Continuum curricular, acolhimento e busca ativa: o foco do trabalho dos gestores escolares em 2021
Mozart Neves Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação, responde sete perguntas mais comuns sobre a Educação durante e pós-pandemia
POR: Mozart Neves RamosDar conta de um cenário inédito e desafiador imposto pela pandemia sem deixar de lado demandas que já estavam postas anteriormente, como a implementação da Base Nacional Comum Curricular, o novo Ensino Médio e as novas diretrizes de formação docente, essa é a missão dos gestores no segundo semestre de 2021. Mas, como fazer isso?
Separei as 7 perguntas que mais me fazem para te ajudar a pensar nos caminhos para superar os impactos da pandemia e avançar em importantes discussões na área da Educação:
- Teremos um contínuo curricular até 2022?
Sim, no Parecer 2/2021, o Conselho Nacional de Educação (CNE) já recomendou a integração dos próximos três semestres, isto é, até o final de 2022. Nesse cenário, é preciso planejar as atividades pensando no desenvolvimento das habilidades prioritárias para 2020 a 2022. Durante esse período, não devemos aumentar o número de conteúdos para dar conta de tudo, mas qualificar e focar naqueles que serão fundamentais para a progressão dos alunos.
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Além de ter um olhar integrado para o currículo durante esse período, a BNCC e as avaliações diagnósticas serão as grandes bússolas do trabalho docente. Dentro desse planejamento também devem ser levadas em consideração as ferramentas digitais e pensar no aluno de tempo integral, isto é, organizar as aprendizagens do estudante para que ele tenha o ensino presencial em um dos turnos e no contraturno ele estará de forma remota complementando as atividades propostas pela escola.
- Quais estratégias adotar para a busca ativa dos alunos?
Esse é um ponto muito importante, as redes devem pensar em estratégias e estímulos que chamem os jovens de volta para a escola. Só uma boa busca ativa não dará conta do desafio. Os jovens que estão nos Anos Finais ou no Ensino Médio, provavelmente, durante a pandemia começaram a trabalhar para levar uma renda extra para casa. Por isso, vejo com bons olhos ações como a da Secretaria Estadual de São Paulo que criou a Bolsa do Povo Educação, um incentivo financeiro de R$ 1 mil por ano para os estudantes permanecerem na escola. Outras redes também adotaram medidas de incentivo ao retorno às atividades presenciais.
- Por que o acolhimento é importante para a retomada presencial?
A pandemia deixou não apenas impactos na aprendizagem dos alunos, mas também problemas sociais e emocionais tanto na equipe docente, quanto entre os estudantes. Pensando nisso, o acolhimento será uma frente fundamental na volta às aulas. Nesse processo, muitas redes estão oferecendo, por exemplo, apoio psicológico para auxiliar aqueles que tiveram um maior impacto na qualidade de vida.
Esse acompanhamento socioemocional será muito importante, não apenas para superar os impactos deixados pela pandemia, mas também para fortalecer o desenvolvimento pleno dos estudantes, na perspectiva de uma educação integral.
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- Como apoiar os professores diante do cenário atual?
Para mim, o contexto híbrido é a oportunidade de testar diferentes arranjos e estratégias pedagógicas fazendo uso de recursos digitais. Mas para isso é preciso preparar os professores para essa nova perspectiva de trabalho. Diferente do ensino remoto que nos pegou de surpresa, agora as redes devem investir em recursos e formação digital dos seus educadores.
Outro ponto, é a questão do material pedagógico. Em 2020, utilizamos ou adaptamos livros que foram pensados para o presencial, porque era a única saída. Mas, agora, devemos nos preparar para ter materiais mais autoexplicativos, que possam ser utilizados quando o aluno está em sala com o professor ou quando está estudando em casa.
- No final de 2021, devemos manter a progressão continuada?
Em 2020, a orientação do CNE pela não reprovação estava muito relacionada com uma avaliação que fizemos na época de que a retenção seria a gota d’água para estourar um crescimento brusco do abandono escolar. Mesmo com todas as limitações e desafios do ensino remoto, ele foi importante para manter o vínculo do aluno com a escola. No Parecer nº 6/2021, indicamos que sejam revistos os critérios de promoção e retenção, pois entendemos que hoje estamos diante de outra realidade daquela que nos encontrávamos no ano passado.
- Qual é o papel dos gestores diante desse desafio?
Em um cenário desafiador, o diretor precisará ser um líder eficaz. Um bom maestro de uma orquestra que está precisando muito dessa liderança. Ele terá que equilibrar demandas administrativas e pedagógicas, apoiar as famílias e comunidade escolar, e articular todas as frentes para garantir uma retomada gradual e segura das atividades presenciais. Sob uma boa liderança, a escola conseguirá avançar na aprendizagem e reduzir o abandono escolar.
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- Os gestores estão sozinhos nesse desafio?
Não, claro que não, os gestores precisarão do apoio da secretaria de Educação para garantir os recursos e que as medidas de biossegurança não sejam descontinuadas. Além disso, a colaboração será fundamental para superar os desafios atuais. Sem uma articulação e comunicação entre estados e municípios e entre escolas, não será possível enfrentar os impactos da pandemia. É muito importante o trabalho colaborativo com as famílias - transparência e comunicação podem fazer toda a diferença. A colaboração, expresso pelo trabalho coletivo, envolvendo as famílias, é uma das peças fundamentais nesse retorno ao ensino presencial.
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