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Brincadeiras tradicionais podem ajudar a desenvolver aprendizagens matemáticas

Entenda como amarelinha, esconde-esconde e outras brincadeiras permitem trabalhar noção de espaço, contagem e resolução de situações-problema

POR:
Selene Coletti
Entenda como brincadeiras tradicionais como amarelinha, esconde-esconde e pique bandeira permitem trabalhar conteúdos da alfabetização matemática. Foto: Getty Images.

Na Educação Infantil a brincadeira está sempre presente. Ao chegar no 1º ano, isso não pode se perder. Ao planejar com intencionalidade boas situações é possível garantir que as crianças possam brincar e avançar na alfabetização – inclusive, a matemática

Brincadeiras tradicionais como amarelinha, esconde-esconde e pique bandeira (também conhecida como bandeira e rouba bandeira) são exemplos de atividades que permitem desenvolver muitas aprendizagens. 

Para começar, organize uma roda de conversa sobre as brincadeiras tradicionais, o que sabem sobre isso, o que significa, quais elas conhecem e/ou costumam brincar. 

Para deixar mais interessante, apresente o quadro Jogos infantis, de Pieter Bruegel, o qual traz cenas de cerca de 84 brincadeiras, segundo estudiosos da obra. Outra possibilidade é levar as obras do artista brasileiro

Ivan Cruz que também retratam muitas brincadeiras tradicionais

Se quiser enriquecer ainda mais, solicite que as crianças investiguem com as famílias quais as brincadeiras que mais gostavam durante a infância. No dia seguinte, organizem as descobertas em uma lista. 

Brincadeiras e a alfabetização matemática

O próximo passo é questionar se as crianças acham que é possível aprender Matemática com as brincadeiras listadas. As respostas da turma darão a você uma ideia do que pensam sobre este assunto. 

Em seguida, elenque, por meio de votação, aquelas que gostariam de experimentar. É possível organizar uma tabela e um gráfico com as escolhas da turma – confira aqui sugestões de como trabalhar com gráficos em sala de aula

Independente das mais votadas pela turma é possível trabalhar noções de espaço, situações-problemas, números, tratamento da informação, dentre outros conteúdos. É importante, como sempre digo por aqui, ter uma intencionalidade ao escolher e pensar no planejamento das propostas.

Noções de espaço nas brincadeiras

O brincar e a sua representação por meio do desenho permite investir na noção de espaço vivido. Katia Smole explica que o espaço vivido corresponde ao físico, vivenciado por meio do movimento e do deslocamento e apreendido pela criança por meio de brincadeiras e atividades que permitam percorrer, delimitar ou organizar este espaço. Isso vale para todas as brincadeiras que conseguir imaginar.

Comece lendo as regras da brincadeira, ao invés de explicar. A leitura permitirá desenvolver a compreensão leitora. No início, será preciso ler mais de uma vez a fim de se garantir o entendimento de todos. 

Feito isso é hora de brincar! Sempre mais que uma vez para que a turma se aproprie das regras e da brincadeira em si. 

Em seguida, peça que elas representem, por meio de um desenho, como se brinca. Ao terminar façam uma roda para que cada um possa mostrar o que fez. Os colegas podem contribuir com sugestões para melhorar a representação. 

Os resultados são sempre surpreendentes. Com o passar do tempo, conforme a noção de espaço vai sendo fortalecida, a qualidade dos trabalhos vai se tornando cada vez melhor. 

Trabalhando contagem nas brincadeiras

O domínio dos números começa pelo conhecimento da sequência numérica. A contagem implica que os alunos sejam capazes de falar a sequência aliando o número falado ao objeto que está sendo contado, uma única vez.

Isso precisa ser ensinado de uma forma prazerosa e prática. A brincadeira envolvendo situações de contagem permite fazer esse trabalho. Veja algumas possibilidades:

  • Amarelinha: desenhe várias amarelinhas no chão e forme quartetos para que a turma possa brincar sem ficar esperando muito tempo para chegar a sua vez – podem, inclusive, aumentar o número de casas, indo além do 10. Pode organizar tabelas para que se marque onde cada um parou e continuar em outro momento. Outra possibilidade é propor que, em grupo, inventem variações da brincadeira para que os colegas brinquem.
  • Pular corda: essa brincadeira pode ser aliada a diversas parlendas. Garanta que todos saibam pular corda e, para que todos tenham a oportunidade de brincar, disponibilize várias cordas. Ao final, pode propor que cada um anote a quantidade de saltos que deu. 
  • Esconde-esconde: para explorar ainda mais a contagem, estipule diferentes quantidades para a contagem. Quando terminarem de brincar, pergunte para as crianças quais foram mais fáceis e difíceis para se esconder.
  • Pega-pega: a contagem se dá de quantas pessoas o pegador conseguiu pegar, explorando quem pegou mais ou menos.

Situações-problema baseadas nas brincadeiras

Enquanto as crianças brincam, observe e registre como a turma se apropria das brincadeiras e das regras com o objetivo de posteriormente problematizar as situações vivenciadas. Separei dois exemplos de perguntas que podem ser feitas. 

  • Ao final do esconde-esconde, o João não foi encontrado. Por que você acha que isso aconteceu? 
  • Ana e Luísa estavam pulando amarelinha. Ana estava no 3 e Luísa, no 5. Quanto faltava para ela chegar junto com Luísa? E para passar na frente da Luísa, em qual casa ela precisa deixar cair a pedrinha?

É possível propor uma roda de conversa para discutir as respostas ou pedir que registrem a sua solução por meio de um desenho para depois discutir em pequenos grupos e socializar as respostas chegando a um consenso e percebendo que, conforme a situação, cabem diferentes soluções.

Tenho certeza de que a opção pelas brincadeiras tradicionais trará excelentes resultados para a sua turma. Vamos lá?

Até a próxima!

Selene 

Selene Coletti é professora há 43 anos na rede pública. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita,  com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.