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Como enfrentar o preconceito dentro e fora da escola com o teatro

Para elaborar o projeto, professor levou em consideração a necessidade de falar e refletir sobre o tema a partir das experiências dos alunos

POR:
Camila Cecílio
Mauro Batista da Rosa e algunos que participaram do projeto Vagas de luz: à sombra do preconceito na EMEB Isidoro Battistin, em São Bernardo do Campo    Foto: Roberto Setton/Nova Escola 

Como fazer com que meus alunos reflitam sobre a realidade na qual estão inseridos? Essa foi a pergunta que o professor Mauro Batista da Rosa, 36, se fez antes de começar o ano letivo de 2017, na EMEB Isidoro Battistin, localizada na periferia de São Bernardo do Campo (SP). Ciente dos desafios da escola e da comunidade, onde leciona há seis anos, o professor decidiu usar a Arte, sua disciplina, para abordar temas diretamente ligados ao dia a dia dos estudantes, como o preconceito e suas tantas facetas.  

Assim surgiu o projeto Vagas de luz: às sombras do preconceito. A ideia não só transformou o ambiente escolar como fez com que Mauro fosse escolhido como um dos vencedores do Prêmio Educador Nota 10 de 2018. Para elaborar o projeto, o professor levou em consideração a necessidade de falar sobre o preconceito, ainda tão presente nos dias de hoje, e que vem dando vazão ao ódio, à intolerância e à violência. “É uma dura realidade que muitos dos nossos alunos vivem na pele”, afirma o professor. 

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Professor da Educação de Jovens e Adultos (EJA), Mauro se uniu a outros professores da escola para traçar as principais características dos alunos das turmas noturnas. O resultado encontrado foi a diversidade. Mulheres, negros e homossexuais foram os que mais relataram ter sofrido algum tipo de preconceito. O professor e seus colegas se juntaram em um trabalho multidisciplinar para que os alunos pudessem entender melhor o que era o preconceito e o que significa ser um sujeito preconceituoso. 

Ao parar para ouvir os estudantes da EJA, o professor chegou a outra constatação importante: muitos dos estudantes foram, em algum momento da vida, excluídos do processo de ensino, fosse por trabalho, casamento, filhos ou outras responsabilidades. “A maior relevância desse projeto é fazê-los lançar um outro olhar para essa realidade, um olhar mais crítico em relação aos problemas sociais, de modo que isso traga outras perspectivas, oportunidades, caminhos, para a vida deles. Tudo por meio de uma Educação transformadora”, comenta Mauro.

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Aluno participa do projeto Vagas de Luz, criado pelo professor Mauro Batista da Rosa e premiado no Educaodr Nota 10  Foto: Roberto Setton/Nova Escola

Como posso desenvolver esse projeto na minha escola?

Para desenvolver o projeto em outras escolas é preciso levar em consideração a realidade de muitos alunos brasileiros, especialmente daqueles que vivem nas periferias das grandes cidades. “É onde encontramos uma marginalização das diferenças”, observa Mauro.

O primeiro passo, diz o professor, é fazer uma escuta realmente significativa da realidade destes alunos. “Estar disposto a ouvi-los é um pré-requisito necessário na composição de um trabalho como esse. As histórias desses jovens e adultos são, em si, uma grande lição que podem servir de base para grandes construções de conhecimento e transformação social. Elas podem ser a base para uma construção teatral significativa e que atue de forma emancipadora”, reforça Mauro. 

 

Vagas de luz: à sombra do preconceito - por Mauro Batista da Rosa 

Foto: Roberto Setton/Nova Escola

INDICAÇÃO: Fundamental 2, Ensino Médio e EJA
DISCIPLINAS: Arte, História, Língua Portuguesa
DURAÇÃO: 6 meses a 1 ano letivo

O que é o projeto?
O projeto Vagas de luz: à sombra do preconceito foi desenvolvido dentro do Currículo Crítico Libertador, baseado nos princípios do educador Paulo Freire. O currículo apresenta os conteúdos trabalhados durante o primeiro semestre letivo que compõe o Projeto Político Pedagógico (PPP) da EMEB Isidoro Battistin, em 2017. O tema nasceu das necessidades do grupo de estudar sobre questões ligadas ao preconceito: racismo, preconceito contra presidiários e ex-presidiários, homofobia/transfobia e machismo. A temática, retirada a partir das falas dos estudantes, foi abordada de forma integrada entre as diversas disciplinas e teve seu estudo aprofundado com o projeto que culminou na apresentação de um teatro de sombras. Desenvolvido e criado pelos alunos, o teatro integrou as diversas disciplinas curriculares e as linguagens das artes – música, artes visuais e teatro. “Trabalhando a realidade do dia a dia dos educandos, procuramos oportunizar um ensino humanizado e emancipador dentro de um processo de construção cidadã”, diz Mauro. 

Do que vou precisar? 
Em linhas gerais, material multimídia:
· Fotos, imagens e vídeos de artistas que falem sobre preconceito
· Músicas e textos que possam gerar reflexão

No teatro, é preciso usar elementos básicos:
· Tecidos para projeção (podem ser brancos ou coloridos)
· Máscaras feitas com papel e papelão para fazer projeções das sombras
· Diversas imagens da internet para compor o cenário
· Iluminação, refletores e data show

Quanto tempo é necessário para planejar e executar o projeto?
Toda a construção foi realizada a partir das histórias vivenciadas pelos estudantes e foi dividida nas seguintes etapas: iniciação ao teatro, jogos teatrais, exercícios de composição de cena teatral e desenvolvimento do roteiro, montagem das cenas, escolha de repertório imagético (cenário) e musical, ensaios e por fim apresentação. Cada sequência levou cerca de um mês, sendo desenvolvida em duas aulas de 1h cada, por semana. Como se trata de um projeto multidisciplinar, foram necessários seis meses para fazer tudo. Mas caso seja apenas de uma disciplina, pode ser que o tempo seja maior, chegando até a 1 ano letivo inteiro.

Quais os objetivos trabalhados?
- A busca da superação da situação limite vivida pelos estudantes
- Entender e discutir as causas do preconceito na sociedade
- Refletir sobre as práticas do preconceito na sociedade moderna
- Conhecer e compreender as leis que favorecem as minorias no Brasil
- Estimular boas relações de convívio interpessoal dentro e fora de sala de aula
- Experimentar a arte como linguagem de expressão interpessoal
- Compreender as diferentes formas de discriminação nas relações sociais
- Valorizar as produções culturais oriundas das periferias brasileiras
- Compreender e valorizar as diferenças em favor da diversidade

E os desafios? Como encará-los? 
Trabalhar com temáticas delicadas requer vencer barreiras que vão da resistência à temática até religiosidade. “Fazer com que os alunos se envolvam e falem sobre suas situações de exclusão requer muito diálogo, paciência e estímulo”, afirma Mauro. “Talvez esse tenha sido um dos grandes desafios que vencemos durante a realização do projeto e foi resolvido a partir da aproximação e trato no desenvolvimento das atividades”. Outra questão diz respeito à organização do desenvolvimento de um projeto integrado: articular diferentes disciplinas em uma mesma construção pressupõe tempo e planejamento, que muitas vezes os professores não conseguem dentro das reuniões semanais. “Para isso, criamos uma rede de compartilhamento das atividades que desenvolvemos em sala de aula, assim, ficou mais fácil saber o que cada professor estava desenvolvendo em sua disciplina para articular melhor os conteúdos”.

E no final? O que meus alunos vão aprender?
“Além dos conteúdos, os alunos aprenderam mais sobre suas vidas. Como enfrentar os preconceitos vividos por eles na sociedade, onde buscar ajuda, quais as leis que os amparam, como agir de forma transformadora na sociedade. Eles aprenderam mais sobre cidadania e como lutar pelos seus direitos”, diz Mauro.

Mauro Batista da Rosa é formado em Artes Plásticas e pós-graduado em Gestão Escolar, Inclusão e Fundamentos da Cultura e das Artes. Tem 14 anos de experiência em docência. Atualmente atua como gerente de Formação Continuada no Departamento de Educação de Jovens e Adultos de Santo André e professor de Arte na rede municipal de São Bernardo do Campo. Foi um dos 10 vencedores do Prêmio Educador Nota 10 da edição 2018.

 

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