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Matemática em campo: como usar o futebol nas aulas dos Anos Finais

Estatística, probabilidade, interpretação de gráficos. Entenda como o futebol pode ajudar a trabalhar esses conceitos matemáticos em suas aulas

POR:
Rosiane Prates
A Matemática, muitas vezes vista como uma disciplina difícil, ganha outra dimensão quando seus conceitos são demonstrados a partir de temas do dia a dia dos alunos. Foto: Getty Images

Olá, professora e professor! Sabemos que o ensino da Matemática nos Anos Finais do Ensino Fundamental apresenta desafios, mas também oportunidades significativas. 

É comum, ao chegarem nesse estágio da Educação Básica, que os alunos apresentem uma maior dificuldade de aprendizagem, bem como resistência à Matemática, percebendo-a como um componente difícil e distante do cotidiano. 

Para nós, professores, fica o desafio de reverter esse cenário e mostrar que a Matemática está em tudo. Assim, colegas, que tal levar o futebol para suas aulas e engajar a turma?

Nesta coluna, vou trazer algumas sugestões que relacionam conteúdos de Matemática dos Anos Finais ao Campeonato Brasileiro de Futebol.

Brasileirão na sala de aula

Esse campeonato conta com 20 times na série A, tem um sistema de pontuação onde cada vitória vale 3 pontos, o empate 1 ponto e a derrota não pontua. Os times são classificados com base no total de pontos e quando há empate são utilizados critérios como o de saldo de gols e gols marcados. 

Dessa forma, temos então a oportunidade de trabalhar vários conceitos matemáticos de uma maneira capaz de engajar a turma e proporcionar estímulo positivo.

Integrar o futebol ao ensino de Matemática pode ser um jeito eficaz de aproximar os alunos da disciplina, por meio  de um contexto familiar e significativo para os adolescentes. A Matemática, vista como uma disciplina difícil, ganha outra dimensão quando seus conceitos são demonstrados a partir de atividades que têm como base um assunto de grande interesse da maioria, como o futebol. 

Esse tipo de abordagem interdisciplinar, professora e professor, é uma excelente oportunidade para relacionar a Matemática a uma ferramenta poderosa para compreender o mundo à nossa volta, indo além do ambiente de sala de aula.

Futebol e o trabalho com probabilidade

Elaborar uma atividade envolvendo análise de probabilidade sobre o rebaixamento dos últimos colocados no Campeonato Brasileiro nos Anos Finais pode ser uma excelente maneira para contextualizar a Matemática. 

Para começar, a sugestão é explicar os  conceitos básicos de probabilidade e estatística, detalhando  como usamos dados e cálculos probabilísticos para fazer previsões. Isso pode ser feito utilizando exemplos simples do cotidiano, como o lançamento de um dado ou a previsão do tempo, antes de transpor para o cenário do futebol propriamente dito. 

A partir dessa parte, a turma pode coletar dados reais sobre a pontuação dos times no campeonato, o número de rodadas restantes e o histórico de equipes rebaixadas em edições anteriores.

Com os dados em mãos, os alunos podem organizar uma tabela ou planilha que contenha as informações dos times que estão nas últimas posições e, a partir disso, realizar cálculos envolvendo probabilidade e fazer análise. 

Por exemplo: podem verificar quantas vezes, nos últimos cinco anos, um time com 30 pontos na 30ª rodada acabou sendo rebaixado. A partir desses cálculos, os alunos podem usar a probabilidade para estimar os riscos de cada time ser rebaixado. 

Com a mediação do professor, é interessante  inserir questões como "se o time A tem x pontos faltando x rodadas para o final do campeonato, qual a chance de ele conseguir escapar do rebaixamento com base nos dados históricos?"

Colegas, com a finalidade de tornar a atividade mais dinâmica, a turma pode ser dividida em grupos e cada grupo acompanhar a trajetória de um time, atualizando os dados a cada jogo e criando gráficos que ilustrem o risco de rebaixamento ao longo das semanas. 

Isso não só estimula o trabalho em equipe, mas também oferece aos estudantes a oportunidade de trabalhar com dados reais e ver como a Matemática é utilizada em contextos do cotidiano. 

Além disso, professora e professor, ao final da atividade, pode-se promover um debate sobre como fatores imprevistos, como mudanças no time, lesões de jogadores e outros, podem alterar os resultados, demonstrando que, embora a Matemática ajude a prever cenários, o futebol, assim como a vida, contém elementos de incerteza.

Gráfico com desempenho dos primeiros colocados

Ao organizar atividade que envolve a criação de um gráfico com o desempenho dos primeiros colocados, os alunos podem desenvolver habilidades de maneira prática e visual ao aprender conceitos de Matemática. 

Esse momento pode ser iniciado com a explicação sobre a importância de usar gráficos para representar dados de forma clara e comparativa. Através do gráfico,  é demonstrada a evolução da pontuação dos times ao longo das rodadas. 

A turma pode ser dividida em grupos, podendo escolher dois ou três times do topo da tabela para acompanhar e anotar a pontuação de cada rodada, com registros em tabela simples representando os valores de pontuação acumulada.

Com os dados coletados, a próxima etapa é a construção do gráfico. Utilizar o modelo de gráfico de linhas pode ser uma ótima opção para representar evolução ao longo de um período ou espaço de tempo. Cada linha no gráfico representará um time, e o eixo X, na horizontal, estará representando as rodadas; enquanto o eixo Y, na vertical, irá demonstrar a pontuação acumulada. 

Você, professora e professor, pode auxiliar os alunos na construção desse gráfico, que pode ser manual ou gerado com a utilização de recursos tecnológicos disponíveis, como Excel ou Google Planilhas, sempre enfatizando que a visualização do gráfico ajuda na identificação de momentos-chave no campeonato, como uma sequência de vitórias ou uma queda de desempenho.

Após construído o gráfico, é hora de interpretar os resultados, através da observação dos aspectos inseridos: como as linhas dos diferentes times se comportam ao longo do campeonato? Qual time manteve a liderança ou qual conseguiu se reposicionar de maneira surpreendente? 

Desenvolver atividade com construção de gráfico de desempenho, favorece a discussões como a análise de tendências e a comparação entre diferentes momentos no campeonato. Além disso, colegas, esse modelo de atividade pode instigar os alunos a fazer previsões com base nos dados observados, favorecendo o pensamento crítico, de maneira interativa, que não só ensina os conceitos matemáticos, mas também conecta de maneira dinâmica e envolvente.

Operações básicas e o cálculo de saldo de gols

Uma forma interessante de reforçar e contextualizar o trabalho com operações básicas utilizando dados do Campeonato Brasileiro, é por meio do cálculo do saldo de gols, uma medida comum no futebol para avaliar o desempenho das equipes. 

O saldo de gols corresponde à diferença entre o total de gols feitos e gols sofridos por um time ao longo dos jogos. Para iniciar essa atividade, os estudantes podem escolher um time do campeonato e anotar a quantidade de gols feitos e sofridos em cada partida, com isso, eles poderão praticar operações de adição e subtração, reforçando a prática  de forma significativa.

Após o registro das informações das partidas, é possível que os estudantes determinem a diferença de gols do time escolhido após cada jogo. Por exemplo, se em um jogo o time selecionado ganhou por 3 a 1, eles devem calcular a diferença de gols deste jogo (3 - 1 = 2). Com o objetivo de proporcionar uma aula atrativa e mais dinâmica, divida a turma em grupos e organize uma competição entre os grupos de estudantes para identificar qual time selecionado apresenta o maior saldo de gols ao término de uma série de partidas. A partir dessa prática em sala de aula, é possível debater sobre a relevância do saldo de gols como critério de desempate no futebol, demonstrando como conceitos matemáticos são utilizados para determinar a classificação na área esportiva e aplicabilidade em contextos da vida diária.

Porcentagem de vitórias no G4 e na zona de rebaixamento

Colegas, uma ótima maneira de ensinar porcentagem usando o Campeonato Brasileiro com alunos do Ensino Fundamental, é calcular a porcentagem de vitórias dos times que se encontram no G4 (os quatro primeiros colocados) e daqueles que estão na zona de rebaixamento. 

É necessário explicar aos estudantes que a porcentagem de vitórias é a relação entre o número de vitórias de um time e o total de jogos disputados, multiplicada por 100. Para facilitar, peça para que escolham um time do G4 e outro da zona de rebaixamento, e registrem quantos jogos eles realizaram e quantos ganharam até aquela etapa do campeonato.

Depois de coletar os dados, como sugestão, descreva e contextualize a relação entre o número de vitórias, o total de jogos e a fórmula Porcentagem de vitórias = (Número de vitórias / Total de jogos disputados) × 100. Depois descreva como exemplo, se um time do G4 jogou 30 partidas e venceu 18, o cálculo da porcentagem fica da seguinte forma: (18/30) × 100 = 60%, sendo importante também realizar o cálculo para o time da zona de rebaixamento. 

Essa atividade auxilia na aprendizagem dos conceitos de fração, divisão e multiplicação, ao mesmo tempo em que proporciona aos alunos uma compreensão clara de como a porcentagem representa o desempenho das equipes. 

É importante que os estudantes analisem e comparem os resultados entre as equipes selecionadas, debatendo sobre a classificação na tabela e posições de destaque e de rebaixamento. Pode ser proposto a reflexão do porquê os times do G4 possuírem taxas de vitórias superiores em relação aos clubes na zona de rebaixamento, destacando a importância de conquistar vitórias para assegurar uma posição favorável. Esse tipo de atividade, além de abordar o conceito de porcentagem, também aprimora a habilidade dos alunos em interpretar e contextualizar dados numéricos, aplicando a Matemática de maneira prática no contexto do futebol.

E você, já usou o futebol para contextualizar conceitos matemáticos? Conta pra gente!

Rosiane Prates é professora de Matemática das séries finais do Ensino Fundamental, atua há mais de dez anos na rede pública e já integrou o Comitê de Avaliação do Município de Pinheiros (ES). Em 2022, participou da quarta edição do Mulheres na Ciência e Inovação, programa de formação para pesquisadoras no Brasil realizado pelo Museu do Amanhã e o British Council. Também foi professora-autora no projeto Planos de Aula de Matemática, realizado pela Associação NOVA ESCOLA. Além disso, tem participação como voluntária em projetos socioeducacionais e de empreendedorismo. É licenciada em Matemática e Pedagogia, graduada em Administração, especialista em Ensino e Currículo, em Matemática na Prática e mestranda em Gestão Escolar.

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