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Diversidade histórico-cultural na Educação Infantil: como trabalhar?

O próprio dia a dia escolar traz vivências que permitem às crianças desenvolverem um olhar sensível e empático para o meio social e cultural

POR:
Paula Sestari
Crédito: Getty Images

Olá professores e professoras, tudo bem? Chegamos ao mês de abril, período em que, historicamente, a questão indígena entra em pauta nas nossas escolas. Por isso, penso que seja oportuno trazer a reflexão sobre a melhor maneira de tratar de temas como a diversidade histórico-cultural na Educação Infantil

Felizmente, hoje nós observamos uma ampliação da consciência de que essa abordagem deve contribuir para que as novas gerações entendam a matriz histórica brasileira de uma maneira respeitosa e crítica. Inclusive, nosso esforço deve ser para tratar desse tópico ao longo de todo o ano; afinal, trazer estes temas apenas nas datas comemorativas é algo que acaba por calar questões sobre as desigualdades existentes em nossa sociedade, bem como todo o legado de variados povos em diferentes espaços e tempos. 

Assim, de acordo com a BNCC, “na Educação Infantil, é preciso criar oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas”.

Ou seja, é importante olhar para a diversidade em meio às demandas do cotidiano, quando bebês e crianças pequenas estão estabelecendo seus primeiros contatos com o meio social e cultural. 

Com isso, gostaria de aproveitar esse espaço e trazer exemplos de como podemos abordar essas questões no dia a dia de maneira formativa. Trata-se de situações que vivenciei e que surgiram das próprias crianças – o que ilustra como elas mesmas podem nos dar alguns indícios e ajudar a pensar em diálogos com a diversidade de costumes, práticas culturais e modos de vida.

Atividades de Educação Infantil: Planejamentos alinhados à BNCC

Neste curso você conhecerá experiências e sugestões que ajudam a realizar um planejamento alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e voltado aos interesses e à perspectiva das crianças que frequentam a Educação Infantil. 

Propostas envolvendo corpo e representações

Nas primeiras vivências do ano na escola, as crianças se aventuraram ao se apropriar do corpo como um suporte para criar representações, além de usar os diferentes materiais disponíveis para o desenho e pintura. A partir dessa situação, busquei trazer imagens de pessoas indígenas e de outras culturas que carregam, em suas tradições, a pintura corporal para comunicar diversas situações como marcos de vida, festividades e celebrações. 

Em seguida, as crianças observaram as imagens de maneira atenta, descrevendo as cores e buscando identificar em seus próprios corpos tudo o que iam descobrindo nas imagens. A cada olhar delas em busca de apoio, aproveitei para tecer comentários que buscavam aproximar as práticas culturais de nossos ancestrais com os interesses demonstrados por elas.

Depois, vivenciamos outras propostas relacionadas, como a experimentação de tintas naturais com terra, cenoura, beterraba e urucum. As crianças exploraram os materiais em diferentes suportes, incluindo a pintura em bonecos e a pintura corporal, e ainda criaram representações tendo como inspiração as imagens anteriormente exibidas – nesse momento, houve cócegas, arrepios, e mesmo olhares que se admiravam e se percebiam com outras nuances.

Desse modo, ao lidarem com essa prática característica dos povos indígenas, as crianças tiveram a oportunidade de conhecer diferentes formas de expressão, e ainda tiveram validados os interesses e conhecimentos trazidos por elas – uma experiência formativa condizente com os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento indicados na BNCC.

Vamos aprender ao ar livre?

Nesse Nova Escola Box, apresentamos aos gestores e professores da Educação Infantil os benefícios e possibilidades da aprendizagem em ambientes externos, que devem ser priorizados neste momento de retomada das atividades presenciais de acordo com os protocolos sanitários. 

Valorizando as diferenças com ações do cotidiano

Quando falamos de diversidade, é possível abordar identidade, respeito e empatia, e duas situações do meu cotidiano da Educação Infantil serviram como inspiração para propostas nessa linha. A primeira delas emergiu quando fiz um elogio ao cabelo de uma criança, ao que ela se virou e disse: “o da minha mãe é mais bonito, ele é assim..." e então, apanhou uma mecha de seu cabelo crespo e esticou.

Aquela cena me fez pensar em como poderia contribuir para que todas as crianças se percebam de maneira positiva, sem a necessidade de trazer outros modelos como referência. Assim, observando a nossa rotina, identifiquei que tínhamos por prática a padronização nos arranjos dos cabelos das crianças, mantendo-os presos por conta do clima quente e dos temidos piolhos.

Então, começamos em alguns momentos do dia a arrumar os cabelos das crianças priorizando a valorização das diferenças nas suas formas. Consequentemente, os cabelos (fossem eles lisos, encaracolados, cacheados ou crespos) passaram a ficar em evidência. Além disso, incentivamos também brincadeiras em que fosse possível sentir os cabelos uns dos outros.

Percebam que, novamente aqui, adentramos em questões culturais, agora de modo a contribuir para que as crianças construam novos significados com relação às características físicas de suas identidades étnicas  –  trazendo essa valorização para as ações que reforçam a indissociabilidade do cuidar e do educar.

Por falar em identidade, a segunda situação que mencionei no início desse bloco, essa bem recente, também me mobilizou a planejar situações que considerem a diversidade cultural. Tudo teve início com a  recepção de famílias advindas da região Norte do país (vale lembrar que estou na região Sul).

Em uma roda de conversa, as diferenças com relação à alimentação se tornaram assunto, porque uma das crianças que veio do Norte estranhou a polenta que tanto apreciamos por aqui, e compartilhou que gostava muito de cuscuz.

Com a curiosidade que um assunto como esse costuma despertar nos grupos, acredito que é possível organizar vivências para que as crianças tenham a oportunidade de conhecer alguns pratos típicos de diferentes regiões, a partir de referências como o milho, por exemplo. O que acham dessa ideia?

Para avaliar na Educação Infantil 

Esse Nova Escola Box pretende ajudar professores e professoras da Educação Infantil a fazer registros de qualidade das atividades na escola, com o objetivo de avaliar a própria prática e também o desenvolvimento das crianças. 


Vemos então, caros professores e professoras, que tratar de temas que envolvem a diversidade histórico-cultural na Educação Infantil requer de nós constante reflexão, além de um olhar crítico, sensível e consciente do nosso papel social no enfrentamento ao preconceito e à discriminação que levam à desigualdade. As crianças precisam do nosso esforço para que tenham experiências respeitosas com suas origens, história e futuro.

Um abraço e até breve!

Paula Sestari é professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com 10 anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto na área de Educação Ambiental com a faixa etária das crianças pequenas.