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Escrita alfabética: como ajudar as crianças que já produzem registros bem próximos ao convencional

As crianças já conseguem ler com facilidade o que elas escrevem. Agora, é preciso chamar atenção para a ortografia

POR:
Beatriz Vichessi
Menina de cabelos cacheados debruçada sobre caderno aberto, escrevendo, com lápis na mão direita
Crédito: Getty Images

Depois de um percurso cheio de elaborações, conjecturas, verdades provisórias e muitas, muitas e muitas oportunidades para produzir as próprias escritas, refletir sobre elas e lê-las em voz alta, a turma alcança a hipótese alfabética, uma fase de transição importante mas que, geralmente, passa rápido.

Nesse momento, as crianças produzem registros facilmente compreendidos pelos adultos e por outras crianças que já sabem ler de forma convencional. Trabalhar em duplas produtivas, ter oportunidades de escrever mais ainda e ler o que foi escrito por si mesmo, em voz alta em conversa com o professor são momentos importantes para que elas

continuem a colocar em jogo seus conhecimentos e avancem as escritas cada vez mais ortográficas.

Um pouco sobre a hipótese

A hipótese alfabética é uma conquista importante quando observamos o percurso infantil da construção da escrita. Os pequenos já sabem como produzir registros que podem ser lidos por outras pessoas e, na maioria dos casos, logo começam a se questionar sobre a forma de grafar corretamente as palavras. Sabem que é possível escrever XOCOLATE, mas passam a perguntar se devem fazê-lo com X ou CH. Escrevem PASARO mas recuam e questionam se é com SS. Prova que a alfabetização não é uma transcrição do oral, e sim uma representação do oral. Várias letras podem ser usadas para sinalizar um mesmo som, mas há regras e convenções que ditam as adequadas, caso a caso. 

Exemplos
PASARO para PÁSSARO
CAZA para CASA
QUIRIDA para QUERIDA
CARO para CARRO
JIRAFA para GIRAFA
XAPEU para CHAPÉU
VELIA para VELHA
CAXORO para CACHORRO
PEDAR para PEDRA
TEZOURO para TESOURO
PAPAE para PAPAI
SEBRA para ZEBRA
PIMEMTA para PIMENTA
VINAGER para VINAGRE

LEIA MAIS  Hipótese silábico-alfabética: como ajudar as crianças a chegar mais perto da escrita convencional

 

Boas intervenções
Dicas para fazer as crianças avançarem
  1. Organize um banco de palavras com os alunos para ser exposto na parede da sala e servir de consulta pela turma sempre que surgirem dúvidas sobre como escrever determinadas palavras. Pode ser as que terminam com Z, que contenham Ç, etc. Buscar apoio em lugares seguros é um recurso feito por escritores competentes também.
  2. Proponha que as crianças produzam no computador e reflitam sobre as palavras que aparecem sublinhadas com um traço vermelho (indicativo de erro ortográfico). O que sugerem fazer para melhorá-las? Depois de pensarem, elas podem conferir o que o computador propõe e acatar ou não a grafia sugerida.
  3. Organize atividades de revisão coletiva, com um texto produzido por uma dupla de alunos ou por toda a sala transcrito no quadro. Você pode sublinhar as palavras que precisam ser discutidas pelo grupo.
  4. Sugira que os alunos consultem textos expostos na parede da sala, em capas de livros e outros suportes confiáveis para tirar dúvidas. Por exemplo, DRAGÃO pode ajudar a escrever PEDRA.
  5. Incentive-os a olhar os pedaços que compõem as palavras para compreender que o mesmo som pode ser escrito de maneiras diferentes, como acontece em MANHÃ e MAMÃE.
  6. Proponha a formação de duplas formadas por uma criança com a hipótese alfabética e outra com a hipótese silábico com valor sonoro, de modo que a primeira dita para a segunda escrever. Assim, a primeira pode pensar em como escrever, sem se preocupar com o ato da escrita em si. E a segunda se beneficia dos conhecimentos da primeira.
  7. Forme duplas com uma criança ortográfica e outra alfabética, de modo que a primeira dite para a segunda escrever. Desse modo, quem sabe mais fornece informações importantes para o colega sobre o uso das letras mais adequadas.
  8. Forneça um conjunto de letras móveis adequadas para a escrita de determinada palavra e peça que a criança a escreva. Por exemplo: escrever PÁSSARO e fornecer dois A, dois S, um P, um R e um O. Depois, solicitar que a criança leia com o dedinho o que escreveu. Se ela produzir PASAROS, por exemplo, e ler PÁSAROS, você pode lembrar que o pedido foi a escrita de PÁSSARO e que o produzido é o plural da palavra, dando nova oportunidade. No caso de um aluno deixar de usar uma letra (escrever PASARO e desconsiderar um S), explique a ele que é preciso usar todas e sugira que ele reflita sobre o que produziu e busque o lugar adequado para o S que não foi usado.
  9. Depois de pesquisas e revisões coletivas, construa com as crianças as chamadas “verdades provisórias” para que pensem e organizem ideias sobre as regras ortográficas e, com o passar do tempo, validem-nas ou revejam-nas. Por exemplo: “Sabemos que dois S no meio da palavra fazem som como o de PÁSSARO”, “Não existem palavras que começam com Ç”, etc.
  10. Faça da parede da sala de aula um grande mural de consultas, expondo cartazes com regras construídas pela turma para que os alunos consultem em caso de dúvida. Os cartazes podem ir sendo retirados, conforme a classe for se apropriando com segurança de determinadas regras e convenções.

 

O que não fazer
Práticas que devem ser evitadas
  1. Pedir que a criança escreva textos longos sozinha, como se ela já tivesse condições de dar conta disso. O ideal é que os alfabéticos trabalhem em dupla ou coletivamente, para que tenham a oportunidade de pensar como escrever (conteúdo).
  2. Desafiar os alunos a lerem textos longos. Eles podem até dar conta de ler todas palavras, mas chegarão ao fim sem compreender a história como um todo.
  3. Propor atividades de cópia sem sentido, como “escreva dez vezes a palavra CACHORRO”, na tentativa de fazer com que a turma aprenda com a repetição. É o uso contextualizado, com sentido, que desperta dúvidas e ajuda os alunos avançarem.
  4. Ler em voz alta a produção equivocada do aluno, como CARO para CARRO, acreditando que assim ele vai compreender que errou. O mais adequado é perguntar a ele que outras palavras são parecidas com CARRO e podem apoiá-lo na escrita. CARROÇA, por exemplo.
  5. Apresentar a mesma palavra, escrita de duas maneiras (adequada e equivocada) e pedir que a criança aponte a correta, como EMBAIXO e EMBAISO. Não é a exposição à forma errada e certa ao mesmo tempo que ajuda a criança a refletir. Ela precisa de desafios contextualizados e da oportunidade de buscar apoio em referências seguras para encontrar a forma correta.
  6. Ensinar de maneira isolada quais palavras devem ser escritas com G, J, X, S, Z, SS, Ç… Quando elas aparecem para as crianças, no dia a dia, estão em textos e não isoladas em listas como essas. Além disso, ao ensiná-las de forma separada, espera-se que os pequenos decorem a forma de registrá-las - e isso não funciona de modo satisfatório porque a ideia não é construída pela criança, não faz sentido para ela.

Fontes: Maria Grembecki, pedagoga e coordenadora de projetos da Escola de Educadores, e Jacqueline Moreira Magalhães, formadora da Escola de Educadores.

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