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Construção dos currículos: 5 dicas para fazer sua contribuição

É professor da rede municipal ou estadual e quer fazer sugestões para o currículo da Educação Infantil e Ensino Fundamental? Confira como contribuir com a consulta pública online

POR:
Laís Semis
Crédito:  Štefan Štefancík/Unsplash

Até o início do ano letivo de 2020, todas as escolas públicas e privadas precisarão ter seus currículos adequados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Para dar esse passo na implementação da Base, as redes estaduais e municipais de Educação formaram uma parceria para produzir os novos currículos. A perspectiva é que, ao longo de 2018, estados e municípios elaborem propostas curriculares

e as apresentem à comunidade escolar para reunir contribuições sobre como melhorar o documento. O calendário do Ministério da Educação (MEC) prevê que até novembro todos os currículos estejam aprovados. Entre agosto e novembro, a proposta inicial do currículo deverá ser aprimorada considerando as sugestões coletadas na consulta pública.

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A consulta é aberta aos professores e gestores escolares, que poderão acessar a versão preliminar do currículo e fazer seus apontamentos. Os documentos serão disponibilizados para consulta na plataforma do MEC sobre a BNCC. “É importante que os professores participem para apontar o que é relevante no entendimento deles de sala de aula e deve ser desenvolvido no currículo”, explica Hélio Daher, superintendente de Políticas Educacionais da Secretaria Estadual de Educação do Mato Grosso do Sul e coordenador estadual da BNCC. A seguir, listamos 5 dicas para uma contribuição mais assertiva para os currículos. Confira:

1. Traga contribuições embasadas
Uma sugestão de alteração ou inclusão na proposta do currículo tem maior potencial de ser considerada se for bem justificada. Se a sua sugestão é de, por exemplo, incluir o estudo de um acontecimento histórico regional importante para a história e identidade do estado, mais do que apenas indicar o evento que deseja ver incluído, é essencial que você descreva o por quê ele deveria fazer parte do currículo, como ele se relaciona com as habilidades e competências da Base e onde deve ser inserido.

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“A justificativa do por quê e como ela vai ser inserida na progressão é muito importante para o entendimento e até para defender os pontos para outros professores. Às vezes, a importância daquilo parece muito clara, mas nem sempre é para todos”, recomenda Hélio. Outro elemento fundamental de análise do texto dos currículos é a própria redação do documento, como aponta Roberta Panico, diretora de desenvolvimento educacional da Comunidade Educativa CEDAC. “Verificar a clareza da redação é importante, tanto a questão do texto em si quanto os conceitos apresentados”.

No currículo da capital paulistana consta o estudo dos migrantes e imigrantes de São Paulo no século XXI. Crédito: Sérgio Souza/Unsplash

2. Considere o contexto regional
Durante a construção da BNCC, diversas contribuições eram demandas de inclusão de conteúdos locais. Como grande parte delas não contemplava os alunos em nível nacional – já que cada estado ou região contém peculiaridades históricas, geográficas, literárias e econômicas –, elas acabaram não integrando o documento. Agora, com a construção dos currículos, é o momento de garantir que estejam presentes.

A Base de História, por exemplo, determina a análise de diferentes fluxos populacionais e suas contribuições para a formação da sociedade brasileira. Isso pode se desdobrar no currículo para contemplar características regionais. No novo currículo do município de São Paulo, em vigência desde o início deste ano, além dos fluxos migratórios de forma mais ampla (que consideram desde o nomadismo e a sedentarização na Antiguidade) incluiu-se também o estudo dos migrantes e imigrantes de São Paulo no século XXI.

Como os currículos estão sendo construídos em uma parceria entre estados e municípios, as indicações devem atender ambos. “Se eu estou falando de hidrografia, vou falar da Bacia do rio Paraguai e não do rio que passa pelo meu município”, exemplifica Hélio. “Esse aprofundamento mais específico será dado na escola como progressão daquilo que está sendo proposto. O currículo do estado, no entanto, tem que dar abertura para esses aprofundamentos”. De acordo com Roberta Panico, as especificações serão desdobradas por orientações pedagógicas para as redes. “Nela serão definidas questões de identidade do território, metodologia e contextualização de algumas habilidades a partir do contexto local”, explica a diretora da CE CEDAC. No âmbito da escola, os projetos político-pedagógicos (PPP) abarcarão questões e demandas ainda mais específicas de cada unidade.

3. Pense de forma interdisciplinar
“Nenhum componente se desenvolve sozinho”, define o superintendente de políticas educacionais do Mato Grosso do Sul. O currículo deve favorecer essa conexão entre os diferentes componentes curriculares e os professores devem se atentar se o espaço para a interdisciplinaridade está garantido. Um conteúdo muito tradicional da Matemática, como uso de gráficos, também pode entrar em outros componentes, como História e Língua Portuguesa, com habilidades que se complementam. “É preciso fazer uma leitura menos linear mas transversalmente algumas habilidades vão se complementando”, recomenda Roberta.

A interdisciplinaridade pode ser pensada tanto pela ótica do que as diferentes áreas do conhecimento compartilham entre si, quanto como elas podem ajudar as outras. Identificar como se relacionam as habilidades, objetivos de aprendizagem e competências dos componentes curriculares abre possibilidades para criar caminhos conjuntos entre os componentes. “A dica é fazer uma reflexão do seu dia a dia, de como construir em conjunto competências e habilidades que vão fortalecer determinados aprendizados”, explica Hélio.

Outro caminho é considerar as contribuições que diferentes componentes têm no desenvolvimento do conteúdo dado em sala de aula. “O professor pode imaginar o que é necessário inserir em outros componentes que subsidiam o seu”, diz Hélio. Diante disso, vale se questionar quais são os conteúdos que necessitam de base em outras disciplinas para desenvolvê-los e se estes estão contemplados pelo currículo. Converse com o professor do outro componente para saber o que é preciso acrescentar para que este objetivo esteja contemplado.

4. Reflita sobre a necessidade de complementações
Outra demanda recorrente durante as discussões que deram origem à Base Nacional Comum Curricular foram complementações maiores, como o atendimento à aspectos culturais e linguísticos de diferentes povos indígenas e a inclusão de Línguas Estrangeiras. Embora a Base em si não conseguisse contemplar todos, os currículos podem atender melhor esta demanda.  Para os estados do Sul, pela influência da imigração alemã na região, a Língua Alemã pode ser uma demanda bem como a Espanhola pode ser para os estados que fazem fronteiras com países que falam o idioma, como é o caso de Roraima.

Os participantes da consulta pública devem se questionar se há algo mais que seja necessário acrescentar na primeira versão do currículo. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, o estado sentiu falta da Língua Espanhola. “Não estamos tornando o componente obrigatório, mas construímos um currículo para ficar à disposição das redes, caso elas tenham interesse e condições de ofertá-la”, diz Hélio Daher. Nesta etapa do processo, ainda é possível fazer acréscimos e sugestões grandes como o de novas línguas.

Apesar disso, Roberta faz um alerta: “Precisamos tomar cuidado em não inventar componentes curriculares que podem estar agregados aos já existentes”. Para a diretora da CE CEDAC, um bom exemplo é o caso da Educação Financeira que, ao invés de ser uma disciplina, é trabalhada dentro das habilidades de Matemática. Também é preciso considerar que essas inclusões podem implicar contratação de novos professores,  ampliação de carga horária e até mesmo interferir no transporte escolar – já que com a ampliação de horas na escola, é preciso considerar como os alunos voltarão para casa após o período na escola.

5. Analise as progressões
“É necessário uma lógica de progressão pedagógica. Para isso, é preciso avaliar se a progressão de conteúdos está adequada ou não”, aponta Hélio. Analisar quais habilidades são esperadas para cada ano e quais são necessárias para o próximo e garantir que haja uma lógica entre elas. “Se algo está previsto para o 6º ano, mas existe uma habilidade essencial que é base dela, é preciso garantir que ela seja bem trabalhada nos anos anteriores”, diz Hélio.

A progressão das habilidades deve ampliar ou aprofundar a complexidade ao longo dos estudos. A dica de Roberta Panico é prestar atenção aos verbos, que vão ganhando complexidade de ações ao decorrer das séries. “Primeiro, o aluno identifica determinado tópico. Depois ele identifica e relaciona. Em um terceiro momento, ele analisa. Essa complexização das habilidades precisa acontecer”, explica.