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Educação Infantil: como organizar portfólios

Confira sugestões para documentar e guardar as aprendizagens e as memórias afetivas da turma, refletir sobre a prática e se comunicar com as famílias

POR:
Ingrid Yurie
Foto: Mariana Pekin/NOVA ESCOLA

Para o primeiro semestre de 2022, Cláudia Aparecida Cesar Rezende, educadora na EMEI Brigadeiro Eduardo Gomes, na capital paulista, elegeu as emoções como fio condutor dos portfólios da turma de quatro e cinco anos. Ao longo dos meses, ela vem observando e registrando o desenvolvimento dessa dimensão em especial, dado que as crianças, muito impactadas pela pandemia, voltaram à escola mais chorosas e irritáveis. Dentre os registros, estão as anotações de uma conversa sobre o desenvolvimento da muda de uma planta entregue no ano passado para as crianças, quando aconteceu o fechamento da unidade, por causa da pandemia, e da qual até hoje elas seguem cuidando. “Na escola, temos uma visão privilegiada da criança. Muitas vezes somos nós – e não a família – que a vemos dar o primeiro passo. Os portfólios dão a oportunidade de compartilhar tudo com as famílias de forma qualificada”, explica Cláudia. 

O portfólio também é um instrumento de avaliação processual de cada um, da turma toda e do trabalho docente, além de contribuir para aproximar as famílias da Educação: os adultos passam a entender melhor as propostas desenvolvidas e as conquistas de cada criança. Mas para que tudo isso aconteça, os portfólios precisam ser mais que uma reunião de imagens ou apresentar apenas os bons resultados. Na Educação Infantil, o material tem de ser montado para evidenciar os processos de aprendizagem do começo ao fim e relançar outro ponto de partida para as aprendizagens seguintes. E, para isso, a palavra de ordem é planejamento. Confira a primeira reportagem desta série, sobre o planejamento pós-pandemia – desafios e caminhos –, e a segunda, sobre avaliação na Educação Infantil

“Começo estabelecendo as expectativas de aprendizagem para o período e depois penso nas propostas que vou fazer para as crianças atingirem esses objetivos. Daí planejo o que preciso observar para acompanhar o desenvolvimento delas e também como vou registrar esse processo”, conta Regina Lúcia Rodrigues, educadora na EMEI Hermínia Neves Vitiello, no Guarujá (SP). 

Ela afirma que, assim, garante a intencionalidade pedagógica do portfólio e evita que a parte de fazer os registros tome muito tempo da vivência com as crianças. Isso porque, sem escolhas prévias, corre-se o risco de se perder em uma infinidade de registros que demoram para serem organizados e, por vezes, acabam não contando direito a história do desenvolvimento da criançada. 

Foto: Mariana Pekin/NOVA ESCOLA

O que há em um portfólio?

Esse documento costuma ser composto por fotos e produções dos pequenos, mas vale a pena ir além. Vários registros podem enriquecer o material: linhas do tempo, anotações feitas no dia a dia pelo educador, legendas que contam sobre o contexto de uma atividade, revelam falas de uma criança ou do planejamento docente, comentários das famílias e da turma, bem como transcrições de vídeos e áudios. 

“Na volta às atividades presenciais, também é importante incluir, no início do portfólio, registros que permitam saber como foi a pandemia para a turma, como fotos, anotações do que elas contam do período de isolamento e depoimentos das famílias sobre o que os pequenos aprenderam em casa”, diz Nilcileni Brambilla, formadora de professores e produtora de materiais pedagógicos para a NOVA ESCOLA. “Tudo isso favorece uma escuta sensível e diagnóstica de como foi, para as crianças, o tempo longe da escola, o que construíram e como estão agora”, completa. 

Já o formato pode variar. Tradicionalmente, os portfólios são organizados em pastas e folhas de papel. Mas, a depender da intencionalidade pedagógica, podem ser feitos em caixas com os materiais ou em arquivos virtuais, usando plataformas como Google Sala de Aula e Prezi.

É possível ainda criar um grupo ou perfil em redes sociais como Facebook, Instagram e WhatsApp para montar portfólios. Para garantir a privacidade de todos e a finalidade, é importante fazer combinados sobre a função da plataforma e como utilizá-la e configurar a ferramenta para que o grupo ou o perfil não sejam públicos.

Em relação à periodicidade e à escolha entre portfólios coletivos ou individuais, a decisão depende das orientações do currículo municipal, do Projeto Político Pedagógico da escola e da intenção do educador. Portfólios individuais mostram o percurso de uma criança em relação ao desenvolvimento de aspectos específicos. Já os coletivos são interessantes para documentar projetos que envolvem a turma toda. “A periodicidade que abarcam depende de quanto tempo os pequenos precisam para revelar que aprenderam algo. O docente precisa de muita autonomia para tomar todas essas decisões”, fala Denise Tonello, autora do livro Portfólio: pra que te quero? (Pedro & João Editores), formadora de professores e orientadora pedagógica no Colégio Miguel de Cervantes, em São Paulo (SP).

Foto: Mariana Pekin/NOVA ESCOLA

O portfólio também é das crianças e das famílias

Ao longo do semestre, Regina, educadora na Hermínia Neves Vitiello, se organiza para montar um novo trecho do portfólio. Assim, o trabalho tem de ser feito no final do período, e ela tem a oportunidade de avaliar processualmente as crianças e envolvê-las nessa atividade. “Chamo cada um individualmente, ou no máximo em trios, para selecionar alguns registros para o portfólio enquanto a gente conversa sobre isso”, conta. 

Ao incentivar que a criança escolha um registro que revela algo que aprendeu, que comente como foi a atividade, quais aprendizagens tirou disso, o que está diferente em relação ao momento atual e como percebe sua própria evolução, a aprendizagem se torna mais visível e consciente e os pequenos ganham protagonismo em relação ao próprio percurso. Além disso, a conversa com a turma permite corrigir rotas enquanto há tempo para replanejar, em vez de apenas constatar algo no final do processo.

“A avaliação não é da criança, e sim dos caminhos que ela tem para aprender e de como ela pensa sobre o que aprendeu. Para o educador, é uma oportunidade de reflexão sobre o próprio trabalho”, explica Denise. 

Por conta disso tudo, também vale incluir experiências que podem não ter dado tão certo, evidenciando para as crianças que as frustrações fazem parte do aprendizado e que uma avaliação está muito além de certo ou errado: tem a ver com o processo. 

Rodas de conversa sobre os registros e tempo para que as crianças apreciem os portfólios umas das outras também contribuem para que elas deem sentido para as vivências e se compreendam como parte de um coletivo. “Elas veem diante delas um livro do qual são autoras, mas que também está inserido no coletivo do grupo, com participação ativa na parte e no todo”, destaca Cláudia.  

Para além das crianças, vale que as famílias também se envolvam em todo o percurso, não apenas no final, quando recebem os portfólios prontos. “Antes de tudo, pais e responsáveis precisam saber o que é um portfólio e qual sua finalidade na escola. O documento pode ser enviado para a casa a cada dois ou três meses, por exemplo. E, em eventos da escola, ficar disponível para ser apreciado por todos”, orienta Nilcileni.

Regina costuma entregar, periodicamente, os portfólios para as famílias levarem para casa. Eles vão acompanhados de um pedido para que pais e responsáveis anotem algum avanço recente que perceberam nas crianças, e isso também passa a integrar o material. “Assim, todos se entendem como parte do processo de aprendizagem, e é uma oportunidade de troca de olhares entre escola e família sobre a criança e a forma de trabalhar da Educação Infantil”, afirma. Confira a quinta reportagem desta série, sobre como fortalecer a relação família-escola e ampliar o apoio no processo de retorno às atividades presenciais

Para contribuir com a atividade docente de planejamento e elaboração de portfólios, a NOVA ESCOLA apresenta um passo a passo para você se organizar neste momento de volta às atividades presenciais.

Consultora pedagógica: Nilcileni Brambilla, formadora de professores e autora do Material Educacional da NOVA ESCOLA.

Esta reportagem faz parte do projeto Aprendizagem na Educação Infantil. Confira os demais conteúdos realizados em parceria com o Instituto Chamex.

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