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Saeb: como reforçar as aprendizagens dos estudantes que participam do exame

Estratégias para recompor habilidades, melhorar a compreensão leitora e motivar a turma se somam na preparação para a avaliação externa

POR:
Maggi Krause
Foto: FG Trade/Getty Images

O clima é de festa na Escola de Tempo Integral Monsenhor Bernardino, em Petrolina (PE): os estudantes do 2º e do 5º ano são recepcionados com música e por colegas de outras turmas, posam para fotos feito celebridades com plaquinhas confeccionadas especialmente para a data e tomam um café da manhã reforçado. A ocasião é importante para a escola e merece comemoração, pois é o dia em que as turmas participam do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)

Por meio de testes e questionários, aplicados a cada dois anos na rede pública e em uma amostra da rede privada, o Saeb mede os níveis de aprendizagem dos estudantes em Língua Portuguesa, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas – acesse aqui um conteúdo com 10 perguntas e respostas sobre o Saeb 2023. Os resultados permitem que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) realize um diagnóstico da Educação básica brasileira e que escolas e redes municipais e estaduais avaliem sua oferta de ensino.  

Diagnosticar para poder avançar

Camila Araújo Andrade, professora de 5º ano da Monsenhor Bernardino, diz que, para a escola, o Saeb serve como indicador de aprendizagem e para identificar onde é preciso melhorar o trabalho pedagógico. “Ressaltamos que cada um deve se dedicar para dar o seu melhor, mas, o mais importante, é a bagagem que o aluno constrói ao longo do processo escolar”, observa.

Ela conta que a Monsenhor Bernardino obteve 7,2 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2019, caiu para 6,8 em 2021 e, neste ano, a meta é alcançar 7,5. “É um trabalho que se inicia no 1º ano com foco na aprendizagem e se intensifica no 4º ano, com sequências didáticas para recuperar defasagens”, relata. Entre as estratégias, a escola oferece três aulas semanais de tutoria orientada para lidar

com dificuldades em Matemática, trabalhando a autoestima dos estudantes e valorizando o erro como parte do aprendizado. 

Eliane Zanin, especialista em formação de professores de Matemática dos Anos Iniciais do Fundamental e integrante do Time de Formadores de NOVA ESCOLA, ressalta a importância de alinhar com a comunidade escolar – famílias e gestão – os objetivos do Saeb, mostrando os resultados anteriores, as lacunas de aprendizagem existentes e onde os educadores almejam chegar. 

De acordo com ela, também é preciso deixar claro para os estudantes em qual nível de aprendizagem estão e como vão caminhar juntos para avançar. “Se todos se unem e se engajam em torno de um objetivo único e cada um faz a sua parte, tudo colabora para que as ações deem resultado”, pontua a formadora. “As famílias passam a ser incentivadoras e apoiadoras, a gestão oferece suporte pedagógico e, dessa forma, os professores sentem que não estão sozinhos e o trabalho fica até mais leve.” 

Curadoria de planos de aula de Matemática para o 1º ao 5º ano

Confira uma seleção, feita por especialistas na área de formação em Matemática, de 220 planos de aula para desenvolver habilidades específicas desse componente curricular para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. 

São habilidades previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que vão contribuir para o avanço dos estudantes, promovendo a aprendizagem contínua de Matemática e preparando-os para resolver avaliações, como o Saeb.

Acesse aqui por anos:

Desafios e estratégias no pós-pandemia

Em 2023, o Saeb encerra um ciclo de estudo e pesquisa do panorama educacional brasileiro impactado pela pandemia da Covid-19, que compreende a coleta de informações de 2019 (pré-pandemia), 2021 (durante a crise da Covid-19) e 2023 (pós-pandemia). “Esta é a avaliação mais importante de todas, pois identifica e evidencia os níveis de aprendizagem atuais e facilita o trabalho do professor daqui em diante”, destaca Eliane. 

Isso porque não foram poucos os desafios de quem assumiu turmas de 2º, de 5º ou de 9º ano em 2023, as etapas avaliadas no Ensino Fundamental. “Aconteceu uma quebra dos conteúdos na pandemia. Quem está agora no 9º ano passou o 7º ano em casa, sem aula, então apresenta grandes defasagens em Matemática. Temos preocupação em recompor as habilidades e de superar a desmotivação e o desinteresse”, exemplifica o professor de Matemática Dilson Joaquim Barbosa dos Santos, que atua como coordenador pedagógico da Secretaria de Educação de Domingos Mourão (PI). “Bolamos atividades diferentes e prometemos prêmios para os estudantes participarem no contraturno. Também orientamos os professores para que ao fazerem o planejamento de suas aulas, criem experiências de aprendizagem que sejam atrativas e engajadoras.”

Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, a alfabetização frágil é a principal preocupação. “Tanto em Língua Portuguesa como em Matemática, para resolver os exercícios e atividades, eles precisam ler enunciados e interpretar comandos sozinhos. Esse é um desafio tanto no 2º quanto no 5º ano, pois ainda temos alunos que não estão completamente alfabetizados e têm dificuldade de leitura e de interpretação”, resume Bruna Albieri Cruz da Silva, coordenadora pedagógica na EMEF Maria Chaparro Costa, em Bauru (SP).

Sônia Neves, professora de Matemática que há 14 anos atua na formação de docentes e faz parte do Time de Autores da NOVA ESCOLA, alerta que preparar os estudantes para o Saeb é insuficiente, pois a matriz da avaliação faz apenas um recorte do que deve ser aprendido ao longo dos anos escolares. 

Em visita recente à cidade de Sobral (CE), ela concluiu que um dos pontos decisivos para o altíssimo Ideb da rede é o foco na alfabetização. “Existe um trabalho paralelo de recomposição para que o aluno com dificuldade consiga acompanhar a turma. Afinal, se ele não souber ler e interpretar, como vai resolver problemas?”, questiona. 

Foco nas habilidades da BNCC

Em sua rotina como formadora, Eliane percebe que, muitas vezes, os professores não estabelecem relação entre desenvolver as habilidades e os conhecimentos dos estudantes e prepará-los para as avaliações externas. “Eles ficam angustiados para dar conta do currículo e do Saeb como se fossem coisas diferentes e, na verdade, não são.” 

Ela explica que tudo leva ao mesmo objetivo: desenvolver as habilidades da BNCC. A preocupação é como articular tudo isso: o currículo estadual, os itens do Saeb e os materiais da rede e da escola. “A curadoria de planos de aula preparada pela NOVA ESCOLA vai ajudá-los a perceber essa relação e como eles podem utilizar essa lógica no planejamento do dia a dia”, reforça ela, que é uma das integrantes do time de especialistas que selecionou o material.

A professora Camila, que dá aula para o 5º ano, conta que depois do diagnóstico realizado no início do ano, o primeiro semestre é dedicado a equilibrar melhor o nível da turma, bastante heterogênea, e ampliar o repertório. No segundo semestre, a estratégia inclui simulados semanais, de acordo com as habilidades que estão sendo trabalhadas no momento e com foco naquelas em que os estudantes têm mais dificuldade. 

“Trazemos a prova de forma mais leve, separamos questões e dividimos a turma em equipes. Cada uma conta com um monitor, que é um estudante que tem mais facilidade. Montamos uma espécie de gincana em que todos precisam ganhar, pois a competição é com a prova”, salienta Camila. E as recompensas são para todos. Se eles acertam determinado número de questões, podem se divertir na quadra da escola ou escolher um filme para assistirem juntos.

Dificuldades e oportunidades para o avanço das redes

Em seu mestrado, a professora Janete Costa Coelho defendeu a necessidade de atividades integradas de oralidade, leitura, escrita e reflexão linguística. E é esse o ponto forte de suas aulas de Língua Portuguesa nos Anos Finais do Ensino Fundamental na EEEFM Rio Tapajós, em Santarém (PA). 

“Não temos laboratório de informática e nem acesso à internet. Eu preciso carregar um enorme projetor para ler ou assistir algo com a turma”, relata Janete sobre a falta de recursos na escola. Segundo ela, a rede está recebendo material didático específico para o Saeb, que contém simulados e sequências destinadas ao reforço dos alunos para a prova. 

Os educadores da escola Rio Tapajós seguem um planejamento anual e bimestral, orientado pelo currículo do estado do Pará, mas os livros didáticos que recebem do Programa Nacional do Livro não são exatamente alinhados a ele. “O livro didático contém muitas questões subjetivas para os alunos responderem, enquanto no Saeb as questões são objetivas”, exemplifica. 

“Os estudantes possuem um léxico reduzido, pois leem pouco, e têm dificuldade para entender a opinião do autor ou até mesmo que um pronome se refere a uma determinada palavra”, enumera Janete. Em 2021, o Ideb foi de 4,4 nos Anos Finais, com apenas 36% dos alunos com aprendizado adequado em Língua Portuguesa e 13% em Matemática. 

Dicas para desenvolver habilidades nas turmas que vão fazer o Saeb

  • Não coloque o foco na avaliação externa em si. Considere que uma boa prova é consequência de um processo contínuo de aprendizagem. 
  • Planeje e ministre aulas dinâmicas, em que os alunos são protagonistas e estão no centro do processo de ensino e aprendizagem. 
  • Entre as atividades de Língua Portuguesa, insira muita pesquisa, leitura e produção de textos.
  • Invista  na ampliação do repertório dos alunos, apresentando vários tipos de textos literários.  
  • Trabalhe, também, com textos informativos em sala de aula. Eles aparecem bastante no Saeb, e os estudantes precisam ter familiaridade com eles. 
  • Faça trocas com os professores do mesmo ano, compartilhando os materiais elaborados para desenvolver habilidades específicas. Assim, é possível economizar tempo de preparação e planejamento, além de ampliar o repertório de materiais didáticos.
  • Convide o professor de outra turma para ministrar uma aula para seus estudantes. Isso possibilita que eles se acostumem com a presença de outras pessoas na sala, já que o avaliador do Saeb é alguém que não faz parte do ambiente escolar. 
  • Busque novas estratégias de ensino com outros colegas se a turma não estiver conseguindo avançar em uma determinada habilidade. 
  • Trabalhe constantemente a interpretação das situações-problema com os alunos. 
  • Recupere as operações básicas: adição, subtração, multiplicação e divisão.
  • Busque recompor as aprendizagens, principalmente dos estudantes que ainda não estão plenamente alfabetizados. 

Fontes: Rita Mozetti (Língua Portuguesa), Camila Araújo Andrade (Matemática) e Bruna Albieri Cruz da Silva (Coordenação Pedagógica)

Trabalho com intencionalidade pedagógica

Em Franca (SP), a professora Rita Mozetti, que leciona para o 5º ano na EE Adalgisa de São José Gualtieri, tem 25 alunos com níveis de aprendizagem bem diversos. “Nos primeiros meses deste ano, foi preciso resgatar foco, concentração e atenção. Eu me apoiei nas habilidades essenciais do 1º ao 5º ano para promover a retomada, a recuperação e o aprofundamento delas”, diz a educadora. Ela foi uma das selecionadas no Prêmio Educador Nota 10 de 2020, com o projeto de formação de leitores “Pé de livros entre amigos”.

Formadora de educadores para as salas de leitura do município, Rita percebeu que os professores têm elencado a atividade que pretendem fazer com os alunos, para só depois buscarem as habilidades da BNCC relacionadas a ela. E, muitas vezes, não sabem qual competência será atingida. “É preciso definir primeiro a competência, onde é preciso chegar, identificar quais habilidades os estudantes necessitam para atingi-la e, só então, escolher as atividades. É a atividade a serviço da habilidade e não o contrário”, ressalta. 

Para quem ensina Ciências no 5º ou no 9º ano, a lógica do trabalho por competências é a mesma. “É preciso fazer um trabalho contínuo, alinhando o currículo da escola com a BNCC, usando material didático como apoio e sempre buscando a contextualização dos conceitos científicos,” comenta Gracieli Dall Ostro Persich, formada em Ciências Biológicas com mestrado em Educação em Ciências e integrante do Time de Formadores da NOVA ESCOLA. 

Em Ciências da Natureza e Ciências Humanas, ao longo dos anos escolares, as habilidades são muito semelhantes e vão se aprofundando, por isso não é difícil para o professor retomar habilidades prévias ou abordar outras mais específicas para avançar com a turma. “Mesmo sendo de forma amostral, avaliar Ciências no Saeb é excelente, pois indica que esta área de conhecimento vai ser olhada de perto,” afirma a formadora. A avaliação acontece em data diferente da aplicação das provas de Matemática e Língua Portuguesa e segue a BNCC como matriz de referência. 

Recomendações para gestores 

O papel da direção e da coordenação pedagógica também é fundamental para a aprendizagem dos alunos. “O professor não pode ficar sozinho para dar conta da qualidade das aulas, mirando bons resultados nas provas”, defende a formadora de professores Eliane Zanin, que também já foi gestora escolar. Ela elenca as seguintes prioridades para a gestão:   

  • estruturar um currículo bem alinhado à BNCC, priorizando as aprendizagens essenciais;
  • garantir ao professor tempo para planejamento das aulas;
  • fazer acompanhamento pedagógico recorrente para orientar e apoiar o docente, além de avaliar como ele está atuando em sala; 
  • oferecer recursos e ajudar a articular o material já disponível na escola para desenvolver atividades relacionadas aos itens do Saeb. 

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