“Cem Anos de Solidão”: como usar um livro de 50 anos na sua aula?
Clássico do escritor colombiano faz aniversário – e pode ser ótimo para trabalhar memórias literárias com seus alunos
POR: Leandro BeguociO livro “Cem Anos de Solidão”, do escritor colombiano Gabriel García Márquez, completou 50 anos nesta segunda-feira, dia 5 de junho. Dito assim, parece banal. Muitos livros fazem aniversário todos os dias. Mas este não é um aniversário qualquer. Essa obra rendeu o prêmio Nobel de literatura a Gabo, como o autor é conhecido. É um marco na história do realismo mágico e na literatura latino-americana. Se você ainda não leu, vale a pena usar as férias para entrar no incrível universo da família Buendía e do povoado de Macondo.
Além de deixar essa sugestão de leitura, queria te fazer um convite. “Cem Anos de Solidão” é um ótimo livro para trabalhar o gênero memórias literárias com os seus alunos.
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Em 2016, o professor Carlos Eduardo Canani foi um dos 10 vencedores do prêmio Educador Nota 10. A proposta dele era simples, como escrevemos neste texto: “ O professor notou que seus alunos não tinham o hábito de planejar textos e apresentavam pouca familiaridade com as estratégias de revisão. Além disso, chamou sua atenção a visão negativa que os adolescentes tinham da velhice e das narrativas contadas pelos mais velhos. Para que os estudantes pudessem atribuir novos significados à velhice e às histórias narradas pelos avós, ele optou por trabalhar o gênero memórias literárias”
É neste ponto que entra o livro de García Márquez. O escritor era um grande ouvinte das histórias dos avós. Em muitas entrevistas, ele explica como a escuta atenta dos mais velhos o ajudou a se transformar em escritor. Afinal, escutar, com atenção, é um grande passo para escrever bem.
Enquanto está ouvindo, você precisa tomar notas e fazer escolhas – o que é mais importante guardar? Que detalhes são imprescindíveis? Que emoções emergem da fala dos avós? Na hora de transformar em texto, o estudante pode mesclar a formalidade da língua escrita com a oralidade da primeira pessoa, caso queira dar voz às pessoas que integram a narrativa. É um exercício mais complexo, mas que pode ser muito útil para mostrar as possibilidades da língua escrita.
Outra dica interessante, bastante presente nos textos do autor colombiano: convide os alunos a escrever como se estivessem contando a história dos avós para uma pessoa próxima. Muitos estudantes travam na hora de escrever porque, na prática, estão escrevendo para você, professor. Os convide a narrar, na forma escrita, a história a um colega de sala, a um amigo do bairro, aos pais. Escrever com o propósito de ser lido, e não apenas avaliado, é uma experiência transformadora para seus alunos. Afinal, quem escreve quer dizer algo a alguém. É o óbvio – mas existe muita beleza até nas obviedades.
Essa atividade pode ser complementada por uma elaboração da árvore genealógica do aluno. Afinal, o universo de personagens homônimos ou quase homônimos da “Cem Anos de Solidão” é um ótimo ponto de partida para se entender a importância da sequência de gerações na trajetória de uma família.
A partir de Gabriel García Márquez, você pode despertar nos seus estudantes não apenas a vontade de escrever. Pode, indiretamente, mudar a relação deles com as próprias famílias. A partir do seu apoio, professor, professora, muitos netos, quem sabe, vão escutar pela primeira vez os avós e avôs. E então todos aqueles causos perdidos no tempo podem ganhar uma nova vida – em texto e na sua aula.
Vamos nessa?
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