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Malala e a importância da leitura

A ativista paquistanesa Malala Yousafzai conta que ajuda a mãe a aprender a ler. Evidências de pesquisa, no Brasil, mostram relevância do hábito leitor desde a primeira infância

POR:
Lecticia Maggi, Ernesto Faria
A ativista paquistanesa Malala Yousafzai e sua mãe, Toor Pekai, a quem ela está ensinando a ler   Foto: Reprodução/Twitter Malala

A visita da paquistanesa Malala Yousafzai ao Brasil pela primeira vez foi um dos principais assuntos da área de Educação da última semana. Ela, que é a pessoa mais jovem a ganhar o prêmio Nobel da Paz por sua luta pela educação das meninas, participou de um debate a convite do Itaú e anunciou o financiamento de três ativistas brasileiras. Em sua fala, abordou com mais ênfase temas como empoderamento feminino e diversidade na educação. Mas um outro tópico, menos citado na mídia, também merece atenção: a importância da leitura para Malala – e para as crianças em geral.

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Para começar, é difícil falar do impacto causado pela leitura sem antes olhar para aqueles que sequer sabem ler. Em seu discurso, Malala diz que sua própria mãe tinha (e talvez ainda tenha) essa dificuldade: “Na nossa família, não era minha mãe que lia para mim, eu que lia para minha mãe. Quando ela tinha apenas 6 anos, vendeu os livros e não pôde estudar mais. Agora, ela está aprendendo novamente, está lendo, e eu me sento ao lado dela para ajudar (...). Durante o meu tratamento, minha mãe teve dificuldade de fazer pequenas coisas, de se comunicar, ler o letreiro das ruas, todas essas atividades que são corriqueiras do nosso dia a dia, e nós assumimos como algo normal que pessoas que não têm acesso à Educação não tenham esse tipo de facilidade.”

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No Paquistão, país de origem de Malala, o acesso das mulheres à educação parece realmente uma grande questão. De acordo com dados do último Relatório de Desenvolvimento Humano, de 2016, enquanto somente 69,3% das jovens de 15 a 24 anos são alfabetizadas, o percentual entre os meninos é de 81,5%. Essa diferença de -12,2 entre os sexos é a 13º maior entre os 188 países com IDH disponível.

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No Brasil, quando a comparação é feita por sexo, as mulheres levam uma pequena vantagem: 99,2% das jovens de 15 a 24 anos são alfabetizadas, contra 98,6% dos garotos de mesma idade. O analfabetismo por aqui, mais do que sexo, está relacionado com raça e região geográfica: 4% da população branca com 15 anos ou mais de idade é analfabeta, contra 9,3% de população parda ou preta, indica a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2017. Enquanto o índice de analfabetismo é de 3,5% no Sul do país, no Nordeste é quatro vezes maior, atingindo 14,5% da população de 15 anos ou mais.

Com taxa geral de 7%, o Brasil não atingiu a meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que previa a redução da taxa de analfabetismo para 6.5% em 2015. O PNE prevê ainda a erradicação do analfabetismo até 2024, objetivo que parece bem pouco factível pela velocidade dos avanços e pela complexidade de se combater em massa o analfabetismo na idade adulta.

Refletindo agora sobre as crianças que estão começando o letramento, é fundamental incentivá-las a ler e ler para elas. A Fundação Itaú Social publicou, em 2016, o estudo “Impacto da leitura feita pelo adulto para o desenvolvimento da criança na primeira infância”, que faz uma grande compilação de artigos científicos sobre o assunto, publicados a partir de 1990.

Olhando para aspectos cognitivos, o estudo diz que o incentivo à leitura na primeira infância está entre os fatores determinantes dos escores de inteligência, motivação acadêmica e até dos anos de escolaridade que a criança terá. A leitura parental tem impacto positivo na redução dos índices de repetência por volta dos 14 anos de idade e no aumento da capacidade leitora entre os 7 e os 11 anos; e o aprimoramento das habilidades de leitura aos 7 anos afeta o nível socioeconômico que o indivíduo terá aos 42 anos. 

Para além dos aspectos cognitivos, o estudo indica ainda que a leitura de histórias de ficção está relacionada ao desenvolvimento de extroversão, amabilidade e conscienciosidade (auto-eficácia). O incentivo à leitura gera melhora no sentimento de empatia, isto é, a capacidade de se colocar no lugar do outro.

O estudo aborda, principalmente, sobre os benefícios da leitura parental. Mas é importante também que os professores se atentem à questão e reflitam sobre formas de trabalhar esse hábito de forma mais efusiva e transversal na escola.

O Estudo Excelência com Equidade, da Fundação Lemann, do Instituto Credit Suisse Hedging-Griffo e do Itaú BBA, mostrou que entre as escolas que atendem alunos de baixo nível socioeconômico e conseguem bons resultados há uma grande ênfase no incentivo à leitura. A Figura 1, retirada do estudo, é um diagrama que ilustra o foco dessas escolas: engajar as crianças e jovens no hábito leitor. Nessas instituições, há atividades de leitura promovidas nas aulas - mesmo nas áreas de ciências e exatas -, assim como atividades na biblioteca e concursos como de poesia ou festivais literários.

Figura 1: Diagrama sobre as ações ligadas à leitura das escolas de Excelência com Equidade

Fonte: Excelência com Equidade: os desafios dos anos finais do Ensino Fundamental

Resumindo, a alfabetização e hábito leitor são fundamentais no desenvolvimento dos cidadãos. Ter a escola e a família atentas a isso é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e desenvolvida!

 

*Lecticia Maggi é jornalista e coordenadora de comunicação do Interdisciplinaridade e Evidências no debate Educacional (Iede). Ernesto Faria é diretor do Iede e doutorando em Organização do Ensino, Aprendizagem e Formação de Professores na Universidade de Coimbra

Malala e sua mãe, Toor Pekai    Foto: Reprodução/Twitter Malala

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