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Como estimular o desenvolvimento da fala e a oralidade na Educação Infantil?

Confira dicas para cada uma das faixas etárias visando impulsionar a expressividade das crianças

POR:
Paula Sestari
Foto: Getty Images

Olá, professoras e professores! Enquanto escola, passamos por um período difícil com a pandemia, não é mesmo? Fizemos o necessário no momento de crise, mas foi tudo tão estranho que às vezes a lembrança vem como se tivéssemos vivido uma realidade paralela: tivemos a escola fechada em pleno período letivo; aprendemos a fazer interações online com os bebês e crianças pequenas; e, no retorno, encaramos o desafio de limitar os espaços e materiais a serem utilizados, bem como o uso da máscara e o receio do contato físico, tão constante nessa etapa. 

O fato é que tudo isso trouxe reflexos que nos acompanharão por muito tempo, como novas demandas e perfis diferentes de famílias e crianças, impactadas por essa época difícil. E uma das questões sentidas por nós, educadores, está na alteração dos tempos e nas novas necessidades relacionadas ao desenvolvimento da fala. Por isso, gostaria de compartilhar algumas dicas práticas pensando em cada faixa etária neste momento pós-pandemia, a fim de estimular a oralidade e a expressividade e sugerir alguns encaminhamentos para as questões que vêm surgindo.

 

Bebês

Logo de cara, duas observações: eles são nascidos em um contexto ainda mais restrito no que se refere ao contato e às interações para além dos genitores e responsáveis, e é grande a exposição às telas desde muito cedo – em condição passiva. O bebê ingressante na escola se vê, então, em um ambiente de proporção assustadora para ele, no que se refere a espaço, sons e ruídos. São muitas informações novas para serem acessadas e compreendidas, por isso é importante o olhar atento e cuidadoso do adulto.

Entre as atividades do cotidiano que contribuem para o desenvolvimento da oralidade, é muito importante o professor se expressar com amplitude de gestos e movimentos e ter uma presença física marcante – ao mesmo tempo, é preciso acessar o vínculo físico com uma respiração tranquila e toques delicados nos momentos de acalanto, demonstrando que sua fala tem relação com o todo de seu corpo. Além disso, ao conversar, vale se colocar na altura e no campo de visão dos bebês, e, ao cantar, empregar expressões faciais e palavras bem declaradas, pronunciadas de maneira correta (sem o uso do diminutivo).

Ao analisar os objetivos do campo de experiência Escuta, fala, pensamento e imaginação, encontramos indicações de propostas a serem desenvolvidas. Por exemplo, chamar o bebê pelo nome em todas as ações que se referem a ele; nas brincadeiras, mencionar os nomes dos colegas para que eles se reconheçam; e ainda trazer detalhes do cotidiano para conversas, ajudando-os a perceber suas características físicas e adereços como sapato, laço do cabelo, cor do bico, enfeites da bolsa, além dos materiais expostos na sala. É interessante também valer-se de livros de histórias acompanhadas de ilustrações com frases curtas, marcando objetos e acontecimentos ao acentuar a pronúncia das palavras. Ocorrem aí os primeiros contatos com portadores textuais, e, ao realizar a leitura, indica-se que aquele material contém uma mensagem. Aqui, no site da NOVA ESCOLA, há uma sequência de planos de atividades que oportunizam o desenvolvimento da linguagem a partir de diferentes situações, como essas que mencionei.

Crianças bem pequenas

Nessa fase, como consequência da pandemia, temos um grupo maior de crianças inseridas mais tarde no ambiente escolar (essa é a realidade da minha instituição, já que atendemos desde os quatro meses até os seis anos). Embora sintamos os efeitos do isolamento, o repertório de palavras dos pequenos literalmente explode. Eles trazem termos e expressões das suas vivências em casa com a capacidade de inseri-los em outros contextos de maneira perfeitamente adequada. 

Para oportunizar a expansão dessa potencialidade, os espaços podem ser ainda mais convidativos, com brincadeiras nas quais eles interajam uns com os outros de modo a ampliar esse repertório em situações do cotidiano. É importante acolher suas ideias, sentimentos e opiniões e, nos mais diversos momentos, colocar as crianças como protagonistas ao expressarem seus desejos, inclusive na resolução de conflitos mediada pelo educador, para que, assim, elas se utilizem do vocabulário para resolver as questões com gradativa independência.

Esta outra sequência de planos disponível aqui no site ajuda a pensar a organização dos momentos de livre escolha como possibilidade para o desenvolvimento da linguagem. Brincadeiras com rimas em cantigas e textos poéticos também são um excelente recurso, e trago como sugestão os versos do grupo Tiquequê.

Crianças pequenas

Talvez esse seja o grupo que mais sofreu os impactos das escolas fechadas e das aulas remotas, em termos do vazio que a quebra da rotina gerou, porque são os que saíram de um berçário e foram direto para uma pré-escola. Pensando nisso, uma das questões que considero fundamentais é o aprendizado da expressividade dos sentimentos e emoções.

Aprender a nomear o que se passa no corpo e na mente é talvez uma das habilidades mais necessárias para esse tempo em que a depressão infantil, doenças ligadas à ansiedade (como o sobrepeso) e situações como o abuso sexual infelizmente estão latentes na Educação Infantil. As rodas de conversa sobre temas do dia a dia, as técnicas de respiração e as propostas para extravasar a raiva, a angústia e o medo se tornam pertinentes nessa faixa etária. Outro ponto essencial é atrelar as competências emocionais ao desenvolvimento da própria fala, ou seja, consolidar a capacidade de expressar em palavras o que se vive internamente.

Seguindo nessa perspectiva, outra boa sugestão é estimular o perfil curioso e investigativo das crianças para desbravar o mundo das palavras. Uma dica é esse vídeo do grupo Palavra Cantada que incentiva a brincar com a formação de vocábulos a partir de frutas e suas respectivas árvores. Trazer essa obra em uma proposta de pesquisa contribui para que os pequenos formulem ideias sobre origem e derivações das palavras. A partir daí, de acordo com o interesse deles, dá para pesquisar a raiz de outros verbetes, seus sentidos e significados.

Entre esses vários recursos e possibilidades, queridas professoras e queridos professores, o que se sobressai é nossa capacidade de nos mostrar atentos e disponíveis para a escuta, organizando um espaço acolhedor e de confiança para que os bebês e as crianças pequenas desenvolvam a oralidade em todas as suas potencialidades.

 

Um abraço e até breve!

 

 

Paula Sestari é professora da Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com dez anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto com crianças pequenas na área de Educação Ambiental.

 

 

 

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