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Mutismo Seletivo: conheça as causas, sintomas e formas de tratamento

O Mutismo Seletivo é uma fobia que pode se manifestar na escola principalmente entre crianças de 3 a 6 anos de idade

POR:
Nadine Bonavita
Crédito: Getty Images

O Mutismo Seletivo (MS) é um transtorno de ansiedade infantil complexo que caracteriza-se pela dificuldade de um indivíduo se comunicar verbalmente em determinadas situações sociais. Apesar de parecer com um comportamento de timidez, tal transtorno envolve muito mais do que apenas não se sentir à vontade em falar com pessoas e não representa uma recusa intencional de articular palavras. Os sintomas e as condições coexistentes podem variar de acordo com a singularidade de cada um, mas tendem a gerar sofrimento ao indivíduo e aqueles à sua volta. Apesar de poder ser percebido ainda na infância, o Mutismo Seletivo pode se estender pela adolescência e pela vida adulta sem ser de fato diagnosticado. Opções de tratamento existem e podem ser muito efetivos, principalmente quando abrangem acompanhamento profissional multidisciplinar e o apoio da família.

De acordo com o mais recente manual publicado sobre Mutismo Seletivo (Johnson & Wintgens, 2017), a característica essencial para um diagnóstico do transtorno está na variação do comportamento do indivíduo, tendo que em certas situações, a comunicação verbal é rara ou escassa e, em outras, a fala é desinibida e espontânea. Essa oscilação está fortemente vinculada à percepção da presença de determinadas pessoas. Além disso, nenhum caso de Mutismo Seletivo se expressa da mesma maneira que outro.

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Mesmo que seja considerado um transtorno de ansiedade e muitas vezes associado a fobia social, o Mutismo Seletivo não implica em ansiedade excessiva em todos os momentos. É por apresentar pequenas peculiaridades que o transtorno se torna distinguível. Por exemplo, para uma criança com o transtorno, pode ser fácil falar com os pais em um lugar grande, barulhento e impessoal como um shopping, mas impossível em um local onde ela pode ser escutada por outras pessoas, como na sala de aula por exemplo. É possível perceber a criança em uma situação assim por meio de mudanças de expressão facial e corporal. A comunicação é então quase que inexistente, reduzida a sussurros, frases curtas e gestos. Outro exemplo é o da criança que consegue estar entre amigos se comunicando de forma descontraída, mas que se torna muda quando um adulto se aproxima. Por se assemelhar a um comportamento de quietude, aqueles que não convivem frequentemente com pessoas com Mutismo Seletivo não tem a mesma facilidade de identificar essas mudanças como os que possuem proximidade, como normalmente é o caso dos familiares.

“Crianças tímidas podem se sentir desconfortáveis ao falar em público, mas crianças com Mutismo Seletivo se sentem horrorizadas” (Johnson & Wintgens, 2017). Assim, enquanto uma criança tímida pode lentamente ganhar confiança e se sentir à vontade com desconhecidos, outra com o transtorno tem maior dificuldade em fazer o mesmo. As duas situações podem ser enfrentadas com encorajamento, conhecimento e suporte das pessoas envolvidas, porém o Mutismo Seletivo exige maior cuidado e atenção e tende a ser mais efetivo mediante a orientações de profissionais. Entender que o transtorno é uma fobia, por exemplo, é o primeiro passo para proporcionar auxílio à criança. Vale ressaltar que crianças tímidas, se submetidas a ridicularização ou pressão para falar antes da hora, também podem desenvolver Mutismo Seletivo.

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Especificidades sobre o Mutismo Seletivo

O Mutismo Seletivo se desenvolve entre 3 e 6 anos de idade, entretanto muitas vezes é diagnosticado apenas a partir dos 5 anos, quando há a inserção da criança no ambiente escolar. Para o diagnóstico (West, 2017), a dificuldade em falar deve interferir na comunicação em contextos diversos, como o social e o acadêmico pelo período de no mínimo um mês sem que o comprometimento esteja relacionado com falta de conhecimento ou falha no desenvolvimento da fala. É importante destacar também que o Mutismo Seletivo muitas vezes é confundido com autismo e que não afeta apenas a fala, mas também pode levar a tensões musculares interferindo na capacidade de movimentação do indivíduo. Episódios curtos e/ou isolados de silêncio não satisfazem o critério de diagnóstico.

Especialistas sugerem que a fobia está relacionada a duas condições: a expectativa de falar em algumas situações gera tanto medo que o indivíduo se torna incapaz fisicamente de falar ou se poupa da experiência sentida como intensamente angustiante, evitando a necessidade de falar. Quanto mais a criança vivencia essas circunstâncias, mais a ansiedade se instala.

Mesmo com diversos estudos na área, não há nenhuma causa específica já identificada para o quadro, apenas elementos que podem contribuir para o desenvolvimento de Mutismo Seletivo:

  • Combinação de fatores genéticos e fisiológicos que favorecem a vulnerabilidade do indivíduo a desenvolver transtornos de ansiedade;
  • Eventos que estabelecem uma conexão entre a exigência de falar e o nível de ansiedade experienciado;
  • Reforço do comportamento a partir das reações das pessoas que podem fortalecer o estresse e o medo do indivíduo.

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Tratamento

A percepção do Mutismo Seletivo muitas vezes acontece na escola, quando a criança apresenta os sintomas descritos e pode ser encaminhada para tratamento. O tratamento costuma ser realizado mediante a compreensão dos elementos que colaboram para o seu desenvolvimento, englobando intervenções psicológicas e farmacológicas. No contexto da psicologia podem ser realizadas ações psicossociais e psicoeducativas, tais como terapia comportamental, terapia em grupo, terapia de família e programas instrutivos.

Nadine Bonavita é psicóloga clínica com formação em Psicologia pela PUC-SP e mestrado pela Columbia University.

 

Referências

Child Mind Institute. Selective Mutism

Johnson, M., & Wintgens, A. (2017). The selective mutism resource manual. Routledge. 

West, K. (2017). Examining the Literature on Fluoxetine Treatment for Selective Mutism in Children.

Wong, P. (2010). Selective mutism: a review of etiology, comorbidities, and treatment. Psychiatry (Edgmont), 7(3), 23.

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