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Retomada presencial: 6 pontos para adaptar no acolhimento de 2020/2021

Depois de um longo período de isolamento social, o retorno exigirá olhar para saúde mental, monitoramento das ações e necessidade de busca ativa dos que abandonaram os estudos durante a quarentena

POR:
Ana Paula Bimbati
Alunos da Escola Estadual Milton da Silva Rodrigues no retorno presencial das aulas. Foto: Arquivo pessoal

Atravessando um momento atípico de pandemia, após um longo período de isolamento social causado e de ensino remoto emergencial, professores e especialistas acreditam que o acolhimento é um ponto chave para pensar a reabertura das escolas. Mas, diferente de um acolhimento convencional de início de ano letivo, algumas questões pedirão atenção extra. “Os processos para planejar o acolhimento podem até se apoiar nos processos antigos, mas será necessário contextualizar com esse momento”, diz Tatiana Bello, gerente de implementação do Itaú Social. Uma pesquisa realizada pelo Mind Lab, com mais de 1.400 professores das regiões Sul e Sudeste, por exemplo, apontou que 31% dos educadores acreditam que o maior desafio ao retornarem às salas de aula presenciais será lidar com as emoções.

Para entender como planejar o acolhimento da retomada presencial e o que é necessário se atentar neste novo contexto, gestores escolares, professores e especialistas compartilham abaixo suas experiências e trazem dicas das novidades deste planejamento:

1. Escutas individuais e coletivas antes, durante e depois
A ação principal do acolhimento é a escuta, explica Jane Reolo, coordenadora de projetos socioeducacionais no Instituto Unibanco e que foi diretora de escola pública por 13 anos. “É preciso investir em uma escuta qualificada, sem julgamentos, que não estabelece juízo de valor”. 

Para colocar isso em prática, diferentes ações são possíveis. No caso da professora Amanda Freitas, da Escola Estadual Barão do Rio Branco, em Manaus (AM), e do diretor Osmar Carvalho, da Escola Estadual Milton da Silva Rodrigues, em São Paulo (SP), a escolha foi investir na construção de rodas de conversas coletivas. “Perguntamos nas primeiras semanas quais histórias os alunos tinham sobre a época da pandemia”, relembra Amanda. Mudança de endereço, dificuldades financeiras e perda de pessoas queridas foram alguns dos exemplos que apareceram em ambas as escolas.

Veja como preparar a volta presencial em parceria com as famílias

A reaberura das escolas é um tema que tem sido cada vez mais discutido. Se a sua rede ou escola já tem planejado esse retorno, você pode conferir dicas de como aproveitar o relacionamento com as famílias, estreitado no período de ensino remoto, para essa volta. 

Além disso, Osmar também fortaleceu um trabalho de tutoria que já era realizado pela escola. Nesse projeto, os professores fazem atendimento individual com os alunos. Cada educador tem uma média de 20 tutorados. O espaço, que já era utilizado como um momento frequente de escuta pensando o projeto de vida dos estudantes, passou também a olhar para as questões individuais que os estudantes atravessam para estudar com a crise da covid-19. “A gente tem três alunos que perderam os pais pela covid-19 ou outras causas e ter esse acompanhamento de perto é essencial”, pontua Osmar.

É importante lembrar que apesar desse espaço de escuta e abertura, comportamentos de risco social ou emocional entre os alunos devem ser relatados para a gestão da escola encaminhar planos de ações mais específicos.

Seguir medidas sanitárias é essencial e obrigatório nesse retorno presencial. Foto: Arquivo pessoal

2. Busca ativa dos que abandonaram os estudos na quarentena
Longe da escola por quase todo um ano letivo, é provável que as taxas de abandono e evasão cresçam no próximo ano. Para monitorar e controlar esse fluxo de alunos que abandonam os estudos ao longo da Educação Básica, cada secretaria ou escola pode traçar um plano de busca ativa que esteja alinhado com as necessidades da comunidade escolar. Nesse período, Jane sugere que o corpo docente busque apoio dos próprios alunos para reaproximar seus pares da escola. “Essas ações como encontrar apoio no comércio do bairro, acionar o carro de som da cidade podem ser incluídas no acolhimento e colocadas em práticas no ensino remoto ou híbrido”, aconselha. 

No Protocolo de Acolhimento: Ações Híbridas e Contínuas, do Instituto Unibanco, a busca ativa aparece como um dos pontos a serem desenvolvidos durante o acolhimento.

3. Novas regras da escola ligadas à prevenção contra o coronavírus
É essencial que a equipe pedagógica se equipare de todas as informações de prevenção contra o coronavírus. Amanda contou que a rede estadual ofereceu treinamento para estudar os protocolos de saúde para os educadores. Jane indica que os professores construam as novas regras com a participação dos alunos, mas respeitando os protocolos e explicando também o motivo de cada uma para que a turma entenda a necessidade de seguir as medidas de segurança. “O professor precisa entender que ele não vai dar conta de fazer isso apenas na primeira semana de reabertura da escola, mas que é uma ação contínua e que precisa do apoio da comunidade escolar por inteira”, afirma a especialista.

4. Comunicação transparente e frequente com as famílias
Não há dúvidas que o fortalecimento de vínculo com as famílias durante o período de ensino remoto se ampliou (e continua depois da retomada presencial!). Para preservar essa parceria e intensificá-la, promover comunicações objetivas são necessárias a partir do momento de reabertura da escola. “Nós fizemos muitas reuniões virtuais não só para ouvir os pais, mas também para esclarecer dúvidas que surgem, como se o que está acontecendo em outro estado, vai acontecer aqui também’”, conta Osmar. A coordenadora de projetos socioeducacionais, Jane, sugere que se construa um canal interativo como facebook, blogs ou até mesmo, aproveite os grupos de WhatsApp criados durante a quarentena. “Uma falha que temos, muitas vezes, é acionar a família só em momentos de crise”. Para fugir disso, mantenha a família informada durante o retorno e estabeleça uma relação de confiança a partir da comunicação transparente e com frequência.

5. Interação respeitando as regras sanitárias
Depois de um longo período em isolamento, será necessário pensar nas relações interpessoais dos alunos e em atividades de ressocialização. Antes de decidir qualquer ação nesse sentido é necessário, mais uma vez, fazer uma escuta ativa com a turma para entender os sentimentos que os permeiam. “As competências socioemocionais podem ajudar nesse processo, pois cada estudante vai compreender esse momento e agir de formas diferentes. Uma atividade de agrupar sentimentos pode ser um começo”, exemplifica Jane.

Conheça 7 sugestões para avaliação diagnóstica

A avaliação diagnóstica é uma grande ferramenta usada pelos professores para saber a aprendizagem dos alunos. Depois de meses no formato de ensino remoto emergencial, essa é uma das tarefas importantes a ser feita. 

A professora Amanda produziu um pote das boas palavras com frases em que os alunos podem ler um para o outro. Osmar também seguiu uma atividade parecida em sua escola: o varal dos sonhos, incentivando os adolescentes a pensarem em seus projetos de vida neste retorno para a escola. A escola também preparou uma entrada no tapete verde (representando esperança e vida) feito para recepcionar os estudantes, além de promover atividades físicas ao ar livre – sempre respeitando o distanciamento social.

Escola fez um tapete verde na entrada para receber alunos no retorno presencial das aulas. Foto: Arquivo pessoal

6. Monitoramento e continuidade
Com tantas ações e pontos a serem planejados num momento tão sensível e de grande heterogeneidade entre os estudantes, será essencial acompanhar o andamento de todos os processos e, principalmente, o estado emocional da comunidade escolar (funcionários e alunos). “É importante que a escola acompanhe não só essas ações, mas também a adesão dos alunos nas ações, como as famílias têm enxergado as estratégias e atuar a partir do monitoramento a ser feito”, pontua Tatiana Bello. Em Manaus, na escola de Amanda, a reunião entre os professores toda sexta-feira tem cumprido esse papel e também oferecido uma troca de experiências entre os professores. “O diálogo entre nós educadores é potente”. A partir dos encontros, a equipe avalia e planeja próximas ações. Afinal, o acolhimento deve ser contínuo e não só um momento pontual que marca a retomada presencial.

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