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Comunicação escolar: as melhores ferramentas e estratégias para se comunicar bem com alunos e famílias

NOVA ESCOLA foi ouvir os educadores em busca das melhores práticas para comunicação com alunos e famílias, num diálogo que agora é mediado por aplicativos e mídias sociais

POR:
Victor Santos
Aproveitar ferramentas de comunicação que alunos e famílias estão acostumados a usar ajuda a incentivar o diálogo, mas é importante que haja regras       Crédito: Getty Images

Com o fechamento das escolas, dinâmicas tradicionais do ambiente escolar mudaram radicalmente: se antes bastava o aluno erguer o braço para tirar dúvidas depois uma explicação, ou se os principais informes escolares eram divulgados aos pais e responsáveis por meio de reuniões presenciais, agora essas dinâmicas se dão mediadas por telas, com o uso de ferramentas e aplicativos.

De acordo com uma pesquisa realizada com os usuários do site de NOVA ESCOLA, a plataforma mais utilizada para se comunicar com a família neste momento de isolamento social é o WhatsApp (65,3%), seguido pelo Facebook (36,4%) e pelo portal de Educação do estado ou município (35,9%). Ao discutir sobre as estratégias criativas para dar continuidade ao ensino de forma remota, todos os professores consultados por NOVA ESCOLA ressaltaram a importância do WhatsApp.

“WhatsApp e Facebook são canais de comunicação e também plataformas multimídia, que você pode utilizar para que ocorra a comunicação para a Educação”, aponta Lucí Fêrraz, consultora e especialista em EaD e Tecnologias Educacionais, e CEO da L.F. Edu-Co. Mais do que a ferramenta, ela ressalta, a questão é fazer bom uso dela. “Precisamos discutir fluxos de comunicação para a Educação”.

Pensando nisso, NOVA ESCOLA foi ouvir dos educadores os principais desafios para a boa comunicação escolar, e reuniu estratégias para que esse diálogo funcione de forma efetiva para todos os envolvidos – professores, alunos e pais.

 

WhatsApp: fácil de usar e tem pacote de dados

“No primeiro momento, o desafio maior foi acalmar todo mundo. Os pais e os alunos estavam muito confusos, assim como toda a sociedade”, relata a professora Letícia Viesba, que leciona Matemática e Projeto de Vida para Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio na rede estadual de Diadema (SP). “Depois que já estavam todos em casa, criamos grupos no WhatsApp para cada sala”. A estratégia implantada pela escola em que Letícia trabalha foi colocar um professor como responsável em cada um desses grupos (independentemente da disciplina), cabendo a ele tirar as dúvidas, e enviar informes e atividades.

Segundo a professora, o conteúdo pedagógico em forma de aulas já está consolidado pelo aplicativo Centro de Mídias, desenvolvido pelo governo do Estado. “Eu fico on-line com os alunos na hora da aula deles. Comento as falas do professor, e eles respondem, tiram dúvidas, trocam memes, áudios e até vídeos, sempre com os recursos que já são acostumados a usar nas redes sociais, como emojis, gifs e memes. Até para a chamada, cada um envia um sticker personalizado”, conta Letícia.

Essa facilidade dos estudantes em usar o aplicativo e a própria abrangência do WhatsApp foram alguns dos motivos que levaram a escola do diretor Felipe Nóbrega, que comanda uma instituição municipal do Ensino Fundamental em Volta Redonda (RJ), a utilizar o serviço de comunicação com fins pedagógicos. “Além disso, existe a facilidade do WhatsApp ter o pacote de dados subsidiado pelas empresas de telefonia”, reforça.

Segundo o educador, a maior dificuldade nesse processo não foi nem a adesão propriamente dita, e sim, manter o engajamento entre alunos. “O adolescente sempre foi acostumado a viver dentro de escolas, de salas de aula”, comenta Felipe, “e muitos deles acessam, sim, as redes sociais, jogam no celular e têm várias habilidades ligadas ao lazer. Porém, eles têm bastante dificuldade em entender o smartphone como uma ferramenta de estudo”.

Trata-se de um desafio, como aponta a consultora em tecnologias educacionais Lucí Fêrraz. “O WhatsApp e o Facebook foram adotados muito rapidamente nesse momento porque, do ponto de vista operacional, o cérebro já conhece, então o desgaste para se acostumar com as ferramentas é menor”, explica. A questão é fazer o cérebro girar a chave para outro lado. “Haverá um desgaste com essa mudança de mindset, porque agora eles serão utilizados como instrumentos comunicacionais para a Educação”.

De acordo com Lucí, o processo de operacionalização dos canais de comunicação para o ensino remoto deve ser feito com bastante paciência, para que, assim, essa apropriação se dê de forma eficiente. “No processo de aprendizado, a tecnologia tem que ‘sumir’, tem que ‘ficar calma’ e não deve chamar a atenção, porque aí você foca no conteúdo, e esquece da tecnologia. Enquanto isso não acontecer, é muito difícil para o cérebro pensar e focar no conteúdo educacional”, resume a consultora.

De acordo com a especialista, é preciso ter em mente que quando as tecnologias para comunicação são inseridas nos processos de aprendizagem, elas acabam por destacar os processos comunicacionais dos próprios professores. Com isso, é sempre bom iniciar seu planejamento refletindo questões como “o que eu quero falar?”, “quais são os objetivos e competências quero desenvolver?” e “quais ações comunicacionais necessito para isso?”.

 

Facebook para alinhamento e quadro de aviso

Além das estratégias para uma melhor comunicação com os alunos no ensino remoto, outro ponto bastante relatado pelos educadores diz respeito ao grande volume de mensagens que eles vêm recebendo, especialmente de pais e responsáveis. “No início da suspensão de aulas, recebia mensagens todos os dias da semana, inclusive de madrugada”, conta a professora Jullie Truzz, que atua na rede estadual de São Luís (MA) lecionando História e Filosofia para Ensino Fundamental 2, “e eu me sentia no dever de responder essas mensagens imediatamente quando chegavam, ficava incomodada por estar on-line e não responder na hora”.

Patrícia Cremasco, que dá aulas de Ciências e Biologia na rede estadual de Uraí (PR), também traz um relato semelhante. “De início, eu me incomodava bastante com essa movimentação atípica no meu WhatsApp, pois eram mensagens tarde da noite. Acredito que estávamos todos muito perdidos e preocupados”, comenta a professora. Essa preocupação, que atingiu fortemente pais e responsáveis em meio às incertezas trazidas pela pandemia, também é enfatizada pela especialista Lucí Fêrraz. “É uma questão delicada: os pais estão ansiosos e o professor foi parar dentro da casa dos alunos”, resume a consultora.

Então, como balancear essas questões, de forma a construir uma comunicação que não sobrecarregue professores, e que ao mesmo tempo, tranquilize os pais? “É importante definir algumas normas de conduta nesses grupos, uma ‘etiqueta’, para deixar claro aos pais o tipo de questão que pode ser tratada naquele espaço”, indica Lucí, “e nesse processo, podcasts e vídeos podem ajudar, pois eles trazem um lado humano, com a voz ou a imagem do professor. O texto costuma ser mais frio”.

Nessa aproximação mais humanizada, o Facebook acaba se tornando um importante aliado. Os professores consultados pela reportagem ressaltaram a importância da página do Facebook de suas escolas como um espaço institucional para informes, avisos e notícias, e para divulgar algumas das atividades remotas já desenvolvidas. “Nós temos, ainda, realizado lives no Facebook, para reuniões de alinhamento em que a comunidade tem um contato mais direto conosco”, destaca o diretor Felipe Nóbrega.

A professora Letícia Viesba também salienta a importância dessa rede social. “No começo, o Facebook foi muito útil na busca ativa pelos estudantes. Buscávamos o perfil do aluno ou dos pais, mandando mensagens para levar todos para os grupos de WhatsApp”, conta a educadora, que complementa frisando que, posteriormente, a página da escola ajudou a centralizar o diálogo e a fortalecer a comunicação. “Essa aproximação é importante até para ir ‘acalmando’ os pais, porque eles só conhecem os processos educacionais antigos”, reforça a especialista Lucí Fêrraz, “então, é importante que eles vejam que os filhos não estão perdendo nada, e que o ensino mudou, mas a qualidade não necessariamente foi perdida”.

Dicas práticas para uma boa comunicação

A efetividade de cada ferramenta ou estratégia de comunicação varia conforme o contexto de cada um, e ninguém melhor do que o próprio professor para saber o que se adequa à sua realidade. Para auxiliar esse processo, selecionamos algumas dicas, a partir dos relatos dos educadores entrevistados.

 

  • Um olho no conteúdo, outro nas possibilidades técnicas. É importante que as atividades pedagógicas sejam pensadas em termos dos objetivos e competências que se quer trabalhar, e ao mesmo tempo, na capacidade da banda de conexão dos alunos. “O ideal é ir mesclando arquivos de texto, podcast e vídeos, mas é sempre importante ter um cuidado nessa questão do pacote de dados”, reforça Lucí Fêrraz.

  • Estabeleça regras. Para não “enlouquecer” com tantas mensagens e grupos, é essencial fixar algumas regras, tanto de convivência, como proibir ofensas e desincentivar assuntos não relacionados às aulas, quanto para tentar firmar alguns horários para a resposta das mensagens. “Com o passar das semanas, criei um compromisso comigo mesma, estabelecendo dias e horários específicos para as minhas respostas no aplicativo”, conta a professora Jullie. O ideal é fixar essas regras em alguma imagem em formato de plaquinha/cartaz, ou em alguma mensagem constantemente republicada no grupo de WhatsApp.

  • Trabalhe com representantes de classe. Segundo Lucí, um trabalho interessante de articulação entre coordenadores, professores e alunos representantes tem ajudado algumas escolas a atrair para os grupos aqueles que não estavam participando das atividades remotas. “Na escola em que trabalho, as ações do grêmio têm sido muito efetivas para compartilhar massivamente a mensagem com os links para as salas de aula on-line”, conta a professora Letícia.

  • Crie protocolos de backup. O professor precisa estabelecer uma dinâmica de trabalho para, de tempos em tempos, fazer cópias de segurança dos conteúdos que recebe nessas ferramentas, mesmo que precise fazer isso “manualmente”. A professora Letícia relata que criou uma pasta em seu computador, separou por nome dos alunos e vai salvando por lá as atividades que recebe.

  • Utilize grupos privados e ocultos. “É importante desenvolver protocolos de segurança de dados digitais e de segurança dos próprios alunos”, aponta Lucí Fêrraz, “por exemplo, em aulas e atividades no Facebook, é importante que se trabalhe com grupos privados e ocultos”. Nesse caso, só terão acesso a esse grupo, e só poderão visualizar os conteúdos nele publicados, aquelas pessoas que o administrador adicionar – e o grupo não aparecerá em buscas na rede social. Ao clicar na aba “Grupos” e posteriormente, em “Criar novo grupo”, essas opções de privacidade já aparecem – inicialmente, público ou privado, e posteriormente, visível ou oculto. Se o grupo já estiver criado, sem problemas: o administrador pode realizar alterações posteriormente, nas configuraçõesdo grupo.

  • Experimente usar hashtags. Criar uma hashtag para a entrega de uma atividade pode ser útil em meio a tantas mensagens. Nesse caso, dê preferência a termos mais específicos, como #Microorganismos7B, do que os genéricos #AtividadeGeografia2A. Se essa prática ficar consolidada entre os alunos, basta, depois da entrega, fazer a busca pela hashtag, dentro do grupo ou na busca do seu WhatsApp.

  • Histórico. No WhatsApp, é válido republicar alguma mensagem importante de tempos em tempos, pois os novos membros de um grupo não têm acesso aos conteúdos de antes de sua entrada, ao contrário do que ocorre nos grupos de Facebook.

  • Controle de frequência. O professor precisa desenvolver mecanismos para controlar a frequência dos alunos no ensino remoto. É possível realizar a chamada “manualmente” no WhatsApp, como faz a professora Letícia (sempre lembrando de fazer o backup dessas mensagens depois) ou, em plataformas como o Google Meet, dá para realizar uma gravação da aula e fazer a chamada por meio do chat da ferramenta – tudo isso fica salvo depois no seu Google Drive depois. Mais detalhes aqui.  

  • Registro de atividades. Uma das maiores vantagens do uso de tecnologias comunicacionais na Educação, especialmente o Facebook, é que tudo fica registrado ali: quem fez o quê, quando e como. Assim, uma boa dica é o uso de diários de bordo nas atividades realizadas em plataformas digitais. “O professor pode pedir que o aluno registre ali quais foram os três ou cinco principais tópicos de aprendizagem naquela aula, e também o que achou mais confuso”, destaca Lucí, “com isso, os educadores conseguem enxergar as maiores dúvidas e avaliar a eficácia da sua proposta de prática, e os alunos e pais conseguem perceber que estão aprendendo e se desenvolvendo nesse modelo de ensino remoto”.

  • Aproveite (e compartilhe) o conhecimento on-line. “Utilizo muito o Facebook para pesquisa em grupos colaborativos de ensino e aprendizagem”, comenta a professora Patrícia Cremasco. É muito importante se aproveitar dessas redes de colaboração on-line que se formaram entre os professores, que compartilham as dificuldades, se ajudam e trocam experiências.

  • Faça o possível. O volume de trocas comunicacionais nesse contexto é gigantesco, e a demanda de trabalho, muito alta. Porém, o professor não pode deixar de se preocupar com a sua saúde mental. O momento é de diminuir as expectativas e de trabalhar com aquilo que é possível de ser feito, em um cenário tão atípico quanto o de uma pandemia.

 

Outras ferramentas de comunicação para a Educação

- Telegram – similar o WhatsApp, permite o envio de imagens, áudios, vídeos, podcasts e outros recursos. No Telegram, é possível criar um canal (uma espécie de fusão entre um grupo de WhatsApp e canal no YouTube), que permite o envio de conteúdos sem a necessidade de expor o seu número pessoal.

- Messenger – esse aplicativo de troca de mensagens tem a vantagem de ser vinculado ao Facebook, permitindo uma comunicação mais rápida para quem usa as duas plataformas. Assim como WhatsApp e Telegram, permite o envio de textos, imagens, áudios e vídeos.

- Meet – com a ferramenta de conversas por vídeo do Google, é possível fazer uma transmissão para até 250 pessoas, compartilhar com os alunos ou pais o conteúdo da sua tela (como uma apresentação de slides, por exemplo), fazer a chamada no chat, entre outras interações.

- Zoom – plataforma de videoconferências similar ao Meet, o Zoom foi o primeiro aplicativo desse tipo a se popularizar durante pandemia. Seu plano gratuito permite até 100 pessoas por transmissão, com tempo total de 40 minutos.

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