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Por que Educação Física e Arte são organizadas de forma diferente na Base?

Entenda a lógica dessa organização no documento e no que elas se diferenciam das demais disciplinas

POR:
Laís Semis
Arte e Educação Física seguem um modelo diferente da organização por ano, característica das outras disciplinas na BNCC. Crédito: Foter.com/Montagem: Alice Vasconcellos

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) será o documento guia para a formulação de currículos nos próximos anos das escolas brasileiras. Ele garante os conhecimentos essenciais que os estudantes de todo o país deverão aprender na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, no qual o conteúdo previsto é dividido por ano. Uma organização válida para todas as disciplinas, exceto duas, Arte e Educação Física, ambas divididas por ciclos.

Esse formato começou a ser usado no Brasil no final da década de 60 em Pernambuco, São Paulo e Santa Catarina para avaliação e promoção dos alunos para as séries seguintes. A duração de cada ciclo variava de dois a cinco anos, em uma organização que surgiu para superar a fragmentação e desarticulação do currículo, dando um tempo maior que o anual para que os alunos atingissem as expectativas de aprendizagem. É o princípio da progressão continuada, em que os estudantes só são reprovados nas últimas séries do Fundamental 1, 2 e Ensino Médio (cada etapa representa um ciclo), o que favorece o desenvolvimento dos ritmos de aprendizagem diferentes.   

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Na BNCC, Arte é dividida em dois ciclos: 1º ao 5º (anos iniciais) e 6º ao 9º (anos finais). Em Educação Física, são quatro: 1º e 2º, 3º ao 5º, 6º e 7º e 8º e 9º anos. De acordo com o documento, essa classificação se dá porque “não há nenhuma hierarquia entre as dimensões [de conhecimento da disciplina], tampouco uma ordem necessária para o desenvolvimento do trabalho no âmbito didático”, sendo que cada uma das dimensões exige diferentes abordagens e graus de complexidade de acordo com o ciclo.

Um dos motivos para essa divisão seria o desenvolvimento corporal das crianças e adolescentes relacionadas à faixa etária. Mas, para os especialistas da BNCC há outros pontos ainda mais determinantes para a adoção desse modelo. André Luís Barroso, professor da Faculdade de Jaguariúna e um dos redatores da Base de Educação Física, explica que cada conteúdo da disciplina deve ser tratado de forma de espiral, já que não há uma abordagem sob uma perspectiva linear. “Os conteúdos devem ser constantemente retomados durante o trabalho pedagógico do professor, procurando oferecer uma apropriada construção do conhecimento dos estudantes acerca das práticas corporais apresentadas no documento”, esclarece.

Arte valoriza a experimentação e a formação do olhar. Crédito: Unsplash.com

De acordo com o especialista, a opção se deu pela possibilidade de aumentar a flexibilidade na delimitação dos currículos e a adequação às realidades locais. Além disso, essas duas disciplinas não têm tradição na organização do que deve ser ensinado ao longo dos anos escolares. “Não existe uma sequência de conteúdos tão clara em Arte e Educação Física. Não existem estudos em que se possa dizer o que se aprende em cada ano”, comenta Zuleika Murrie, coordenadora do grupo de trabalho da área de Linguagens da BNCC.

Em disciplinas como Língua Portuguesa, há um processo de desenvolvimento de determinada habilidade para que se possa trabalhar outras. Em Arte, valoriza-se a experimentação. “A disciplina coloca uma proposta muito mais de formação do olhar artístico do que necessariamente dominar esta ou outra teoria. O aluno tem um ciclo para desenvolver aquela habilidade e isso depende de como os sistemas se organizarão para construir seus currículos. Aprendizagem de Arte é mais complexa do que o engessamento de determinados conteúdos”, explica Zuleika. O desenvolvimento corporal das crianças e adolescentes relacionadas à faixa etária também seria um dos motivos para essa organização diferente para Educação Física e Arte.

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