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Educação Infantil: dicas para trabalhar o folclore com as crianças

Confira alguns caminhos para consolidar propostas que valorizem as diferentes manifestações culturais do nosso país

POR:
Paula Sestari

Imagem: Ana Maria Sena/NOVA ESCOLA

Olá, professoras e professores! Entramos em agosto, e o dia 22 deste mês é conhecido como o Dia do Folclore Brasileiro. É uma data importante para nós porque coloca em evidência elementos da cultura popular que são alimentados por gerações, por meio do patrimônio artístico e cultural – constituído sob nossas origens indígenas e também com elementos de outras localidades, principalmente da África e da Europa.

Para começo de conversa, vale reforçar que é crucial abordar o folclore de maneira integrada e integradora na Educação Infantil, sempre visando garantir os direitos de aprendizagem.

Lembrando que o currículo, orientado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), tem como foco o cotidiano de vivências e experiências, o que exige que o planejamento e as propostas desenvolvidas estejam centradas nas crianças. Sendo assim, nosso desafio inicial é: como fazer com que algo tão relevante quanto a temática folclórica tenha sentido para os pequenos?

Para responder a essa questão, é fundamental inicialmente recordar o caráter intencional de toda ação educativa. De acordo com a BNCC, “a intencionalidade consiste na organização e proposição, pelo educador, de experiências que permitam às crianças conhecer a si e ao outro e de conhecer e compreender as relações com a natureza, com a cultura e com a produção científica, que se traduzem nas brincadeiras, na aproximação com a literatura e no encontro com as pessoas”.

Dessa forma, tendo em vista essa dimensão intencional da prática do professor, e com o objetivo de promover situações para ampliar o repertório dos pequenos a partir dos princípios ético, estético e político, quero compartilhar um exemplo da escola em que atuo, que sinaliza possibilidades interessantes para o trabalho com folclore.

Caminhos para propostas com temas folclóricos

Tudo começou quando uma colega, professora da pré-escola, percebeu que os títulos disponíveis para a leitura de imagens realizada diariamente já não eram mais tão atrativos, fazendo-se necessária uma rotatividade de materiais.

Ela propôs, então, uma reorganização observando quais obras continuavam de interesse do grupo e quais poderiam ser emprestadas ou disponibilizadas para outras turmas. Nesse processo, acrescentou outros livros de literatura infantil, entre eles, coleções de histórias do folclore brasileiro como saci-pererê, curupira, mula sem cabeça, entre outros.  

O primeiro ponto observado foi que esse material reorganizado despertou a curiosidade das crianças, que passaram a solicitar, todos os dias, a leitura em voz alta pela professora.

Com isso, ela passou a contemplar esse interesse em seu planejamento com propostas como: apresentação dessas narrativas folclóricas por meio de outros suportes, como vídeos e outros livros; dramatizações das histórias com a construção de figurinos; brincadeiras que trazem movimentos, sons e formas desses personagens clássicos; e sessões de cinema com produções nacionais que abordam nosso folclore, como a série Sítio do Picapau Amarelo, clássico de Monteiro Lobato adaptado pela TV Globo.

O ponto alto dessas ações, no entanto, ainda estava por vir: a professora pediu que as crianças entrevistassem seus familiares em busca do repertório que possuíam sobre as lendas do folclore brasileiro – e, posteriormente, pediu que os pequenos recontassem essas memórias em sala.

Assim, ela alcançou o objetivo de fomentar momentos em que saberes fossem compartilhados entre gerações; afinal, é dessa forma que a cultura se movimenta e se renova. Para finalizar, a turma foi desafiada para a construção de uma história coletiva, na qual a professora tornou-se escriba de uma narrativa conduzida pelo grupo. Vocês já podem imaginar como ficou esse enredo, não é mesmo?

O interessante é que, ao longo dessas atividades, o mergulho nas tradições populares foi se tornando ainda mais profundo na nossa escola por meio das brincadeiras, cantigas e mesmo com a identificação de instrumentos musicais como a sanfona dos clássicos de Luiz Gonzaga.

Aqui no Sul do país, de onde escrevo, ela é conhecida como acordeon, ao qual as crianças foram apresentadas por uma pessoa da comunidade que aprendeu a tocá-lo com o pai e o avô. Todos tiveram a experiência de apreciar diferentes sonoridades como o baião, o forró, o xote e a vaneira, em uma viagem pelos ritmos do país.

A chave está nos bons planejamentos

Como demonstrado nas iniciativas que destaquei anteriormente, é possível, e mesmo imprescindível, organizar, a qualquer tempo, situações que aproximem as crianças da riqueza de manifestações culturais do nosso país por meio das lendas, brincos, canções, instrumentos e artes plásticas e visuais.

Se, por um lado, o acesso a recursos tecnológicos nos ajuda a propiciar o contato com a multiplicidade de conhecimentos das diferentes regiões do Brasil, por outro, o resgate da cultura local nos permite valorizar os saberes próprios da comunidade da qual as crianças fazem parte. Ambos se complementam.

Só que, para que tudo isso se concretize, o planejamento é peça-chave. E aqui mesmo, na NOVA ESCOLA, temos ferramentas que podem nos apoiar nesse processo. Separei duas delas: esta lista de planos de atividades para serem desenvolvidos em sala e esta outra compilação de boas referências sobre a temática folclórica.

Partindo dessas sugestões, vocês, professoras e professores, podem, de maneira intencional, garantir que as crianças tenham boas oportunidades para desenvolver a conduta ética, pelo respeito e a empatia por diferentes formas de expressão de pessoas e povos, e também com o apreço estético pelas belezas do nosso folclore.

Os pequenos também podem elevar a imaginação e a habilidade de criação, tópicos fundamentais para o seu desenvolvimento integral. E ainda há o lado político, já que, ao analisar criticamente diferentes manifestações culturais – algumas delas alvo de preconceito ou estereótipos –, conseguem identificar pontos de interesse e reconhecer as diferenças no convívio diário como algo que nos engrandece.

Com tantas possibilidades de trabalho, podemos fazer desse dia 22 de agosto um momento de celebração e de enaltecimento dos saberes do nosso povo, sendo bem mais que uma data ou um assunto que aparece repentinamente no cotidiano das crianças.

Um abraço e até breve! 

Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.

 

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