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Autismo e inclusão: 4 sugestões para fortalecer a parceria com as famílias na Educação Infantil

Experiências que congregam pais, responsáveis e educadores são muito importantes para consolidar uma escola que seja realmente inclusiva

POR:
Paula Sestari
Foto: Getty Images

Olá, professoras e professores! Como já mencionei em outras conversas neste espaço, a temática da educação inclusiva tem sido a minha grande área de interesse nos últimos tempos, até para poder intensificar a experiência de convívio com crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) na Educação Infantil.

Leia também: 8 perguntas e respostas sobre Educação especial e inclusiva

Para dar continuidade a esse assunto, quero trazer alguns pontos que, no dia a dia, entendo serem importantes na relação com as famílias. Vale ressaltar que é justamente no período da Educação Infantil que a maioria das crianças são diagnosticadas – inclusive, em muitos casos, é a partir do olhar e das considerações do professor que os familiares começam a busca por atendimentos específicos.

Assim, conhecendo os desafios desse momento de articulação com os pais e responsáveis e com diferentes profissionais da saúde, apresento aqui algumas sugestões com base nas ações concretas que estamos desenvolvendo na escola em que atuo. A ideia é demonstrar como a busca por uma educação que seja de fato inclusiva e de qualidade requer uma rede de fortalecimento coletiva.

1. Invista na sua capacitação e em conhecimentos sobre o TEA

Quando impulsionamos continuamente o nosso desenvolvimento profissional, conseguimos uma comunicação eficiente e estimuladora com as famílias, ajudando a desmistificar conceitos antigos e evitar expressões e termos inadequados, além de gerar segurança para nós mesmos e para os pais.

Em alguns momentos, médicos e outros profissionais da saúde podem solicitar à escola um relato com evidências do desenvolvimento da criança, um material que aborde aspectos como o comportamento durante as propostas desenvolvidas e situações da vida diária e das interações com os colegas. É crucial, então, que, ao construir esse documento, o professor apresente a criança inicialmente sem julgamentos e, depois, destaque os suportes oferecidos pelo ambiente e pelos adultos nesse contexto pedagógico. Esse relato ajuda muito a família na busca por profissionais que atendam as reais demandas dos pequenos.

2. Conheça a rede de atendimento disponível no seu bairro ou cidade

Pesquise programas, projetos ou pessoas que possam fazer parte da rede de apoio da sua instituição. Isso é importante tanto para ajudar na sua formação e na dos seus colegas sobre esse tema quanto para contribuir para o esclarecimento de dúvidas das famílias. Uma inquietação frequente de pais e mães é em relação ao acesso a serviços e atendimentos adequados para as crianças autistas – há muitas queixas relacionadas à ausência desses serviços na rede pública de saúde e até nas redes particulares.

Nesse sentido, a escola pode se tornar uma parceira para esses responsáveis que muitas vezes não sabem nem por onde começar quando se trata da busca por terapias e outros acompanhamentos. É interessante, desse modo, estruturar encaminhamentos iniciais para atendimentos com psicólogos, assistentes sociais, psicopedagogos e com os programas da própria Secretaria de Educação para o atendimento educacional especializado.

3. Organize momentos de conversa com foco na escuta das famílias

Na escola onde trabalho, idealizamos um grupo de apoio entre os familiares. Essa ideia surgiu da observação da insegurança dos pais e responsáveis que se descobrem com uma criança autista, algo que costuma trazer dúvidas, angústias e dificuldades muito similares.

O primeiro encontro aconteceu no mês de abril, por ocasião do Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que é dia 2. Desde então, temos reuniões mensais que duram cerca de uma hora e meia e são mediadas pela equipe da escola, que traz pontos-chaves para iniciar a conversa e depois deixa o espaço aberto para todos debaterem questões referentes principalmente à rotina das crianças.

O intuito é ser um canal de troca de ideias, de partilha de tópicos do cotidiano entre pessoas que estão adentrando agora nesse universo com tantas especificidades que é o TEA. Pelas devolutivas que recebemos das famílias, esse trabalho tem sido proveitoso, porque aqueles pais que estão há mais tempo sob acompanhamento motivam os pais que têm diagnóstico recente, desmistificam falas e concepções e ajudam ainda a perceber que a criança não se reduz a um laudo ou apenas às questões que envolvem o transtorno. Além disso, há o acolhimento de sentimentos e experiências que muitas vezes apenas um pai ou uma mãe de criança autista consegue compreender de fato.

4. Crie canais de comunicação com as famílias

Outra ação que tem apresentado resultados bastante significativos é a criação de um grupo de WhatsApp específico para essas famílias, visando a troca de informações pertinentes como: contatos de profissionais e outros assuntos mencionados durante as nossas conversas presenciais, materiais e links com estudos, entrevistas com especialistas, e também notícias de conquistas recentes – desde uma mudança na legislação até o surgimento de novos espaços de atendimento.

Temos ainda um informativo institucional mensal na escola, em que reservamos um espaço para que os outros pais conheçam nossas iniciativas. Trata-se de uma estratégia para multiplicar informações sobre o autismo para toda a comunidade escolar, já que somente o conhecimento é capaz de superar todas as formas de preconceito.

Os impactos dessas ações estão em contínua análise na nossa instituição, podendo ser modificadas ou mesmo ampliadas com o tempo. Nosso objetivo central é acompanhar a dinâmica das necessidades que as crianças e seus responsáveis apresentam para que cada vez mais sejamos uma escola acolhedora e integradora. Espero que essas sugestões o apoiem na hora de pensar, aí na sua escola, em iniciativas de parceria com as famílias. 

Um abraço e até breve!  

Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.

 

 

 

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