Como auxiliar os professores no acompanhamento da aprendizagem durante a pandemia
Além de contribuir para a formação dos docentes sobre o tema, coordenadores pedagógicos devem auxiliá-los no processo avaliativo
POR: Dimítria CoutinhoConsultoria pedagógica: Selene Coletti
Um dos maiores desafios que o ensino remoto trouxe para as equipes escolares foi a avaliação e o acompanhamento das aprendizagens a distância. Afinal, como um professor pode ter certeza de que o aluno aprendeu sem estar presencialmente com ele? E como um coordenador pedagógico pode auxiliar nesse processo?
Kátia Nelsina Pereira Chiaradia, especialista em avaliação e formadora da NOVA ESCOLA, afirma que o acompanhamento remoto é novidade para todos e, por isso, recomenda trabalhar em equipe. Antes de tentar auxiliar os professores, porém, é preciso que os coordenadores deem um passo para trás para compreenderem pontos importantes sobre a avaliação.
Depois, é preciso conhecer o contexto da escola e da rede em que está inserido para entender de que forma esse ensino remoto está acontecendo e quais são as maiores dificuldades.
A seguir, ela lista alguns aspectos essenciais que devem ser considerados sobre a avaliação e o acompanhamento das aprendizagens dos estudantes:
Aspectos essenciais na avaliação
1. A avaliação nasce no planejamento
Se um coordenador pedagógico pretende orientar um professor no que diz respeito à avaliação de seus alunos, ele precisa conhecer o planejamento desse educador, diz Kátia. “As duas coisas precisam acontecer juntas”.
De acordo com a especialista, toda vez que uma habilidade é detalhada em objetivos de aprendizagem, é necessário estar claro o que o aluno será capaz de fazer com aquilo que aprendeu. E é justamente isso que a avaliação deve descobrir: se ele consegue executar aquilo que foi previamente planejado
2. A avaliação deve diagnosticar ações
As formas de avaliar também precisam ser repensadas e readequadas a atual realidade. O coordenador precisa estar alinhado a esse novo paradigma e conhecer o planejamento do professor. “A avaliação hoje não deve só aferir se o estudante absorveu determinado conhecimento. Então, ele sabe multiplicar, mas o que ele vai fazer com essa multiplicação? Não adianta só saber a tabuada. Ele precisa saber usá-la em um determinado contexto”, explica Kátia.
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3. Perguntas têm que ter propósito
A especialista aponta que é necessário que toda pergunta feita em um processo avaliativo tenha um porquê. “Se eu estou simplesmente perguntando por perguntar, sem aquela resposta ter qualquer eco em mim, professor, e, portanto, eu não vou devolver nada para aquele aluno, aquela pergunta não faz sentido ser feita”, orienta Kátia.
Para que o professor reflita sobre as intervenções e questionamentos que deve fazer, cabe ao coordenador proporcionar momentos nos quais o docente possa analisar diferentes questões que compõem avaliações, pontuando se atingem ou não as habilidades que se quer focar.
4. Avaliação é um processo constante e precisa de devolutivas
O processo de avaliação deve ser contínuo e é preciso que haja sempre uma devolutiva. O retorno dos alunos para o professor precisa significar algo, a fim de que ele possa devolver conhecimento. Além disso, é muito importante que essa constante troca entre professores e alunos leve também a um replanejamento das ações.
A análise dos resultados deve realizada pela equipe gestora e os professores. Eles devem identificar o que os estudantes já sabem e ainda precisam saber, quais ações precisam ser redirecionadas e quais precisam ser mantidas. Com isso bem definido é possível dar uma devolutiva para os alunos.
5. Evidências de aprendizagem precisam ser coletadas
De acordo com Kátia, as evidências de aprendizagem não se resumem ao que um aluno escreveu na prova. Elas estão no que ele escreve, fala ou mostra que consegue fazer com o que foi aprendido, e isso deve ser acompanhado em cada aula. Entender como fazer essa avaliação e quais instrumentos utilizar para fazer essas coletas também deve ser discutido nas formações da escola.
As dificuldades do contexto remoto
É justamente pelo fato da avaliação ser um processo que precisa de coleta constante de evidências de aprendizagem que ela se tornou tão difícil de ser realizada durante a pandemia da covid-19. Dessa forma, é preciso repensar os meios de avaliar dentro do atual contexto.
É necessário buscar outros instrumentos além das provas: propor que os alunos façam um podcast, organizem um mural ou que apresentem seminários sobre um assunto estudado. A busca por alternativas se torna mais complicado quando as aulas acontecem de forma assíncrona, ou seja, sem o contato direto de professores e alunos.
É o que ocorre no Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) Pixarro, em Itatiba (SP). Todas as semanas, a equipe docente disponibiliza para os familiares atividades para serem realizadas com as crianças. O resultado é enviado para os professores por meio de fotos ou vídeos. “Utilizamos muito o WhatsApp, que tem sido nosso maior aliado nesse momento, pois criamos um canal de comunicação com as famílias”, afirma a coordenadora pedagógica Daiane Mariane Monte.
Ela conta que a troca constante entre famílias e professores tem permitido que as evidências de aprendizagem sejam coletadas e que os docentes possam replanejar suas ações. “O professor consegue ter uma ideia se a atividade está chegando e se as famílias estão compreendendo as propostas e repensar se está funcionando”.
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Algo semelhante acontece na Escola Municipal de Ensino Infantil (EMEI) Professora Idelena Menezes Trefilio de Carvalho, em São José dos Campos (SP), onde Brígida Aparecida Campbell Costa Mendes é coordenadora pedagógica. Por lá, ela conta que preza muito pela documentação das ações, o que facilita na hora de acompanhar as aprendizagens.
“Utilizamos o drive institucional, onde os professores organizam o material que recebem de cada criança em pastas e compartilham. As famílias enviam fotos, vídeos, relatos escritos e áudios”.
De acordo com ela, é importante ajudar o professor na organização da documentação pedagógica para possíveis devolutivas, pensando em um documento conectado e que sistematiza o que foi entregue para não deixar pontas soltas. “Assim, damos significado e destino ao que foi enviado pelas famílias e visibilidade ao processo”.
Devolutivas e relação de confiança com as famílias
Kátia diz que um ponto importante para o coordenador atuar na avaliação durante o ensino remoto é ajudar os professores a receber as devolutivas dos alunos. “Esse gestor precisa auxiliar o professor na coleta literal. Se a família enviou uma atividade, ela precisa chegar ao professor. Porque o que acontece, muitas vezes, é que as propostas vão e não voltam”.
Também cabe ao coordenador, segundo ela, ter certeza de que três ou mais evidências de cada aprendizagem estão sendo coletadas e se certificar de que as atividades enviadas são suficientemente claras para que os alunos ou a família as entendam.
Outro aspecto relevante é estabelecer uma relação de confiança com as famílias, sobretudo quando se trata de crianças pequenas que precisam dessa mediação. “Temos que ter um pacto de confiança com a família e acreditar que tudo aquilo que vamos colher foi feito pela criança e não pelos adultos”, opina Kátia.
“O coordenador também pode orientar e apoiar os professores no levantamento de percepções a partir do que as famílias enviam, lançando perguntas, interagindo com ele e pensando se as crianças e famílias estão tendo alguma dificuldade na realização e no registro das propostas”, complementa Brígida.
Se o ensino remoto está sendo feito de forma síncrona, ou seja, com encontros por chamadas de vídeo entre professores e alunos, a avaliação passa a ser um pouco mais fácil.
Neste caso, a coleta de evidências de aprendizagem é feita de forma bastante parecida com o ensino presencial, por meio das trocas verbais. Uma dica para os coordenadores pedagógicos é acompanhar as aulas online, utilizando uma pauta de observação, para posteriormente dar uma devolutiva para o professor, auxiliando-o também com ideias sobre a avaliação.
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Dinâmicas nas formações
Nas formações, vale a pena incentivar a troca de experiências entre os próprios professores. O que funciona em uma turma ou disciplina pode dar certo em outra também.
“É importante que o professor também desenvolva autonomia, proatividade, responsabilidade e trabalho em equipe. Para isso, a coordenação deve oportunizar espaços nas formações, utilizando metodologias ativas que possam contribuir com o desenvolvimento tanto da dimensão cognitiva quanto da socioemocional”, afirma Brígida.
Ela também destaca a necessidade de ouvir seus questionamentos. “Acolher as dúvidas, anseios e angústias do professor em relação à avaliação no ensino remoto por meio da escuta ativa abre a possibilidade de tecer diálogos para vencer os desafios.”
Assim como a avaliação dos alunos é um processo constante, o acompanhamento dos professores também deve ser contínuo. Depois de uma formação, é papel do coordenador pedagógico continuar a ajudar os docentes, tirando dúvidas pontuais e auxiliando na coleta de evidências de aprendizagem.
“É importante estabelecer essa parceria com os professores e planejar as ações sempre em conjunto. “É dessa forma que a gente constrói uma cultura avaliativa”, afirma Daiane.
Como preparar uma formação sobre avaliação no ensino remoto
Confira as dicas das coordenadoras pedagógicas que participaram desta reportagem
1. Esteja atento ao currículo da rede na qual a escola está inserida, utilizando as premissas propostas por ela.
2. Ouça as dúvidas dos seus professores. O que não puder ser resolvido particularmente pode se tornar pauta para uma formação.
3. Pesquise bons materiais de referência sobre o tema com base no foco que irá abordar com seus professores.
4. Prepare um material de apoio, que pode contar com textos e vídeos, por exemplo, e envie aos docentes antes da formação.
5. Aqueça a conversa. No encontro, faça uma abertura com alguma mídia: pode ser um vídeo, uma charge ou um podcast curto. A ideia é permitir que os professores entrem no tema e se abram à conversa.
6. Apresente o material que você planejou, expondo as ideias que pesquisou anteriormente.
7. Dê exemplos de caminhos possíveis para que os professores executem a avaliação no ensino remoto.
8. Dê espaço para boas práticas. Se um professor tem realizado um bom trabalho avaliativo ou documentativo, convide-o para expor suas ideias, que podem se tornar um modelo para os demais.
9. Abra momentos para trocas de experiências entre os docentes, a fim de que eles conversem sobre o que tem dado certo e o que não tem funcionado. Coletar ideias dos professores previamente por meio de formulários online também pode ser uma alternativa.
10. Ajude os professores a elaborarem devolutivas para enviar aos alunos ou às famílias a respeito das conquistas e desafios na realização das propostas em casa.
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