Aula de História: como jogos podem ajudar a reconstruir identidades esquecidas
Jogos de tabuleiro de origem africana e indígena trazem diversidade para a sala de aula
POR: Flavia NogueiraE se a sua aula de História tivesse, além dos livros, jogos de tabuleiro de origem indígena e africana? Esta é a proposta da antropóloga e consultora em diversidade Marcele Guerra, que propõe o uso do Jogo da Onça e o jogo da Mancala para ajudar a trazer diversidade e reconstruir identidades esquecidas.
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Em uma atividade realizada durante a Virada de Autores, que ocorre entre os dias 31 de outubro e 4 de novembro em Itapeva, MG, Marcele iniciou o trabalho com uma provocação aos professores de História.
A primeira pergunta foi quantos entre os presentes tinham antepassados europeus e de onde vinham. Muitas mãos levantadas e muitos nomes de cidades europeias citados. A segunda pergunta era se alguém ali tinha antepassados indígenas e de qual região. Menos mãos levantadas e menos pessoas tinham certeza da própria origem. Ao perguntar se alguém tinha antepassados africanos e de onde eles vinham, mãos se levantaram, mas ainda menos sabiam sobre suas origens.
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O incômodo de não saber sobre os antepassados de origem africana levou à reflexão sobre como uma política de estado aplicada no Brasil desde o século 19 acabou por suprimir a diversidade.
“Somos os filhos e filhas de um projeto de estado que anula a diversidade”, diz Marcele.
E, a partir deste incômodo, os professores foram convidados a jogar o Mancala, um jogo no qual os participantes precisam semear e colher, e vence quem terminar com o maior número de sementes. Eles também receberam tabuleiros para o Jogo da Onça, onde o objetivo é que a onça capture cinco cachorros ou que os cachorros imobilizem a onça.
Marcele explica que estes jogos de origem africana e indígena tiram o pensamento do aluno dos jogos mais tradicionais.
“Se eu pedir: enumere jogos de tabuleiro. Você vai responder: xadrez e dama. Mas, quando trazemos o Jogo da Onça e Mancala, começamos também a ter este diálogo de status, e é importante também você oferecer a diversidade de opções. É também esta quebra de uma visão única, etnocêntrica. Vivemos em um país pluriétnico.”
Provocando o estudante
A antropóloga já observou a aplicação das perguntas em salas de aula do Ensino Médio e do Ensino Fundamental 2 e a reação foi diferente da registrada entre os professores.
“Eles ficam instigados, eles querem saber e isso tem um eco dentro de casa. E se você trabalha com um acompanhamento de plano de aula, é maravilhoso porque começam a surgir as narrativas e as histórias, as tramas familiares”, conta.
Segundo Marcele, isso também é uma ferramenta de conhecimento da própria turma, de criação de vínculos e facilita para trabalhar o conteúdo de História a partir da realidade daquele grupo de estudantes.
A antropóloga também tem sugestões para o caso de alunos que não conseguem descobrir as próprias origens junto aos pais. Para ela, essa informação também pode voltar para o professor.
“É claro que o professor não vai falar para (o aluno) insistir, perguntar de novo. Você pode dar outras atividades para o estudante investigar sozinho. Existem outras formas. Eu sempre jogo para o olhar no território: territórios de origem e territórios de permanência. Onde está a escola? Que cidade, bairro? Tem ou tinha uma preponderancia étnica? Como se deu a ocupação historicamente?”
Marcele afirma que, desta forma, o professor começa a construir junto com os alunos uma história local, territorial e também a história da identidade dos estudantes.
“É um trabalho de reparar a identidade. Eu reparo, eu vejo”, conclui.
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