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“Minha motivação não é com Governo X ou Y. É com Educação”

Haroldo Rocha, secretário de Educação do Espírito Santo, não vai mais assumir a secretaria-executiva, um dos cargos mais altos do MEC. Entenda o caso

POR:
Laís Semis
O secretário de Educação do Espírito Santo Haroldo Rocha não deixará o cargo. Crédito: SECOM-ES

“Eu nem cheguei a sair da Secretaria de Educação”, diz Haroldo Rocha, que lidera a pasta estadual no Espírito Santo. Haroldo aguardava a nomeação para o cargo de secretário-executivo do Ministério da Educação (MEC), anunciada no dia 7 de junho. Pouco menos de duas semanas após o anúncio, o convite mudou e foi recusado

: ao invés da secretaria-executiva, a proposta se tornou a Secretaria de Educação Superior do MEC.

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Embora continuasse exercendo sua função, o governador Paulo Hartung já havia anunciado  Aridelmo Teixeira como o sucessor de Haroldo. Aridelmo é fundador da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (Fucape Business School) e membro e membro do Movimento Espírito Santo em Ação. No entanto, com a mudança, tudo fica como está para os dois capixabas. O que não é motivo de chateação, segundo Haroldo. “Eu lamento, mas estou feliz aqui no Espírito Santo porque acho que estou trabalhando no que é prioridade para o país: fazer uma Educação Básica de qualidade”.

Com a saída do ex-ministro Mendonça Filho...
O convite (retirado) para Haroldo Rocha vem em um contexto de mudanças no MEC. Com o anúncio de candidatura de Mendonça Filho (DEM) e sua consequente saída do ministério em 6 de abril, três nomes haviam sido cogitados pela imprensa para substituí-lo: a senadora Marta Suplicy (MDB), que já havia sido ministra do Turismo e, posteriormente, da Cultura; Maria Helena Guimarães, que durante toda a gestão de Mendonça esteve à frente da secretaria-executiva do MEC e tem uma longa trajetória na Educação; e o deputado Carlos Melles (DEM-MG), que já ocupou os cargos de secretário de Transportes e Obras Públicas de Minas Gerais e de ministro do Esporte e Turismo. Cogitava-se nos bastidores de Brasília que Maria Helena, embora com fortes atributos técnicos para o cargo, teria perdido força por ser filiada ao PSDB. Carlos Melles era cotado pela perspectiva do presidente Michel Temer de manter o DEM como seu aliado. No entanto, o MEC tendeu para uma escolha mais “técnica” e menos política: Rossieli Soares, que ocupava o cargo de secretário de Educação Básica (SEB), ex-secretário estadual de Educação do Amazonas e sem filiação partidária.

No dia 7 de maio, um mês após a nomeação do novo ministro, Maria Helena pediu exoneração do cargo. Desde então – e com o “desconvite” para Haroldo (leia mais sobre os motivos na entrevista a seguir) –, a chefia da secretaria-executiva segue disponível há quase sete semanas em uma corrida que tem seis meses para ser concluída. O cargo é o mais elevado na Educação brasileira após o de ministro. Com a saída de Rossieli da SEB, a pasta também demorou a encontrar um substituto. Só dois meses após da nomeação como ministro, Kátia Smole assumiu a SEB.

Crédito: Fred Loureiro/SECOM-ES

Confira a seguir a entrevista exclusiva de Haroldo Rocha a NOVA ESCOLA:

No início de junho foi anunciado que você deixaria a secretaria de Educação do Espírito Santo para assumir a secretaria-executiva do MEC. Isso não chegou a se concretizar. O que aconteceu?
HAROLDO ROCHA Foi um convite muito honroso do Ministério da Educação, mas tive muita dificuldade em decidir entre tudo que estamos fazendo no estado, em que estamos colhendo resultados e encerrando o ciclo de um mandato para ir para um outro nível que é o MEC. Minha primeira reação e do governador [Hartung] quando recebemos o convite do ministro [Rossieli Soares] foi dizer não. Eu queria concluir os trabalhos no Espírito Santo, mas me convenci pelos programas do MEC voltados à Educação Básica que precisavam de apoio. Além disso, houve o apelo de várias instituições e colegas das secretarias de Educação para que eu aceitasse e eu tomei o convite da secretaria-executiva como missão.

Entrei em acordo com o governador de que o trabalho no Espírito Santo dava para seguir com o time que estava montado. Chegamos até a escolher a pessoa que ia me suceder. Fui nesse espírito de ajudar o Brasil, agregar à equipe do MEC e fazer uma boa transição de governo, deixando um bom planejamento para o ano que vem. Acredito que mesmo tendo apenas seis meses até o fim dessa gestão do MEC, se houvesse um bom planejamento seria tempo suficiente para cumprir agendas, como a construção dos currículos [alinhados à Base Nacional Comum Curricular da Educação Infantil e Fundamental] e planejar bem o próximo ano. Só que aconteceram mudanças, o mundo político se movimentou em Brasília. A informação que eu tenho é que a bancada de Minas Gerais pleiteou a vaga de secretário-executivo do MEC. E, com isso, eu poderia assumir a vaga da Secretaria de Educação Superior (SESu).

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Por que não aceitar o convite para a Secretaria de Educação Superior?
Já tive uma militância para Educação Superior e acho que é muito importante. Mas eu estou distante dela nesse momento. Quando trabalhei na universidade [Federal do Espírito Santo] e rodei o Brasil, criei uma visão de que o maior desafio é a Educação Básica. Minha motivação, minha causa e minha luta agora é trabalhar pela Educação Básica. Na secretaria-executiva eu também trabalharia com Ensino Superior, mas poderia canalizar em programas da Educação Básica. Já na função de secretário da SESu, eu achei que não iria contribuir tanto e aí não valeria interromper meu trabalho aqui no Espírito Santo para ir a Brasília. Nesse caso, os seis meses seriam um tempo pequeno para me inteirar e dar uma contribuição maior. E o governo também entendeu isso.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) seria um desses temas de interesse e motivação na Educação Básica?
Totalmente. Todos os estados brasileiros estão discutindo a construção dos currículos em parceria com os municípios. Nós estamos discutindo o currículo capixaba, formação de professores, refazer as matrizes de avaliação, reestruturar material didático. Minha motivação não é com Governo X ou Y. É com Educação. O Brasil está em crise, mas a Educação, não. Ela é a política mais avaliada no país. Que avaliações são feitas na saúde ou no emprego? Tem 20 anos que o Brasil avalia a Educação. Além do diagnóstico, isso já se traduziu em planejamento, como o Plano Nacional de Educação (PNE), que traz, entre outras coisas, que precisamos ter 50% das escolas públicas em tempo integral, que tem que ter a Base. Estamos executando esses pontos e não estamos amarrados a partidos políticos ou governos. A Educação tem uma dinâmica de sociedade e vive um momento bom. Eu insisto em falar isso. Todos estão chocados com o que o Brasil está passando, mas temos que olhar além do nevoeiro. Na Educação, estamos enxergando caminhos – e, mais do que enxergando, estamos executando.

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E quais são as prioridades na sua gestão no Espírito Santo até o final do ano?
Além da Base, estamos trabalhando com dois programas focados no Ensino Médio, que é uma responsabilidade exclusiva do estado [e teve início em 2015], e um focado na Educação Infantil e Ensino Fundamental, em parceria com todos os municípios do estado. Temos um programa voltado para Educação integral em tempo integral chamado Escola Viva. A cada ano aumentamos o número de escolas e vagas. Hoje são 20 mil vagas em 32 escolas. Ainda temos a maior parte da rede, 240 escolas, em tempo parcial, mas já trabalhamos as cinco horas diárias estipuladas pelo Novo Ensino Médio. O programa que desenvolvemos nestas escolas chama-se Jovem do Futuro, com apoio do Instituto Unibanco. Em comum, ambos focam em uma nova organização da gestão da escola, tanto no sentido administrativo quanto pedagógico. Eles visam maior envolvimento da equipe gestora e docente e dos estudantes em todas as decisões da escola, com foco em resultado. Os meninos precisam não só aprender mais, como se engajar mais nesse aprendizado e se envolver nas decisões da escola. O objetivo final é que eles aprendam mais e que a escola possa ajudá-los a descobrir quais são seus sonhos, projetos de vida e ajudá-los nessa direção.

Esses resultados já apareceram no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2015. Entre 2005 e 2013, nosso Ideb ficou entre 3,1 e 3,4. No início de 2015, implementamos a Escola Viva e o Jovem do Futuro. Naquele mesmo ano, nosso Ideb deu um salto para 3,7. Não só melhoramos os resultados nas provas, como reduzimos o abandono. Passamos no ranking dos estados de 11º para o 4º lugar. Ainda estamos aguardando o resultado de 2017, mas nossa expectativa é estar entre os melhores. Confesso que queria que o Espírito Santo fosse o 1º colocado [risos].

Acho que essa é uma corrida que todos os secretários estaduais querem disputar com você. E do que se trata o programa para a Educação Infantil e Ensino Fundamental?
É o Pacto pela Aprendizagem no Espírito Santo (PAES). O programa é inspirado no Programa Alfabetização na Idade Certa (PAIC) e temos um convênio com o Ceará, que realiza o PAIC, que nos apoia com consultoria. No PAES, que implementamos em 2017, trabalhamos com todos os municípios com um conjunto de ações que acreditamos que vão potencializar a melhoria de aprendizagem desde a creche até o 9º ano do Fundamental. São investimentos como em formação de professores e ampliação de creches. Esses três programas são leis no Espírito Santo. Isso garante que independentemente da mudança de governo, essas políticas não serão descontinuadas.

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