feito com frequência e sem a pressa de soluções imediatas. Segundo Adriana, os estudos realizados pelo GEPEM apontam que é necessária uma busca contínua de melhorias para fortalecer os relacionamentos na escola. Nesse processo, a gestão não está sozinha. Ela pode (e deve) buscar o apoio das famílias. 

Para tal, uma estratégia possível é organizar rodas de conversa, com a participação dos responsáveis, para discutir temas relacionados aos desafios específicos de cada instituição de ensino. “Mandamos para as famílias o convite com o tema que vamos abordar. Por exemplo, em uma escola estamos trabalhando a diferença entre conflitos e bullying, porque é uma dúvida muito recorrente”, explica Adriana. “Em vez de fazer uma grande live para todos, estamos investindo em conversas [com grupos menores] para cada ano”, complementa.

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Para organizar esse momento, ela sugere que a gestão faça uma fala inicial de introdução e depois abra para que os responsáveis participem e tirem dúvidas sobre o assunto. O objetivo é que todos possam falar, se sintam acolhidos e pensem juntos em ações para a escola