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11 dinâmicas para integrar os alunos na volta às aulas

Propostas permitem conhecer melhor os alunos, criar conexões entre eles e preparar aulas mais conectadas à realidade dos estudantes

POR:
Paula Medeiros
Atividades para quebrar o gelo nos primeiros dias de aula ajudam a criar um espaço de confiança e estimulam o engajamento dos estudantes. Foto: Camilla Portella/NOVA ESCOLA

O início do ano letivo é um período importante para que professores e alunos estabeleçam vínculos e construam as bases para um ambiente de aprendizado positivo e saudável.

Nesse contexto, atividades para “quebrar o gelo” na volta às aulas assumem um papel-chave e transcendem a simples descontração. Elas podem ser ferramentas pedagógicas que contribuem diretamente para a dinâmica da sala de aula, pois reduzem o nervosismo inicial tanto de alunos quanto de professores, ajudam a criar um espaço de confiança e acolhimento e estimulam o engajamento dos estudantes.

Essas propostas também permitem que os educadores conheçam melhor os interesses e expectativas dos alunos, respeitando e valorizando a diversidade da turma e facilitando o

planejamento de aulas mais conectadas à realidade dos estudantes. Elas ainda facilitam a integração de novos alunos e desenvolvem o senso de pertencimento.

Entendendo o perfil dos estudantes

Cíntia Diógenes, que leciona na EM Maria Roseli Lima Mesquita, em Fortaleza (CE), diz que, antes de pensar em qualquer dinâmica para a turma, é preciso ter em mente a importância do afeto. “Sem isso é impossível criar vínculos", afirma ela, citando o psicólogo e educador francês Henri Wallon (1879-1962). 

“O afeto é um dos princípios básicos para o desenvolvimento da aprendizagem. E digo isso no sentido de afetar mesmo, mutuamente, professor e estudante”, detalha. “O afeto provoca uma troca, que é também muito importante para que o aluno se sinta seguro, motivado e valorizado.”

Ela também destaca a relevância de o estudante ser protagonista nessas atividades iniciais e estar no centro do processo, assim como a participação do professor, que não deve ficar apenas como espectador. 

A professora alfabetizadora e colunista da NOVA ESCOLA Caroline Rezende, que dá aulas na E.E. Prudente de Moraes, em São Paulo (SP), comenta que muitos de seus estudantes são imigrantes. Então, nas atividades de boas-vindas e apresentação da rotina escolar, incluir as famílias dos alunos é fundamental. 

Segundo ela, o acolhimento passa pela valorização da identidade e da história de vida de cada um e da diversidade presente na turma. “O acolhimento não diz respeito a apenas dar ‘boas vindas’, mas assegurar condições para que todos se sintam acolhidos da maneira como são: sua cultura e história de vida, que tem a ver com a cultura e história de vida de suas famílias.” 

Já Linaldo Oliveira, professor da EMEF Iraci Rodrigues de Farias Melo, em Mogeiro (PB), conta que sempre gosta de levar algo irreverente para sua turma no primeiro dia de aula e que se apresenta de forma descontraída. “Às vezes, coloco acessórios, como óculos divertidos e fantasias.” 

Para recepcionar os alunos, ele usa jogos que estimulam a conexão entre eles e dão pistas de como é a turma e como ela vai se comportar. "Procuro explorar a coletividade e também as habilidades e as características de cada um, além do conhecimento prévio trazido do ano anterior. Isso serve, por exemplo, como mapeamento de recomposição de aprendizagem”, indica ele, também vencedor do Prêmio Educador Nota 10 e colunista da NOVA ESCOLA

De acordo com o professor, o conjunto de atividades que ele aplica dá uma ideia real da turma. “Consigo compreender um pouco mais as aprendizagens que eles fixaram, como é o dinamismo e o relacionamento entre eles e se há grupos excludentes ou mais homogêneos.” Com essas informações, ele considera que fica mais fácil mapear o caminho a ser seguido para solidificar o que ficou vago na formação dos alunos.

Assim como Linaldo, Naiara Chaves, que leciona Língua Portuguesa e Literatura para o Ensino Fundamental e o Médio no Colégio Estadual de Tempo Integral Rui Barbosa, em Boninal (BA), também defende que conhecer os interesses dos estudantes ajuda bastante no planejamento. Por isso, ela coleta informações que são usadas no decorrer do ano letivo. 

“Eu gosto de frisar que essas estratégias não são feitas [apenas] para deixar as aulas divertidas. Claro que elas promovem engajamento, mas precisam estar aliadas àquilo que o aluno tem de aprender, àquilo que o currículo propõe.”

A seguir, confira 11 sugestões de atividades para realizar com os estudantes no começo do ano letivo. Elas estão organizadas em Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Anos Finais do Fundamental/Ensino Médio.

Atividades para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental

1. “Repolho”

Sentadas em roda, com uma canção ao fundo, as crianças passam de mão em mão um “repolho" feito com várias folhas de papel amassadas, embrulhadas uma dentro da outra, como as folhas da verdura. Quando a música para, quem está com o “repolho” nas mãos puxa uma folha, lê a pergunta e a responde em voz alta. Podem ser questões sobre gostos e costumes, por exemplo. 

“As crianças sempre interagem, concordando ou discordando da resposta do colega, e isso cria um momento de interação entre elas e  com a professora”, descreve Cíntia. A atividade também mostra ao professor em que etapa do processo de alfabetização as crianças se encontram.

2. "Três verdades e uma mentira”

Anonimamente, os alunos escrevem em uma folha de papel três verdades e uma mentira sobre si mesmos. Elas são embaralhadas numa caixa e redistribuídas entre todos. A missão é encontrar quem é o colega descrito e, na sequência, adivinhar entre as quatro afirmações qual é a falsa. Se o autor não for descoberto depois de três tentativas, ele se apresenta para a classe. 

“O aluno interage com seus pares, e isso faz com que eles se sintam pertencentes àquele espaço, àquele ambiente. É importante que o professor deixe a classe confortável e brinque junto”, ressalta Cíntia. Essa proposta também dá boas noções sobre os estágios de leitura e escrita de cada aluno.

3. Leitura do livro Eloísa e os bichos (Editora Pulo do Gato)

A obra aborda a chegada de uma menina em uma nova escola e explora temas como acolhimento, diversidade, perdas e ganhos. “A ideia é conversar com a turma sobre o que foi lido, sobre a vida e seu entrelaçamento com a leitura”, sugere a professora Caroline. 

4. "De onde eu venho”

Caroline, que tem alunos estrangeiros em sala de aula, sugere essa atividade, que gira em torno do local de origem das crianças, sua nacionalidade e as diferentes regiões do mundo. Mas ela pode ser adaptada para as regiões ou bairros de uma cidade, por exemplo. Em um mapa, as crianças localizam os seus locais de origem ou de sua família. O lugar é marcado com um post-it com o nome da criança. O objetivo é reconhecer a diversidade cultural, social e regional do Brasil e do mundo, valorizando e respeitando as diferenças.

5. Cantigas de roda e brincadeiras de outras regiões e países

A proposta é buscar canções, jogos e brincadeiras das culturas presentes em sala de aula. As músicas devem ser escolhidas com antecedência. A professora Caroline cita exemplos como El Lobito Bueno (Paco Ibañez, Espanha) e El Reino de Revés (María Elena Walsh, Argentina). “O repertório se amplia quando as próprias crianças passam a ensinar para o professor e os colegas as canções que conhecem”, diz.

Propostas para os Anos Finais do Ensino Fundamental/Ensino Médio

6.“Quem é você?”

No primeiro dia de aula, a fim de que todos se conheçam, a professora Naiara sugere apresentar uma ficha com perguntas sobre interesses gerais dos alunos – por exemplo, três músicas da sua playlist, a banda do coração, séries favoritas, um perfil para seguir no Instagram e um canal do YouTube que recomendaria. Depois que todos respondem, os estudantes sentam em círculo e compartilham o que cada um gosta. 

Naiara conta que, em uma turma, os meninos não se interessavam muito pelas aulas, mas, com base nas respostas das fichas, percebeu que o futebol era um interesse comum. Ela passou então a selecionar notícias sobre jogos, times e jogadores para fazer análises linguísticas, como uso de pronome, coesão referencial e coesão sequencial. “Eu levava esses textos, eles gostavam, debatiam, participavam, e eu conseguia analisar o conteúdo”, lembra. 

7. “Entre nós”

É uma atividade inspirada no game Among Us, cujo objetivo é descobrir quem são os impostores infiltrados na turma. Quando aplicou essa dinâmica, a professora separou vários textos, literários e não literários, criou um QR Code para cada um deles e fixou esse código em bonequinhos representando os personagens do jogo original. A missão era descobrir quais eram os “textos impostores", ou seja, os não literários. "Foi uma brincadeira, mas também uma atividade diagnóstica para eu saber se aquela turma conseguia diferenciar tipos de  textos”, diz Naiara. Ela também aplica essa dinâmica com o objetivo de identificar fake news.

8. “Escape room

Neste jogo, os alunos, divididos em grupos, precisam desvendar determinados códigos para conseguir sair da sala de aula. Para isso, o professor elabora perguntas e respostas sobre conteúdos vistos no ano anterior. “E tem de ser em equipe, pois o que um não lembra do conteúdo, o colega ajuda e, juntos, eles tentam escapar”, explica o professor Linaldo.

A atividade permite verificar quais habilidades foram consolidadas, o que ficou do conteúdo e até como os estudantes se relacionam. “Posso ver um pouco do temperamento de cada um, pois essa competitividade traz um dinamismo bastante curioso de ser observado.”

9. “Cápsula do tempo”

Cada aluno deve escrever uma carta para si mesmo, sobre as expectativas para aquele ano, que será lida num futuro próximo. A classe determina em que período do ano a cápsula será aberta. Linaldo salienta que assim o estudante poderá viver a experiência de comparar o que imaginou com o que foi realmente realizado. “Esse exercício ainda mostra a visão de mundo que o aluno traz”, acrescenta o professor. 

10. "Mapa dos sonhos”

Nessa dinâmica, os alunos devem fazer um “mapa dos sonhos", ou seja, colocar no papel seus desejos para o futuro e compartilhá-los depois com a classe. “Essa atividade também entrega um viés muito interessante para que o professor entenda como aquele estudante vê o mundo e como isso afeta o seu modelo de projeto de vida”,  comenta Linaldo. 

11. "Show do milhão”

Jogo de perguntas e respostas, cujos temas são baseados em assuntos da grade curricular do ano anterior e também em questões de raciocínio lógico. Vale colocar trilha sonora e simular a mesma estrutura do programa televisivo. Ao final da competição, há a premiação simbólica do milhão.

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