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Eu ando ansiosa e sinto que estou com problemas, mas tenho vergonha de falar com amigos. Quem pode me ajudar?

Se você anda se sentindo assim ou conhece alguém nessa situação, então nossa conversa é com você

POR:
Ana Carolina C D'Agostini
Crédito: Stacey Gabrielle Koenitz-Rozells/Unsplash

Falar de saúde mental é m tabu enorme – inclusive na escola, em que professores se sentem na responsabilidade de saber, entender, compartilhar. Mas e quando é o professor que precisa de apoio?

Nós estamos aqui para ajudar. As perguntas a seguir foram formuladas a partir de uma pesquisa sobre saúde do professor realizada por NOVA ESCOLA no ano passado. As respostas são de Ana Carolina C D'Agostini, mestre em Psicologia da Educação pela Columbia University e consultora de Saúde Emocional de NOVA ESCOLA. Para tratar desse assunto, teremos no dia 30 de abril às 18h uma conversa com Ana Carolina e o médico psiquiatra Gustavo Estanislau, integrante do grupo Cuca Legal, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e autor do livro Saúde Mental na Escola, que será transmitido ao vivo em nossa página no Facebook. Eles vão falar sobre os problemas mais frequentes em saúde emocional e também responder perguntas. Se tiver dúvidas para mandar antecipadamente, você pode usar as redes sociais de NOVA ESCOLA ou nos enviar por e-mail novaescola@novaescola.org.br.

1. Ando desanimada para tudo. Como saber se estou cansada ou sofrendo de depressão?
Todos nós nos sentimos tristes ou desanimados de tempos em tempos e essa é uma sensação esperada frente a frustrações, perdas ou outros acontecimentos cotidianos de nossas vidas. Entretanto, a depressão não é uma tristeza breve ou um desânimo passageiro. A depressão está atualmente entre as principais questões de saúde enfrentadas pela população e, de acordo com o DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Health), é um transtorno mental multifatorial caracterizado por tristeza persistente, perda de interesse em atividades antes consideradas prazerosas, perda ou ganho excessivo de peso, alteração significativa de apetite, sensação de fadiga e de falta de energia, diminuição da habilidade de concentração, inquietação, culpa, desesperança, sentimento de inutilidade, ideação suicida e pensamentos de autolesão. Para o diagnóstico efetivo de depressão, a pessoa deve apresentar cinco ou mais desses sintomas por, no mínimo, duas semanas. Os sintomas de depressão afetam significativamente a qualidade de vida e podem ocasionar grande comprometimento social, interferindo na vida pessoal e profissional. Se você desconfia que está sofrendo de depressão, o ideal é procurar um(a) psiquiatra e um(a) psicólogo(a) para seu tratamento.

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2. Eu acho que estou com algum problema de saúde mental, mas tenho muita vergonha de dizer isso para minha família e para os colegas do trabalho. Quem pode me ajudar?
Questões de saúde mental infelizmente ainda enfrentam muitos estigmas, o que traz o sentimento de vergonha ao indivíduo por ter de mostrar alguma fragilidade ou por se sentir incapaz de lidar com temas de natureza emocional. Problemas de saúde mental são sérios e exigem respeito, discussão e tratamento. Quanto mais falarmos sobre esse tema na escola e na sociedade, mais pessoas terão coragem de procurar ajuda e de reconhecer o que realmente estão sentindo. Os principais profissionais habilitados para o diagnóstico e tratamento de saúde mental são médicos psiquiatras e psicólogos. As principais formas de obter atendimento público em saúde mental no Brasil são por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Os CAPS prestam assistência multiprofissional e cuidados terapêuticos a partir do quadro de saúde de cada paciente. Há a possiblidade de atendimento para todas as faixas etárias e para diferentes questões de sofrimento ou transtorno mental, incluindo necessidades consequentes do uso de álcool e outras drogas. Caso o município onde você mora não possua esse tipo de serviço, o atendimento em saúde mental é realizado pelas Unidades Básicas de Saúde ou Postos de Saúde, que oferecem além de tratamentos tradicionais, terapias alternativas como acupuntura, meditação, Ayurveda, dança e homeopatia. Para mais informações sobre os serviços de saúde mental oferecidos pelo Ministério da Saúde, acesse o portal que traz informações sobre saúde mental. Caso você tenha seguro de saúde, verifique se seu plano cobre atendimentos psicológicos e procure também um(a) psiquiatra. Por fim, procure vencer o estigma das próprias questões de saúde mental que você está enfrentando. Tenha clareza de quem são as pessoas que você mais se sente à vontade para dividir suas questões pessoais. É extremamente benéfico para a saúde emocional contar com uma rede de apoio e estabelecer vínculos de confiança para compartilhar não só  momentos alegres, como também os de vulnerabilidade e de dificuldade. É importante destacar também que para cuidar da saúde de maneira integral é preciso incluir na rotina fatores como lazer, exercícios físicos, alimentação balanceada, buscar relacionamentos significativos e senso de propósito naquilo que fazemos.

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3. Quando anunciam qualquer mudança na rotina da escola, eu perco noites de sono. O que está acontecendo comigo?
O receio à mudanças e a preocupação excessiva com o que está por vir pode ser sinal de ansiedade. A ansiedade é uma reação ao estresse e pode ser benéfica em alguma situações, pois pode nos alertar para os perigos e nos ajudar a estar mais atentos. Entretanto, os distúrbios de ansiedade diferem dos sentimentos esperados de nervosismo, e envolvem medo ou ansiedade em excesso. Os distúrbios mais comuns são: síndrome do pânico, distúrbio de ansiedade  generalizada, fobias específicas, fobia social, e ansiedade de separação. Pessoas com transtornos de ansiedade costumam ter pensamentos ou preocupações recorrentes e podem chegar a evitar certas situações por preocupação excessiva. Os tratamentos mais comuns envolvem psicoterapia, principalmente a da linha cognitiva e acompanhamento psiquiátrico. Diversas pesquisas recentes apontam também para os benefícios da meditação, técnicas de respiração e práticas regulares de atividades físicas.

4. Chego em casa cansada e não quero nem conversar, apenas assistir televisão para me acalmar. Isso é normal?
Pela sua descrição, aparentemente o trabalho está te levando a um nível de esgotamento físico e mental. O trabalho do professor está entre as principais profissões que apresentam Burnout, ou a Síndrome do Esgotamento Nervoso. Perceba se você está apresentando demais sintomas da síndrome, como falta de motivação, vontade de se isolar, dificuldade de concentração, insônia, dores de cabeça e mudanças bruscas de humor. Caso esteja, busque apoio médico e psicológico. Certamente, há muito a ser melhorado no sistema educacional para otimizar as condições de trabalho do professor. Paralelamente, pense também em como trazer maior equilíbrio para a sua vida e procure identificar os principais agentes causadores de estresse presentes na sua rotina. Busque estabelecer prioridades, promova espaços de troca e discussão no trabalho, movimente-se, cuide do seu bem-estar e organize a sua rotina de forma que sempre haja prioridade para aquilo que também é prazeroso. Torne isso tão importante quanto as demandas do trabalho e saiba com quem contar em momentos de esgotamento.

5. Todo domingo à tarde, eu começo a ficar nervosa em pensar que vou dar aula no dia seguinte. O que há de errado comigo?
Parece que a lida com a rotina na escola está trazendo ansiedade e apontando para temas que estão te trazendo incômodo. Procure investigar e examinar os seus pensamentos, tentando nomear aquilo que não está te fazendo bem e falando sobre isso. Será a gestão da sala de aula? O relacionamento com os alunos ou com os colegas de profissão? Cansaço extremo? Falta de reconhecimento da profissão? Excesso de trabalho? Embora muitas dessas condições não sejam simples de resolver, o primeiro passo é reconhecer a raiz do problema para então pensar em estratégias de resolução ou de mudanças.

6. Minha amiga já me recomendou fazer terapia, mas não tenho tempo nem para ir ao médico. O que posso fazer?
A psicoterapia é uma das principais aliadas nos cuidados com a própria saúde emocional. Entretanto, aspectos financeiros  e a falta de tempo podem ser empecilhos para essa forma de cuidado. Atualmente, há profissionais regulamentados pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP) que realizam atendimento via internet, o que é uma ótima solução para a falta de tempo e que também pode trazer maior economia. Caso você sinta angústia extrema ou esteja apresentando pensamentos suicidas, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio gratuito 24h via telefone ou internet.

7. Ultimamente, eu choro por qualquer coisa, o que anda incomodando minha família e meus amigos. É um problema ser sensível demais?
Não é um problema ser sensível demais. É importante diferenciar se essa sensibilidade é parte da sua personalidade ou se ultimamente você tem percebido que seus sentimentos e reações estão mais aflorados, tornando o choro mais frequente e trazendo estranhamento aos seus amigos e familiares. É sempre recomendado passar por uma avaliação médica para verificar como está a sua saúde física como um todo e ter também o mesmo cuidado com a chamada saúde emocional, atentando-se às suas emoções e sentimentos.

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