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O malabarismo de ser mãe e professora na quarentena

Para além dos desafios do ensino remoto, as educadoras acumulam tarefas como as atividades domésticas, acompanhamento escolar dos filhos e cuidados com os membros da família

POR:
Paula Salas

As fotos desta reportagem foram tiradas remotamente pela fotógrafa Tainá Frota, através de videochamada com a professora Midiã Ruama

Professora Midiã Ruama conta os desafios do malabarismo de ser mãe e professora durante a quarentena. Na foto, a professora e seus dois filhos de 9 e 6 anos. Crédito: Tainá Frota/NOVA ESCOLA

Se malabarismo fosse fácil, não seria uma habilidade. Jogar várias bolinhas ao ar e pegá-las a tempo de que nenhuma caia no chão não é simples. Este não é um texto sobre a vida no circo ou uma aula de física sobre Leis de Newton, mas sobre a difícil tarefa de equilibrar as demandas docentes no ensino remoto. A pandemia da covid-19 e as mudanças na rotina, trouxeram um volume de atividades e adaptações que afetam o bem-estar e cotidiano de todos os educadores.

Para quem faz da sua casa o novo ambiente de trabalho, ainda sobram outras tarefas além da carreira docente: os cuidados com a família, as atividades domésticas e o acompanhamento das aulas e conteúdos escolares dos filhos, por exemplo. Tarefas muitas vezes exclusivas das mulheres ou pouco compartilhada com outros membros da casa.

O estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, divulgado em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), traça um panorama das desigualdades de gênero na área da Educação, saúde, participação na vida pública, direitos humanos e econômica. Os dados evidenciam que as mulheres dedicam aos cuidados ou tarefas domésticas mais de 70% a mais em horas do que os homens. Ao olhar para recortes regionais e raciais, essa desigualdade torna-se maior.

Considerando tarefas profissionais e as domésticas, o estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Divulgada (Ipea) em 2017, mostrou que, em 2015, as mulheres trabalham 7,5 horas a mais que os homens. Na série histórica de 20 anos, mais de 90% das mulheres declararam fazer tarefas domésticas, enquanto os homens, apenas 50%.

Um olhar superficial poderia dizer que o home-office para as mães seria positivo, afinal, estaria tudo no mesmo espaço. Mas não é o que tem sido verificado na prática. "Vemos uma precarização da vida das mulheres", diz Nanah Vieira, cientista social e doutoranda em sociologia pela Universidade de Brasília (UnB) na linha de relações de gênero e raça. "A desigualdade de gênero é agravada porque as mulheres estão em casa. E a casa é um lugar de sobrecarga de um trabalho não remunerado", afirma.

Para a cientista social, mesmo as mulheres que conseguem dividir as tarefas em casa, ainda sofrem uma sobrecarga que é invisibilizada. Isso porque, na maior parte dos casos, ainda são as mulheres que são as responsáveis pelo trabalho mental da organização doméstica. Por isso, é necessário compreender as condições reais de trabalho das professoras, colocar nessa equação todas as tarefas que são invisibilizadas e sobrecarregam a rotina das educadoras para pensar em caminhos possíveis de organização (veja no final desta matéria algumas estratégias possíveis).

Nesse contexto, as professoras se vêm entre dois grupos de malabaristas: as que adicionaram novos objetos para manipular no ar (adicionando tarefas que não faziam antes, por exemplo, editar vídeoaulas) e aquelas que continuam fazendo malabarismo com a mesma quantidade de bolinhas. Estas bolinhas, entretanto, se tornaram mais pesadas com a pandemia e jogá-las ao ar requer uma energia maior.

"Tem dias que não consigo fazer almoço e tem que pedir marmitex”, relata Midiã Ruama, professora na rede estadual em Santo André (SP). “Acaba sempre ficando alguma coisa a desejar. Queria dar conta de tudo, mas não consigo. Eu aprendi a não me cobrar tanto, porque vou sofrer". Ela dá aula em duas escolas, em uma de Língua Portuguesa no Fundamental 2, e na outra, dá oficinas de Língua Inglesa para o Fundamental 1 em uma instituição de tempo integral. Ela é mãe de dois meninos, um de 9 anos e o outro de 6 anos.

Assim como Midiã Ruama, as professoras e mães Kátia Regina, Bruna Batista, Lidiane Correa e Patrícia Miyagui contam a seguir como estão equilibrando suas bolinhas de malabarismo entre trabalho, casa, família e sentimentos:

A SOBRECARGA DO ENSINO REMOTO
"Eu sempre dizia que queria trabalhar em casa, agora não quero mais", fala rindo Lidiane Correa, diretora há dois meses na rede estadual de Alvorada (RS) e professora de Língua Portuguesa no Fundamental 2 na rede particular. A educadora chegou à direção no meio da pandemia, então, além de estar se adaptando ao novo cargo, precisa fazê-lo a distância. Ela costuma dedicar as tardes para cuidar das demandas da rede estadual: atende as famílias, revisa os roteiros de atividade que os professores enviam para os alunos, além de fazer relatórios das ações que estão sendo realizadas.

Na outra escola, dá aulas on-line ao vivo e envia atividades diariamente para suas turmas. Também precisa ter uma comunicação constante com as famílias, fazer a devolutiva das atividades e verificar da participação dos alunos para os relatórios das atividades remotas.

Na rede privada de Goiânia (GO), Bruna Batista, professora de Fundamental 1, a estratégia escolhida foi enviar videoaulas e atividades para as famílias e fazer plantões de dúvidas. O primeiro problema encontrado pela educadora foi estrutural: estava sem internet em casa. "O pacote [de dados do celular] acabava muito rápido, precisava comprar mais. Até que no fim conseguimos colocar internet", conta Bruna.

Outro desafio a ser superado pela educadora foi a própria gravação das aulas. "A gente fica inibido mesmo sem ninguém por perto. Não sabemos qual vai ser a reação dos pais", conta. Além de superar a insegurança e timidez para gravar, a escola faz uma avaliação da qualidade da imagem e do som dos materiais. Nesse processo, Bruna já precisou regravar materiais que não passaram pelo crivo da escola, aumentando mais ainda o tempo dedicado para produzir a aula. "Passava carro de som, meu bebê chorava, ruídos que atrapalhavam o áudio. Já fiz vídeo de madrugada, porque era o horário que dava", relata Bruna.

A professora Midiã vive um outro tipo de dificuldade técnica: seu computador não está funcionando, então precisa fazer todas as tarefas das escolas pelo celular ou pelo tablet. Como muitos professores, a educadora também contou que não era próxima da tecnologia e foi um desafio que precisou encarar durante a quarentena. "Tive que assistir tutoriais para aprender, aprendi com os próprios alunos. Mas é complicado", explica.

A professora Midiã acompanha as aulas oferecidas pelo Centro de Mídias para tirar as dúvidas dos alunos. Crédito: Tainá Frota/NOVA ESCOLA

Tanto Midiã, quanto Patrícia Miyagui, professora de Matemática no Fundamental 2 e Ensino Médio na rede estadual em Campinas (SP), estão acompanhando as aulas televisionadas que são gravadas no Centro de Mídias e oferecidas pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.

Patrícia acompanha as aulas destinadas à suas turmas e fica à disposição para tirar dúvidas – ela recebe dúvidas por WhatsApp, e-mail e via aplicativo do Centro de Mídias. "O importante é ele perguntar, o meio a gente libera para que funcione a comunicação", conta. Além disso, grava videoaulas complementares aos conteúdos trabalhados nas aulas por televisão. "Na nossa escola cada professor pode escolher o que acha melhor. Eu envio as atividades da semana pelo WhatsApp", conta. Os alunos têm uma semana para entregar as atividades. A professora corrige e devolve.

Em uma de suas escolas, a professora Midiã faz um trabalho semelhante ao de Patrícia: acompanha as aulas pela televisão (ou assiste depois no YouTube), prepara atividades baseadas no conteúdo trabalhado e tira dúvidas. "Não saímos do currículo, eles têm a aula pelo Centro de Mídias e fazem a atividades. Está sendo bom", conta.

No entanto, o Centro de Mídias não oferece aulas de Língua Inglesa para Fundamental 1. Então, em sua outra escola, Midiã faz videoaulas e atividades com propostas lúdicas. "Cada semana é uma coisa, uma brincadeira, contação de histórias para trabalhar vocabulário, trabalhar com números, ritmos e movimentos", conta. Ela disse que a ideia é que eles aprendam a partir de atividades que as famílias consigam também participar, mas sem sobrecarregar. Ela tem tido um bom retorno das turmas e busca sempre aperfeiçoar os vídeos que envia.

A professora Kátia Regina é orientadora educacional em uma escola na rede municipal de Itatiaia (RJ) e professora de Ensino Médio na rede estadual na modalidade Magistério. Como outras professoras, ela dá aula on-line, disponibiliza (e recebe) as atividades no Google Sala de Aula e tira dúvidas pelo WhatsApp. Como orientadora educacional, acompanha o trabalho das coordenadoras pedagógicas no envio das atividades e o retorno das turmas. Quando estão sem retorno de algum aluno, Kátia entra em contato com as famílias para oferecer suporte e, quando necessário, aciona o conselho tutelar e outras entidades.

DO OUTRO LADO DO ENSINO REMOTO, A MATERNIDADE
Diariamente, a filha de 4 anos de Patrícia tem atividades no Google Sala de Aula e faz chamadas por vídeo. Essa experiência de acompanhar a menina, impactou a forma que pensa seu trabalho. "Quando vejo minha filha, penso o quão difícil é para a mãe [ou família] ajudar. A gente precisa prestar mais atenção", diz Patrícia. Essa percepção influenciou o planejamento dos conteúdos. Ela busca monitorar a forma que está explicando os conteúdos nos vídeos para facilitar o entendimento de alunos e familiares e adiantar as dificuldades que podem surgir.

Como Patrícia, Kátia teve uma experiência semelhante. "Por eu presenciar o desgaste de minha filha com a aula on-line, me solidarizo com os meus alunos, tenho escutado o que eles têm a dizer. Sou empática para que eles não desistam dos estudos". Ela conta que sua filha de 9 anos sempre gostou muito de estudar. "No começo das aulas on-line foi tranquilo, mas com o passar do tempo ela está muito desmotivada e reclama muito das atividades", explica Kátia. Como mãe e professora, Kátia percebe que a demanda tem sido muito alta e o desgaste emocional da filha afeta toda a família. "Eu peço ajuda para meu marido ajudar, mas ele não tem a mesma didática que eu. Então, ela me chama para pedir ajuda, o que sobrecarga", diz. Isso resulta em um problema de sobreposição até de horários, porque a filha tem aulas a tarde – mesmo horário de trabalho da professora, o que faz com que Kátia precise se dividir entre as duas demandas. A rotina ainda se estende com a segunda graduação que iniciou este ano. Ela acabou de terminar o 1º semestre de Direto com sucesso. Com aulas on-line três vezes na semana até 22h30, ela aproveitava as outras noites para estudar e colocar as atividades da graduação em dia.

Lidiane tem uma filha de 6 anos que cursa o 2º ano. Ela recebe diariamente atividades pelo WhatsApp pela manhã, mas só depois das 18h consegue fazer as atividades com a menina. “Eu faço junto, ela não consegue fazer sozinha”, explica. Os filhos de 9 e 6 anos de Midiã recebem atividades impressas a cada duas semanas. Eles têm aulas ao vivo e participam dos grupos no Facebook das turmas. Mesmo com o filho mais velho que cursa o 4º ano e tem maior autonomia, ela prefere acompanhar.

Bruna tem uma filha de 5 anos e um bebê de 1 ano. O início da quarentena foi difícil para a menina mais velha que começava o 1º ano. "Na cabeça dela eram férias. Ela chorava, não queria fazer as atividades", explica. Seu filho mais novo recebe sugestões de atividades lúdicas, brincadeiras em situações cotidianas, o que tem facilitado para Bruna fazer as propostas com ele.

DIVISÃO DE TAREFAS EM CASA
"Como mãe, esposa e dona de casa a gente tem sempre uma coisa para fazer", resume Bruna. Ela relata ter apoio do seu marido para ficar com as crianças, revezar os horários para dar conta do almoço ou da limpeza da casa – além de quando a ajuda para gravar as videoaulas.

Todas as professoras relataram que recebem algum tipo de ajuda, em geral do companheiro. No entanto, elas são responsáveis pela maior parte das tarefas ou vivenciam a ajuda do parceiro, mas ele não fica tanto tempo em casa quanto elas. A professora Lidiane, por exemplo, fica sozinha com a filha na parte da manhã. No período da tarde, quando o marido volta do trabalho, fica responsável por ela. Ele também costuma cuidar de tarefas como cuidar do pátio ou sair para comprar algo. Lidiane tem um apoio, mas é responsável por maior parte das tarefas e busca as incluir na rotina os afazeres domésticos, mas nem sempre é possível. "Eu tento fazer o que dá. Aos finais de semana consigo dar uma geral [na casa], mas sempre acumula", explica.  A professora Patrícia também relata uma situação semelhante: "O que ele puder fazer, ele faz. Mas não tem como, o mais pesado sou eu mesma", diz.

Além das demandas com o ensino remoto, as professoras precisam se dividir entre os cuidados da casa e da família. Crédito: Tainá Frota/NOVA ESCOLA

Já o companheiro de Kátia trabalha em sistema rodízio, trabalhando em casa 15 dias e nos outros 15, alocado. "As tarefas de casa ficaram comigo. Meu esposo me ajuda quando ele está", diz. "Na quinzena que ele está em casa ajuda nas refeições, na limpeza e cuidado com o cachorro. Quando ele não está, é uma loucura. Eu sento e choro mesmo". Além da filha e do marido, Kátia mora com sua mãe que requer cuidados.

Para além do acúmulo das tarefas, as professoras colocaram as dificuldades da falta de apoio que teriam normalmente, seja de um familiar ou uma pessoa contratada. Midiã reconhece como sorte a proximidade que tem de sua mãe, que é sua vizinha, e a apoia no dia a dia. "Meus filhos não saem de casa, então podem ver seus avós. Se não pudessem, seria mais difícil. Então, [meus pais] podem me socorrer", conta. Mesmo com essa ajuda, ela relata as dificuldades de conciliar tudo. Além de dividir atenção entre alunos, filhos e casa, a irmã de Midiã mora perto dela e teve um bebê recentemente. “No meu horário de pausa, eu vou lá e ajudo. Quando eu tive meus filhos, ela me ajudou”, afirma.

Todas as educadoras contam que, apesar de serem responsáveis por muitas tarefas em casa e terem uma rotina de trabalho corrida, foi durante a quarentena que elas sentiram o peso maior da dupla jornada. "Agora é um dia de cada vez e não se cobrar muito. Se não deu para fazer, faz depois", diz Midiã.

O IMPACTO EMOCIONAL DA PANDEMIA
"É bem puxado, eu achei que ia surtar no começo", conta Patrícia. O sentimento da educadora coincide com o das outras professoras. Elas sentiram que a pressão da sobrecarga se manifestou mais forte durante a pandemia, em decorrência com o aumento do tempo dedicado às demandas do ensino remoto – por exemplo, tempo gasto para gravar (e regravar) os vídeos, editar os materiais, manter comunicação com as famílias e produzir relatórios de acompanhamento das aulas.

Com a nova rotina, Bruna se percebe mais ansiosa e com dificuldades para dormir. Esses sentimentos são novos para a educadora. Apesar da rotina intensa que tinha antes, ela não se sentia tão cansada. Tinha tempo para descansar e fazer outras coisas, no entanto as videoaulas demandam muito mais tempo do que antes. Lidiane também encontra dificuldades com o sono. A educadora aumentou a dose dos ansiolíticos que usava e começou a tomar remédios para dormir. "Agora está estabilizado, mas foi bem difícil. Nunca tive insônia antes", relata. A educadora conta que o isolamento tem sido um desafio. Apesar de sentir um maior vínculo com a filha pela convivência diária, ela se sente angustiada. "Culpa de não brincar tanto quanto ela gostaria por toda essa demanda de trabalho", diz.

"O corpo e cabeça reclamam”, desabafa Kátia. “Questiono se estou cuidando bem da minha mãe, se estou deixando a desejar como filha e como mãe, se estou dando atenção para meu marido da forma que precisa... É um misto de sentimentos", relata. Ela, que vivencia todos os papéis do ensino remoto – de professora, gestora e aluna –, conta que se sente esgotada emocionalmente e fisicamente, com uma sensação de frustração por sentir que não dá conta.  Lidiane também compartilha a sensação de cansaço, angústia e culpa, mas ela entende que não há outra alternativa. "Mãe sempre dá conta. Cansa, mas dá conta das coisas do nosso jeito. Tem que dar, porque temos que fazer", afirma.

Além da exaustão, um outro sentimento colocado pelas educadoras é a falta de tempo para si. "Eu sempre estou fazendo algo para alguém. Não tenho um tempo que fique sozinha ou faça algo para mim", desabafa Patrícia. Ela diz que os momentos que encontra na desgastante rotina é a hora de tomar banho ou, bem à noite, que pode assistir a algo que goste. Kátia também comenta que nesse ponto sentiu uma diferença, porque antes ela conseguia encontrar mais brechas para cuidar de si. "Final de semana saíamos em família, a casa estava arrumada, a minha unha feita e o cabelo escovado. Hoje, não tenho tempo nem de me pentear", relata.

Apesar das dificuldades e desafios – e desejo de que voltar ao normal –, todas as professoras tiram algo positivo da experiência. Em especial, poder estar próximas da família. Para Midiã tem sido um período de renovação. "A casa é o melhor lugar para estar. O mundo é tão corrido que a família acaba ficando de lado. Agora eu tento pensar que minha família é meu porto seguro, a gente sente o cuidado e o amor", conta a educadora. Ela ainda relata que seu filho relatou como era bom ter a mãe em casa. "Que é muito bom acordar e me ver, poder almoçar comigo", diz.

Apesar dos desafios, as professores percebem que a maior troca com a família foi algo positivo da quarentena. Crédito: Tainá Frota/NOVA ESCOLA

CAMINHOS POSSÍVEIS PARA SE ORGANIZAR

As professoras entrevistadas percebem que é essencial focar em um dia de cada vez. "Se eu começo a pensar no todo, eu fico ansiosa e as coisas não saem", conta Kátia. Por isso, ela pensa diariamente nas prioridades do dia. "O que não dá para fazer, fica para o dia seguinte", explica. Ela diz que muitas vezes são as tarefas domésticas. Aos finais de semana e feriado, ela busca não fazer nada do trabalho para poder se dedicar a família e descansar.

"Eu comecei a fazer o que falava para meus alunos fazerem", conta Patrícia. Ela diz que toda semana anota em uma folha das datas da semana e o que precisa fazer naquele dia em cada período. Ela deixa essa lista acessível e vai riscando as tarefas que for finalizando. Recorrer ao papel foi também a solução que ajudou Lidiane. Para organizar as demandas entre as aulas na rede privada e a direção na rede estadual, a educadora planeja à noite o que fará no dia seguinte e anota na agenda, mas apenas as tarefas de trabalho. "O resto a gente vai fazendo [durante o dia]", explica.

"Eu aprendi a não me cobrar tanto", conta a professora Midiã sobre a experiência de priorizar as tarefas. Crédito: Tainá Frota/NOVA ESCOLA

Para organizar a rotina, o que ajudou Bruna foi estabelecer horários para tudo: para trabalhar, tarefas da casa, acompanhar a filha nas aulas remotas e reservar um tempo para passar com a família. Se manter nesses horários é um desafio (é preciso também estar aberto aos imprevistos), mas tentar respeitá-los pode ajudar a fechar a equação horas disponíveis e tarefas por fazer.

Além de técnicas de organizar, ter espaços para compartilhar a experiência e conversar também podem ajudar tanto a desabafar quanto trocar estratégias que têm funcionado para outros educadores. Kátia conta que a equipe de professores se reúne virtualmente para pensar em estratégias para engajar os alunos e compartilhar experiências para não ficarem desmotivados. Ela disse que esses momentos de trocas têm sido positivos. Por isso, ter essa rede de apoio, mesmo que virtualmente, pode ajudar. A gestão escolar também pode abrir esse espaço.

O desafio do malabarismo docente segue na quarentena, mas a longo prazo é preciso repensar estruturas. "Não dá para abandonar as mulheres. É preciso ver o mundo de outra forma, repensar os prazos e entregas. Horizontalizar e humanizar os processos", afirma Nanah. A pesquisadora também reforça a importância de ter cuidado com discursos que naturalizam o "novo" normal. "A gente precisa perceber a importância de se cuidar e se proteger. Ter um olhar mais cuidadoso e humano para o trabalho das professoras", afirma.

Nas próximas semanas, NOVA ESCOLA vai aprofundar as situações vivenciadas pelos educadores em uma série especial de 10 reportagens sobre os retratos da quarentena. Esta é a quinta reportagem. Confira as outras já publicadas da série:

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