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Alfabetização: aproveite a festa junina para avançar na leitura e escrita

Saiba como utilizar os bilhetes enviados no correio elegante como oportunidade para aprofundar os conhecimentos a respeito do sistema de escrita

POR:
Caroline Rezende
Utilizar situações comunicativas típicas da festa junina como, por exemplo, o correio elegante é uma forma de aproveitar a cultura popular para avançar na leitura e escrita. Foto: Getty Images

Quando chega o mês de junho, as escolas se enchem de bandeirinhas e já podemos escutar o som da sanfona durante o ensaio da quadrilha. Não há como se enganar, são as festas juninas (e julinas) que se aproximam. 

Como transformar essas festanças em um rico momento de leitura e escrita? Bem, como em todos os eventos da nossa sociedade, a cultura escrita se faz presente: há placas indicando as barracas de comida e as famosas brincadeiras desses eventos. Sem contar o tradicional correio elegante. Essas situações comunicativas são valiosas oportunidades para promover boas reflexões a respeito do sistema de escrita.

Nesta coluna compartilharei sugestões para aproveitar esse clima de festa para propor situações reais de leitura e escrita. Uma atividade recorrente em minhas turmas gira em torno do correio elegante. O envio desses bilhetinhos sempre me garante boas condições para colocar a turma para refletir.

Aproveite os correios elegantes para avançar na leitura

Preparei vários recados no estilo de correio elegante para propor uma situação de leitura – quando organizei essa atividade, a maioria dos alunos da minha turma não lia convencionalmente. As mensagens foram:

  • Seus olhos brilham como as estrelas.
  • Seu sorriso aquece meu coração.
  • Sua amizade é como doce de coco.
  • Você é meu raio de sol.
  • Sua voz é música para meus ouvidos.

Cada criança, individualmente, foi até a minha mesa no transcorrer da aula para escolher uma opção para demonstrar o seu afeto por um colega. Eu perguntava para qual colega ou professor gostaria de enviar o correio elegante e lia para ela algumas opções sem mostrar exatamente em qual papelzinho estava escrito. 

Depois de escolher, eu pedi que encontrasse o papel com a mensagem selecionada. Lembro que um dos meus alunos, o João Victor, me disse: “Professora, ‘seus olhos’ e ‘sua voz” começam com S... E agora?”. 

Achei ótima a observação dele, visto que não escolhi aleatoriamente as opções. Eu sabia que ele já conseguia distinguir as palavras pela primeira letra, por isso acrescentei o desafio de ambos os bilhetinhos começarem iguais. Nesse momento perguntei se havia outra pista para saber qual bilhete havia escolhido – que era “seus olhos brilham como estrelas”. Ele prontamente respondeu: “Sim, tem estrela no final. Deixa eu procurar”. 

Vendo que João ainda precisava de apoio, perguntei se “estrela” era a primeira ou a última palavra da frase e com qual letra começa. Ele percebeu que tinha de analisar a última palavra e que ela começava com E. Ao encontrar o bilhete que desejava, apontou radiante. 

Como ainda havia oportunidades para aprofundar a reflexão, perguntei por que não poderia ser o outro. João pensou novamente e disse que a última palavra não poderia ser “estrela” porque começava com a letra O. Então questionei qual era a palavra. O aluno respondeu: “É ‘ouvidos’, porque esse bilhetinho é aquele da música para meus ouvidos”. 

Durante essa experiência foi oportunizada uma boa situação de reflexão para uma criança que não lia convencionalmente. Quanto mais João foi desafiado, mais aprendeu sobre leitura. Algumas condições foram garantidas: 

  • Ele sabia o que deveria procurar. Com base nessa referência, pôde lidar com a relação do que se falava com o que estava escrito, conseguindo ajustar seus saberes.
  • A atividade estava condizente com o nível de conhecimento de uma criança que ainda está aprendendo a ler. Ainda assim, foi possível aumentar a dificuldade com outros desafios como, por exemplo, a seleção de dois bilhetinhos que começavam com a mesma letra. 
  • As perguntas auxiliaram a reflexão do aluno e proporcionaram a resolução de bons problemas para aprender a ler. 

Estimule a escrita com a produção de correios elegantes

Nessa atividade, as crianças, além de ler os dizeres, foram desafiadas a escrevê-los. Organizei a sala em duplas produtivas para potencializar a reflexão. Com a sondagem periódica e o olhar investigativo para as produções das crianças no dia a dia da sala de aula, consegui juntar, nos agrupamentos, estudantes com saberes diferentes, porém próximos, sobre o sistema de escrita. 

Um exemplo foi a dupla Gabriela e Milene. Uma delas possuía uma hipótese silábica com valor sonoro convencional e a outra era silábica-alfabética

Para que produzissem, ofereci papel, lápis e o alfabeto móvel. Elas escolheram este último e decidiram escrever “seu sorriso aquece meu coração”.

Lembro que a primeira palavra foi bastante discutida pelas meninas. Começaram escolhendo a letra C e a letra U, mas, ao analisarem, a escrita causou estranhamento. Decidiram colocar o S no lugar do C. Depois estavam em dúvida se colocavam somente essas letras ou se usavam também o E, mas não sabiam em qual posição colocá-lo. 

Perguntei se queriam uma dica; elas aceitaram. Escrevi “semente” na lousa e as questionei como a palavra poderia ajudá-las a escrever “seu”. Gabriela, então, disse: “S-E. Lá no começo, a letra E vem depois da letra S”. A partir desse ponto, elas continuaram a escrita do correio elegante. 

Em ambas as turmas utilizei duas semanas para a produção de todos os correios elegantes da sala. Dessa forma, tive o tempo necessário para fazer boas intervenções e para que todas as crianças e duplas pudessem receber minha atenção. Essas atividades sempre se mostraram produtivas. Os estudantes se engajam muito quando possuem um objetivo real de leitura e escrita. 

Espero ter contribuído com seu planejamento e inspirado a pensar em atividades que transformem as festas populares em boas oportunidades de aprendizagem na alfabetização. 

Até a próxima!

Caroline Rezende é professora alfabetizadora na EE Prudente de Morais, na capital paulista, e mestranda em Escrita e Alfabetização pela Universidade Nacional de La Plata. Também atua como formadora de educadores.

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