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Alfabetização Matemática: possibilidades do uso da calculadora em sala de aula

Conheça algumas sugestões para implementar o uso desse instrumento com as suas turmas

POR:
Selene Coletti
Foto: Getty Images

No século passado, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) traziam a calculadora como um recurso das tecnologias da informação, algo que na época gerou muitas polêmicas quanto ao seu possível uso em sala de aula. Atualmente, em pleno século 21, ainda há aqueles que acreditam que ela atrapalha o desenvolvimento do aluno, uma vez que ele encontrará nesse objeto mais facilidade para fazer as operações – e, como consequência, não irá aprendê-las.

 

Por trás dessas falas, está a concepção equivocada de uma Matemática que precisa ser decorada e memorizada para ser aprendida. Em um parecer que data de 1995, o professor Ubiratan D’Ambrosio já indagava: “Não consigo entender por que razão a calculadora ainda não se incorporou integralmente à Matemática escolar. Alguns admitem o uso das calculadoras, mas... E por conta desse ‘mas’ vêm as restrições, todas baseadas em ideias falsas”. Esses verdadeiros mitos, nas palavras do educador, impediam algo essencial: o emprego nas aulas de toda a tecnologia disponível no mundo atual, para tornar esse componente curricular uma ciência de hoje.

 

É nessa linha que quero desenrolar a nossa conversa, buscando mostrar a calculadora como uma ferramenta de aprendizagem. Nas minhas turmas, tanto nas da Educação Infantil quanto nas do Fundamental, esse instrumento sempre esteve presente. A seguir, compartilho um pouco das minhas experiências:

 

A calculadora e o faz de conta

 

Sempre gostei de introduzir a calculadora de forma bastante lúdica, colocando-a no chamado cantinho do faz de conta, onde simulávamos espaços como escritório, mercado e lanchonete. Trata-se de uma iniciativa que fazia muito sucesso, porque as crianças utilizavam o instrumento imitando ações que viam em casa ou que aprendiam sobre o seu uso social.

 

Analisando a utilidade do objeto

 

Ouvir as crianças é sempre prazeroso e nos dá muitas informações para conhecê-las e planejar nossas próximas aulas. Por isso, depois de um tempo explorando esses cantinhos do faz de conta, eu costumava organizar uma roda de conversa cujo tema era a calculadora.

 

Quando questionados sobre a utilidade dessa ferramenta, as respostas vinham carregadas das experiências trazidas de casa, reforçando o letramento matemático que vivenciam continuamente. Eram apontamentos como: “com ela, a gente aprende a calcular e a conhecer os números”; “meus pais usam no trabalho”; “serve para contar os preços dos brinquedos”; “para ver quanto vai gastar no mercado”, ou “usam para saber quanto devem de dinheiro”.

 

Nesse contexto, surgiam ainda falas como “a calculadora serve para fazer lição de Matemática em casa” – indicando que as crianças costumam saber muito bem que não é possível usar a calculadora na escola. A partir daí, é interessante programar o seu uso em sala de aula, permitindo que a turma explore a calculadora como instrumento de aprendizagem e de ensino. 

 

Sistema de numeração decimal, cálculo mental e operações

 

Seguindo nesse trabalho, é possível utilizá-la também como apoio para a compreensão de diferentes tópicos da Matemática – e aqui mesmo, nos planos de aula da NOVA ESCOLA, você pode encontrar excelentes sugestões. No entanto, deixarei outras ideias que já trabalhei e que foram bem-sucedidas com as minhas turmas.

 

Uma delas é em relação à posição dos algarismos e sua leitura. Inicialmente, solicite que os seus estudantes digitem dois algarismos na calculadora, por exemplo, dite 3 e 2 e depois 2 e 3. Em seguida, questione o número formado em cada uma das situações, se são iguais e se têm o mesmo valor.

 

Posteriormente, repita o procedimento ditando outros algarismos para serem teclados, indagando se são os mesmos símbolos (algarismos) e quais números são formados, bem como qual é o maior, o menor e o porquê. Ao final, incentive-os a dizer a que conclusão é possível chegar. Uma de minhas alunas disse certa vez que os símbolos eram os mesmos, mas que estavam em lugar trocado (“um foi para frente, e o outro para trás”) e deram origem, assim, a outro número. Vejam que raciocínio cheio de conhecimento!

 

Nessa mesma linha, vale propor uma brincadeira para ser feita em duplas: um dita os algarismos para o outro teclar e ler o número formado, invertendo os papéis depois de um tempo. Observar como fazem essa atividade permite ao professor conhecer as dificuldades e facilidades com a formação, a posição e o valor dos números – além de ser algo gostoso e divertido para as crianças.

 

Calculadora e o sistema monetário

 

Por fim, outra possibilidade contempla o estudo do sistema monetário. Traga folhetos de supermercado para que os alunos escolham, em pequenos grupos ou duplas, produtos que cheguem a um valor como dez reais – para o 1º ano, proponha essa quantia; para os demais anos, uma quantia maior. Dado esse desafio, é preciso que eles utilizem a calculadora para determinar quais os produtos que, somados, mais se aproximam do total. Pode parecer difícil para os pequenos, mas eles conseguem.

 

Essas são apenas algumas das possibilidades com essa ferramenta que abre um grande leque para trabalhar diferentes habilidades. E percebam que em nenhuma delas houve memorização – pelo contrário, os alunos puderam trocar ideias, experimentar o seu uso prático, tirar conclusões e utilizá-la como um instrumento motivador na realização das tarefas, comprovando, enfim, o quanto ela contribui para ensinar e aprender Matemática.

 

Até a próxima!

 

Selene

 

Selene Coletti é professora na rede pública há 40 anos. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por dez anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio Gestão para o Sucesso Escolar, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.

 

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